Capítulo 59

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Quando entrei na produtora hoje, meu coração se partiu em mil pedaços. Ver todo o meu trabalho de anos, gerado com meu sangue e suor administrado por minha aprendiz, doeu no fundo da alma.

Não por que fui sua tutora ou porque tenha tido mais privilégios que eu para essa vitória. Nem pela carta de clientes que já deixei pronta ao seu sucesso ou até mesmo por ciúmes. Mas, sim. Pela forma que ela a tomou de mim. Como destruiu meus sonhos. Cavou minha sepultura e jogou lá dentro todos os meus projetos futuros. Enterrando de forma cruel, tudo pelo que batalhei anos à fio.

Ela manteve os mesmos funcionários. Tínhamos uma das melhores equipes do país e já diz o ditado que não se mexe em time que sempre ganha. Eles não sei por quê, não me receberam com alegria. Sorriram o suficiente para serem gentis e mantiveram a educação necessária a qualquer um que estivesse visitando o ambiente. Tavez, sentiam-se traídos por mim. 

Jamais abandonaria minha equipe se tivesse outra saida. Se Léo não fosse tão burro e contasse o seu segredinho de bosta a tempos atrás, poderia ter tomado outra atitude e enfrentado Ana. Só que não posso voltar atrás, dei minha palavra, tenho outros problemas e preciso daquele dinheiro para reconstruir minha vida. Quem sabe um dia, eles consigam me perdoar, entender os meus motivos e voltaremos todos a sermos amigos...

Ao contrário de mim, Léo teve outro tratamento por ali, as garotas abandonaram seus postos e se dispuseram a fazer todas as suas "vontades" que precisassem ser supridas. Ele era abraçado e até paparicado demais para meu gosto. Ainda sinto lá fundo aquela vontade de estrangular ele. Mesmo sabendo o quanto tem me ajudado nesse caso.

Aquele acidente foi trágico ao extremo. Sei que todos os dois têm pesadelos à noite com ele. Os traumas talvez, nem saiam mais de nossas mentes. Mas, pelo menos para ele,  serviu para aumentar sua lista de contatos femininos e a coleção de garotas que passaria por sua cama por enquanto.

— Léo, que bom que você já está bem!—Ana veio nos recepcionar. O abraçou forte e me deu um sorriso torto.— O que fazem por aqui?

Ela nem parecia mais aquela menina tola que me ajudava em tudo. Vestida com um Terninho de marca e com o cabelo preso com esmero num rabo de cavalo, já tinha assumido a pose de empresária de sucesso. Mesmo que a base desse sucesso não fosse ela quem o tivesse criado.

— Precisamos conversar...— Comecei sem rodeios.— E acho melhor que seja na sua sala...

Ana nos deu passagem, pediu que nos acomodássemos e sentou a nossa frente onde uma vez era meu lugar. Confesso que isso era bem desconfortável. Tinha uma Any sofrendo dentro de mim por todas as coisas que perdi nesses últimos meses. Até as mais banais machucavam e começava a me questionar, como seria daqui alguns dias quando começasse a me desfazer das sentimentais.

Ainda não limpei o armários de Chris. Não juntei os seus "trecos" para sua doação e muito menos as lembranças que não conseguiria levar para casa de Noah. E com esse pensamento, deixei uma lágrima fugir pelo canto dos olhos. Não dá para apagar o passado na vida da gente. Mas, o futuro exige uma nova postura. E infelizmente, ela pede mudanças drásticas...

— Então...—Ela nos sorriu.

— Sabemos da Mel... — Falei manso. Tentei enxugar minha lágrima disfarçando para que nem ela ou Léo percebessem o quanto estava me doendo estar ali.

— Mel? — se fez de desentendida.

— Melissa, Ana... — Léo continuou. — A garota que você não queria dividir comigo...

— E sentimos muito por ela...

— Você poderia ter me dito quem era a sua namorada, Ana!— Léo jogou as mãos ao alto em protesto. Quase não conseguia conter ódio que andava sentindo por ela. — Poderíamos nos divertir os três.— Deu a sua melhor risada sacana.

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now