Capítulo 1

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Acordo sentindo alguém se sentar em minha cama e colocar a mão sobre minhas costas.

-Tá na hora de acordar, filha. -Abro um olho e vejo o relógio da mesa de cabeceira marcando sete horas da manhã. -Anda, ou você vai se atrasar pra faculdade.

-Eu não vou hoje, mãe. -Cubro a cabeça logo depois de falar e escuto sua risada leve. -Eu não vou hoje e não adianta tentar me tirar da cama.

-Seu pai não vai gostar de saber disso. -Ela se levanta e abre as cortinas escuras que bloqueavam a claridade de entrar no meu quarto.

-E qual foi a última vez que teve notícias dele? Eu nem sei quando foi a última vez que conversei com ele para ter ideia. -Me sento na cama e coço um de meus olhos e abro a boca de sono e ela vem em minha direção.

-Mas ele ainda é seu pai, mesmo que não tenha conversado com ele nos quatro últimos meses. -Ela beija minha testa e tenta ajeitar meu cabelo que estava uma bagunça. -Mas pensa pelo lado bom, pelo menos você fez amigos com esse novo trabalho dele.

-Sei que Natasha e Steve podem ser meus amigos, mas não sei se posso considerar o que ele faz um trabalho. -Me levanto e vou em direção ao banheiro para poder escovar os dentes e fazer minha higiene matinal.

Ao terminar, saio do banheiro e vou até o closet e troco de roupa e saio do quarto. Escuto barulho de talheres e vou em direção a sala de jantar e encontro minha mãe ali. Ela já estava com a roupa do trabalho e eu revirei os olhos.

-Por que está revirando os olhos? Pensei que tínhamos combinado de não fazer isso. -Ela questiona e eu sorrio sem mostrar os dentes, como resposta ela arqueia uma de suas sobrancelhas.

-Eu pensei que poderíamos passar o dia juntas já que eu não vou para a faculdade. -Digo e pego um pouco de café e coloco em minha xícara.

-Você não vai porque não quer, mas infelizmente eu preciso trabalhar. Desde que seu pai virou Dr. Estranho e agora ajuda a salvar o universo e sei lá mais o que, tenho de pagar as contas sozinha. Então preciso trabalhar. -Ela se levanta e deixa um beijo em minha testa e pega sua bolsa na poltrona que havia atrás de mim na sala e segue em direção a porta. -E quanto ao que você disse hoje mais cedo, seu pai é um "super herói" agora. Mas ainda sim é seu pai. -Ela faz aspas com a mão ao mencionar a atual ocupação do meu pai.

Assim que sai, eu me solto na cadeira em que estava e encosto a cabeça na mesa e suspiro. Por que é tão difícil ser filha de Christine Palmers e Stephen Strange?

Termino meu café e volto pro quarto para pegar meu celular. Me jogo em minha cama e desbloqueio o aparelho e vejo uma chamada perdida de minha amiga da faculdade. Estranho ela me ligar, deveria estar na faculdade a essa hora já. Resolvo retornar a ligação e a mesma atende no mesmo instante.

-Sei que seus pais são liberais e não se importam se você vai faltar, mas eu estava contando com sua presença aqui hoje na minha apresentação do TCC. -Droga, tinha esquecido que hoje era o dia dela apresentar.

-Olha, eu já tô saindo de casa para poder assistir sua apresentação, só espero que não esteja muito trânsito agora e que dê tempo de chegar ai. -Digo e me levanto correndo e pego meu tênis e calço enquanto saio do quarto e desço para a sala em busca da minha bolsa e das chaves do carro. No caminho o telefone quase cai e eu vou junto.

-Estou te esperando, e se não chegar aqui a tempo, vou te dar dois tapas na cara pra aprender a deixar de ser folgada. E de quebra não vou assistir a sua apresentação. -Ela diz e eu reviro os olhos e saio de casa e entro no carro o mais rápido que posso, ligo o mesmo e transfiro a chamada para o sistema do carro.

-Juro que vou tentar ir o mais rápido pra faculdade. Me desculpa, tinha me esquecido completamente que hoje era seu dia de apresentar. E de quebra, estou com raiva do meu pai. -Digo enquanto manobro o carro para sair do condomínio e pegar a avenida que me levaria ao centro de Nova Yorque.

-Novidade nenhuma, certo? -Escuto Layana dizer do outro lado e dar uma risada breve. -Ele não apareceu até agora?

-Não, e duvido que vá aparecer até o dia de minha formatura. Mas eu não me importo muito. -Ela meio que sabia sobre meu pai e sua ocupação, não iria esconder dela que meu pai era o guardião de sei lá o que, o mago supremo do universo e que não tinha mais tempo para a própria filha.

-Não posso julgar ele, deve ser difícil salvar o multiverso todo e ainda cuidar da vida pessoal.

-Você está do lado de quem? Dele ou da sua melhor amiga? -Pergunto enquanto paro o carro no sinal. -E se responder ele, eu juro que dou meia volta e não apareço na faculdade hoje.

-Eu só disse que é difícil ser super herói. Ainda mais nos dias de hoje. -A ligação fica muda por um tempo e eu arranco com o carro em direção a faculdade, mas pelo visto iria demorar mais do que eu pensei por causa do trânsito.

-Vou demorar um pouco pra chegar, parece que tem um acidente na avenida principal e eu vou ter de pegar o primeiro desvio que achar para chegar aí. -Digo e Layana responde do outro lado com apenas um murmúrio. -Tá passando mal?

-Ainda não, mas se não chegar em uma hora, juro que vou surtar e correr pra longe daquela maldita sala com aquela banca de examinadores. -Ela diz e escuto barulho de água, deve ser da pia do banheiro.

-Tu me levou pra dentro do banheiro por quê? -Indago e faço o desvio para a marginal da avenida e começo a passar por dentro do bairro mais próximo que me levaria a faculdade.

-Só vim lavar minhas mãos. Estou nervosa demais. Não sei se vou dar conta de apresentar.

-Ei, eu já estou chegando. Enquanto isso, vai respirando fundo e bebe água gelada para se acalmar. O caminho que peguei não tem trânsito, então devo chegar mais rápido. -Escuto ela respirar fundo e sorrio, ela estava nervosa e eu ficaria igual no dia de apresentar o meu trabalho final. -Você consegue, eu sei que consegue. Se não, eu não teria estudado com você a semana toda sobre sua tese, que cá entre nós, ficou melhor até que a minha.

-Só vem pra cá que eu vou ser a próxima logo. -Dito isso, ela desliga a chamada e eu piso no acelerador em direção a faculdade. 

What if it was real?Donde viven las historias. Descúbrelo ahora