(Vol. I) Memórias I│Dias de verão.

4.9K 444 226
                                    

Eu não costumava ter muitos sonhos desde quando todo aquele caos se iniciou

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Eu não costumava ter muitos sonhos desde quando todo aquele caos se iniciou. Na verdade, mal tínhamos tempo para dormir, quem dirá ter algum sonho. Porém haviam alguns momentos em que as memórias simplesmente vinham até mim. Às vezes dormindo, às vezes acordada.

A manhã havia surgido quente demais naqueles dias de verão. Algumas pessoas estavam aproveitando o sol para terminar alguns afazeres, como cortar a grama e estender roupas no varal. Outros apenas estavam sentados preguiçosamente em suas cadeiras de praia tomando uma cerveja gelada em um estacionamento lotado de trailers.

A maioria dos moradores não tinham grandes condições financeiras e viver em casas sobre rodas era a opção mais vantajosa. E eu era uma dessas pessoas. Lembro-me muito bem que não ter um limite aonde terminava o meu quintal e começava o quintal do vizinho me irritava profundamente nos meus tempos de adolescência. Principalmente por causa da privacidade. Mas tenho que admitir que naquela época aquilo me fascinava.

Lembro-me que naquela manhã as duas "maria-chiquinhas" que tentei fazer sozinha em meu cabelo estavam totalmente horríveis, mas eu estava muito orgulhosa de mim mesma. Afinal, eu só tinha seis anos. Meus tênis estavam surrados, mas serviam para brincar no pátio dos trailers. Eles me ajudavam a pular os degraus da nossa casa móvel e correr em direção ao trailer vizinho.

Aos fundos do nosso local havia mais um barracão velho de madeira que algumas pessoas chamavam de casa. Corri naquela direção e dei a volta nos entulhos até os fundos. Foi o suficiente para ver o menino alguns anos mais velho do que eu, extremamente pálido, magro e com cabelos loiros muito claros agachado e riscando o chão de terra com um pedaço de galho.

— Daryl! — Chamei entusiasmada enquanto passava por debaixo de um varal com cuidado. — Olhe só o que eu trouxe! — Mostrei o prato de porcelana em minhas mãos aonde tinha um sanduíche de geleia e pasta de amendoim. — Lauryn fez pra mim. — Avisei animada enquanto ficava sobre os joelhos ao seu lado. — É pra você! — Eu sorri.

O garoto levantou seus olhos azuis em minha direção e esfregou o nariz com a mão suja de terra. Nariz esse que estava levemente vermelho denunciando um possível choro recente, mas eu não tinha certeza naqueles dias de criança como eu tenho hoje.

Ele abriu um sorriso contido apertando seus lábios em linha e pegou o prato de minhas mãos antes de sentar e cruzar as pernas debaixo do corpo.

— O que está fazendo aqui fora? — Perguntei olhando os desenhos sem nexo que ele riscava na sujeira.

— Nada. — Respondeu com a voz abafada pela boca cheia. — Meu pai me falou pra esperar aqui fora. A mulher não gosta de mim. — Disse apenas e deu de ombros com suas bochechas cheias de pão. Eu deduzi que ele falava de alguma visita lá dentro.

— Olhe só o que eu ganhei! — Puxei de dentro do bolso traseiro do meu short jeans um pequeno tubo cilíndrico bem colorido. — Papai trouxe pra mim. Mamãe não deixou que ele entrasse em casa porque agora ele tem uma nova namorada de cabelo vermelho, mas ele me deu isso e disse que vai me buscar para irmos caçar no fim de semana. — Contei com um sorriso animado. — Você quer vir com a gente? — O convidei.

— Acho que o meu pai não vai deixar. — Respondeu de um jeito frustrado e sério.

— Eu peço pro meu pai pedir pra ele. — Respondi já acreditando que tudo daria certo. Ele sorriu com um fio de esperança.

— Ok! Mas o que é isso? — Daryl perguntou curioso por não entender o propósito do objeto em minhas mãos.

— Bolhas de sabão! — Respondi. — Você quer brincar? Eu deixo você soprar primeiro. — Barganhei enquanto o garoto limpava a boca no pulso e agarrava o objeto de forma animada.

Daryl soltou o prato no chão sem cuidado, se levantou rapidamente e começou a soprar a ponta da haste de plástico. Dezenas de pequenas bolhas caleidoscópicas começaram a ser expelidas após o tiro de oxigênio. As fazendo fervilhar pelo ar sem uma direção certa enquanto eu tentava caçá-las e estourá-las batendo as palmas das mãos sem deixar nenhuma escapar enquanto ríamos feito dois bobos. Essa era a nossa brincadeira.

Sinceramente? A coisa que mais sinto falta desses dias é da minha inocência.

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


STING ● [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈] ● daryl dixon⼁The Walking Dead ●Where stories live. Discover now