Minha Perdição

Epílogo 2. Outras vidas

É uma montanha-russa meio que rápida

E eu nunca soube que eu pudesse sentir tudo isso

E esse é o jeito que eu te amei

the way i loved you - taylor swift

Allison 6 anos depois do término.

solto um palavrão alto no microfone vendo o Marcus fazer uma volta completamente errada, o pódio era nosso hoje, mas pelos segundos de atraso dele perderíamos para o Di Luca. Observo pacientemente a corrida acabar enquanto tomo mais um gole do energético e vejo o olhar de Kev sobre mim. Ele virou o mecânico geral da equipe Solar, enquanto eu sigo sendo a pilota reserva a alguns anos.

Observo Marcus caminhar pacificamente até nós depois de ficar em terceiro lugar no grid. Todos nós sabíamos que ele tinha potencial suficiente para ganhar se quisesse, então porquê não quis? O puxo para dentro de uma sala apertada na garagem sem me importar o que vão pensar, a curiosidade está matando a gata aqui.

— Qual foi? E não minta para mim que errou a curva, pois nós dois sabemos que você queria perder.

— Sendo sincero tampinha? Vou me aposentar antes do fim da temporada. Tá tudo ficando demais e as corridas não tem mais a mesma importância que tinham quando eu tinha a sua idade.

— Você é só dez anos mais velho que eu, Marcus.

— Dez anos nesse meio é como se fosse trinta. Eu já tô casado e minha esposa tá grávida, a previsão do bebe chegar é antes do fim da temporada e eu não vou querer perder isso. Essa foi a penúltima corrida.

— Você fez uma estratégia, vão te criticar pelo desempenho nessa e junto aos rumores da aposentadoria no final da temporada aumentarão. Na próxima corrida você pega eles de surpresa e ganha o último pódio da carreira em grande estilo, o pódio decisivo para as finais.

— Aí você começa. Já falei com os grandões, vão te avisar ainda essa semana. Você tem potencial e é nova, vai ser o grande nome para as corridas do ano que vem. É por isso que quero sair mais cedo também, esse é o pior momento para um novato entrar e você vai mostrar pra eles terem medo no próximo ano.

— Algum conselho grandão? -pergunto sorrindo para ele, que sorri em resposta.

— O champanhe tem gosto melhor quando você segura o troféu de primeiro lugar.

7 anos depois do término.

Xingo alto no microfone, o desgraçado do Sullivan tinha ultrapassado na última curva, mas eu não deixaria assim então aproveito brecha de milímetros e passo entre ele e a parede fazendo os espectadores gritarem quando eu finalmente passo a linha de chegada.

Era meu segundo ano, o segundo ano no qual eu provei que sou mais do que um rostinho da Solar e sim uma corredora de verdade. A estreante com mais vitórias em um ano, segundo as manchetes do jornal.

E realmente o Marcus estava falando a verdade. Descer da minha moto rosa, pegar o troféu de primeiro lugar e depois tomar um banho de champanhe da minha equipe, era um ritual satisfatório a cada domingo.

Seguro o colar dourado na mão, respiro três vezes e abro o sorriso que estava tentando controlar para as câmeras na minha frente.

Josh 6 anos depois do término.

Me sinto nervoso, não é a primeira vez em anos que esse sentimento me invade. Depois da formatura segurando meu diploma de psicologia, no momento que decidi o colocar em prática de uma vez aplicando para o FBI, quando passei por todos os treinamentos básicos e enfim consegui a minha tão sonhada carreira.

Mas nenhuma delas embrulhou meu estômago tanto quanto agora. Observo as pessoas andando dentro do meu apartamento em Nova York. Minha mãe sorria enquanto tinha um coque na cabeça, ao lado dela estava seu novo namorado e meus amigos devidamente arrumados.

Minha namorada andava pela sala de estar, seu salto nude fazia barulhos quase imperceptíveis no chão enquanto o vestido verde de cetim a emoldurava como um quadro. Eu sou completamente apaixonado por essa mulher.

Natan comenta como vão as aulas na universidade que ele é professor, Kevin está fazendo uma demonstração quase gráfica de uma das corridas que ele estava presente, Érica gritava com alguém no telefone na varanda e eu tinha dó do pobre coitado, Rachel estava de braços dados com minha namorada enquanto elas conversavam com os amigos de faculdade das duas.

E ai ela me vê, os olhos castanhos escuros cobertos por um simples delineado ficam menores quando ela abre um sorriso mostrando todos os dentes na boca com um batom rosa claro para mim, o cabelo tão escuro que é quase preto está preso em um coque bagunçado no topo da cabeça deixando amostra os brincos com pequeno diamantes que comprei recentemente, e que combinaram perfeitamente com o anel que pesava em meu bolso.

Engulo o resto do champanhe e me dirigi ao meio da minha sala de estar, bato palmas até atrair a atenção de todos e quando eles olham para mim expectativa eu sei que é agora tarde do que nunca.

— Quatro anos em idade humana são mil quatrocentos e sessenta dias ao todo, em idade de cachorro isso dá 32 anos e incontáveis dias. Todos esses dias, a exatos um ano atrás, eu vivi um sonho. Quando fomos apresentados por Rachel, quando você prendeu chiclete no meu cabelo sem querer, quando dormimos tão tarde estudando que perdemos todas as provas que tínhamos nos matado para aprender o conteúdo. A primeira valsa ao som de Thunderstruck do AC/DC em uma festa no qual não lembro mais de quem era, pois tudo o que eu lembro é vc e seu sorriso brilhante manchado de batom vermelho. -faço uma pausa enquanto me aproximo delicadamente Elizabeth. — Tudo isso quer dizer, que eu te amo muito, e que eu amei esses quatro anos da nossa vida. Mas a minha intenção com a festa nunca foi comemorar o apartamento, e sim te fazer um pedido especial.

Tiro a caixinha do bolso só meu paletó enquanto me ajoelho, Liz cobre a boca com as mão não fazendo esconder o fato que estava chorando. Na caixinha tinha um pequeno anel feito de papel, já meio desgastado pelo tempo.

— Você me disse a alguns anos atrás, que casaria comigo com anéis de papel e me deu esse daqui, sei que gosta de coisas brilhantes, se aceitar eu te dou um desses. Mas agora, nesse momento, Elizabeth Miles, aceita se casar comigo com anéis de papel e tudo isso?

FIM