STING ● [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈] ● daryl dixon⼁The Walking Dead ●

(Vol. II) Ano I p.e.│ Nem sempre uma família.

Alcancei o meu carro e peguei a jaqueta de jeans que estava jogada sobre as malas para então vesti-la em meu corpo por culpa do frio da madrugada se alastrando pelo asfalto. Assim como também um pacote de biscoitos velhos que estavam guardados dentro de um cesto de plástico dentro da caçamba. Levei o saco comigo até a parte da frente e abri a porta do passageiro. Tomando o cuidado de não fazer muito barulho e sentar no banco de couro já puído.

Pensamentos conturbados e misturados com memórias esquecidas do passado se chocavam uns contra os outros dentro da minha mente. Fazendo um pequeno incômodo dentro do meu peito se tornar algo confuso entre uma dor física e sofrimento emocional.

Lembrei da carteira de motorista guardada no quebra-sol e voltei a pegá-la dali apenas para checá-la mais uma vez. Avaliei a foto de Anton me olhando mais uma vez e uma sensação muito ruim corroeu o meu coração como um tiro no escuro, me fazendo querer chorar. Por isso voltei a guardá-la no mesmo lugar e respirei fundo para tentar engolir o choro de volta até o fundo da minha alma.

— Droga de cigarrinho depressivo! — Debochei soltando um riso divertido no meio da escuridão ao jogar minha cabeça para trás e encostá-la no banco atrás de minhas costas.

Continuei encarando o teto da caminhonete tentando discutir com minha própria mente se seria possível trazer Sophia de volta ou não. Pois uma parte de mim dizia que era quase impossível, enquanto o meu lado mais otimista me afirmava que Rick e Daryl seriam os únicos capazes de tal feito. Era uma disputa acirrada dos dois lados da minha mente, já que eu não fazia ideia do que poderia ser o final daquilo.

Isso me fazia parar e refletir sobre o novo conceito de família nessa nova situação em que vivíamos. Como os laços tradicionais haviam sido destruídos e reformulados para algo mais urgente, mais seco e imediatista. Me ame hoje, meu amor, amanhã não estaremos mais vivos. Aquilo era tão surreal e confuso! Era como cavar um poço com as próprias unhas o mais rápido que você conseguisse.

Pessoas estavam se unindo como uma família simplesmente pelo único objetivo de sobrevivência e simbiose. Um casal perfeito e bastante conveniente. Aonde ficaria os verdadeiros sentimentos no meio de uma emergência? E aonde eu poderia ter a minha própria família quando nenhum local parecia seguro o suficiente? Aquilo sim me deixava atordoada.

Voltei o meu rosto para meu colo e agarrei o pacote de biscoitos o abrindo com agilidade. A fome corroía o meu estômago como um buraco profundo e eu tinha quase certeza que a cannabis tinha tudo a ver com isso. Principalmente porque aqueles biscoitos velhos e molengas pareciam a coisa mais deliciosa do mundo.

Notei a pequena movimentação em um dos lados do meio fio e logo algumas luzes de lanternas começaram a se aproximar lentamente, mostrando que os outros começavam a voltar para o principal ponto de encontro: o trailer. E eu os observava de longe enquanto tentava entender o que havia acontecido, se eles haviam conseguido alguma coisa e se Sophia estava com eles, porém tudo ainda estava um pouco escuro demais para perceber contra as lanternas.

Aos poucos os meus olhos acostumados com o escuro notaram a presença da silhueta conhecida que se aproximava com passos calmos e sistemáticos. Eu sabia muito bem que era Daryl, pois conhecia aquele andar e por notar a balestra apoiada em seu ombro como uma ferramenta estranha. E não demorou muito até que ele finalmente alcançasse a caminhonete aonde eu estava e começasse a procurar por alguma coisa na parte de trás da caçamba.

— Vocês encontraram Sophia? — Perguntei em um tom baixo e esperançoso, ainda sem me levantar do banco do passageiro ao observá-lo de perfil mexendo naquelas coisas. Para a minha infelicidade total, Daryl apenas balançou a cabeça em negativa e total silêncio. Mostrando o quanto aquilo o deixava frustrado. — Puta merda! — Xinguei desviando meus olhos para a floresta ao soltar a minha respiração cansada.