(Vol. III) Ano II p.e. ⎥ Todos os detalhes.

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Observei as minhas mãos limpas com certo alívio. Ter um lugar para dormir e viver com pelo menos o básico, como ter uma refeição, era a melhor recompensa que poderíamos ter depois de todos os desafios que tivemos que enfrentar até finalmente chegarmos ali.

— Eu tive que lidar com muitas merdas durante aqueles dias. As regras já haviam mudado para mim bem antes do mundo inteiro queimar. — Lembrei de um jeito sombrio ao franzir o meu cenho com aquela reflexão apurada. — Deve ser por isso que me acostumei tão rápido com as merdas que acontecem agora. — Ponderei com clareza ao perceber o pequeno detalhe.

— Eu acho que você está se saindo bem. — Ele respondeu de um jeito gentil com a sua voz um pouco mais macia enquanto acenava levemente com sua cabeça em concordância. Como um elogio velado e tímido. Aquilo acabou me fazendo rir abertamente praticamente encantada e surpresa com as suas ações.

— Estou me esforçando para não ferrar com tudo de novo. Obrigada! — Agradeci em tom de brincadeira enquanto um riso feliz ainda escapava dos meus pulmões e um sorriso agradecido brincava em meus lábios.

— Nós vamos começar a limpeza no campo gramado em frente ao prédio. — Daryl começou a explicar enquanto a sua voz tímida parecia conter um tratado de paz evidente. — Você não quer vir ajudar? — Convidou usando um tom rouco. — Você sabe, uma hora de banho de sol por dia. — Brincou como uma indireta sobre presidiários e eu acabei rindo novamente por sua piada tão sagaz.

— Ah, você é um cretino mesmo! — Briguei enquanto ainda ria de diversão por sua piada cheia de humor ácido, mas acabei me levantando daquele lugar e ficando de pé. Tendo todo o cuidado de beber cada gota expressiva daquele meio sorriso convidativo no canto dos lábios do caçador.

Acabei decidindo parar exatamente no batente da porta, assim como ele, e me virei em sua direção para observar melhor aqueles olhos claros iluminados pela luz do sol que entrava das altas janelas ao nosso lado.

A sua expressão relaxada, porém, cautelosa, parecia tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre as coisas que tínhamos com as coisas que ainda estavam por vir e, de certa forma, eu o entendia.

— Obrigada. — Agradeci de novo ao praticamente sussurrar quando a minha voz saiu fraca pelas emoções que consumiam o meu coração graças à forma como ele estava agindo.

— Pelo o que? — Daryl perguntou tentando manter aquele contato, mas não haviam dúvidas em seus olhos. Não havia qualquer indagação que merecesse respostas. Porque ele sabia aonde estávamos. Ele sabia o que eu queria dizer.

Por pelo menos tentar. — Apontei sucintamente ao me referir ao fato dele ser o primeiro a iniciar uma conversa banal essa manhã. E aquilo pareceu corroer toda a raiva do meu coração até que ela se transformasse em uma nuvem de poeira se dissipando através do ar em meus pulmões.

Me afastei do homem após lhe sorrir de maneira agradecida e continuei o meu caminho em direção as escadas que me levariam até o andar térreo e, consequentemente, até o pátio externo aonde os outros estariam.

Porém, antes acabei passando no quarto de Hershel para saber pessoalmente como ele estava. Encontrando Beth sentada ao lado do pai, segurando a sua mão enquanto o velho dormia tranquilamente.

— Como ele está? — Perguntei baixinho para que o homem não fosse acordado por minha presença.

— Está descansando. — Beth me respondeu sem me encarar enquanto eu me limitava a ficar na porta da cela os observando de longe. — Mas ele acordou, comeu um pouco e está bem melhor. — Explicou otimista.

— É um milagre, não é mesmo? — A lembrei da nossa conversa quando tudo pareceu desesperançoso.

A menina loira acabou virando os seus olhos claros em minha direção enquanto esboçava um pequeno sorriso confirmativo e agradecido. Eu lhe sorri de volta antes de me afastar dali e continuar o meu caminho para fora.

STING ● [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈] ● daryl dixon⼁The Walking Dead ●Where stories live. Discover now