Capítulo - 38☆

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As lágrimas que começaram singelas, agora eram torrentes que chegavam a provocar soluços. Nem na morte do irmão o vi derramar tantas lágrimas. Agora ali num gesto tão simples do dia a dia. Seu coração se comoveu ao ponto de liberar toda dor retida dentro de si até o momento.

-Calma, Léo... - acaricei seu cabelo devagar. Ele era um menino se sentindo sozinho no mundo.- Vai ficar tudo bem...

- Será?- resmungou entre uma fungada e outra no meu cangote.- Você vai ficar com o Noah, as crianças e eu, fico com quem?

- Você ainda tem a sua mãe... Sua irmã...- mesmo sabendo que eles não se dão bem, me corta o coração dizer que ficar sozinho pode ser sua única opção no momento.- Léo, não seja criança! Você pode arrumar uma namorada!

O trouxe a minha frente para encará-lo nos olhos. É óbvio que Noah não vai querer ele morando conosco. Mas, imaginar ele sozinho, me corta o coração. Sempre morou conosco e o irmão nunca conseguiu fazer com que voasse do "ninho".

- Nós vamos pensar em algo...- de súbito me veio uma ideia.- Quem sabe, você possa dividir um apartamento com o Samuel?

- Sam? - ele enxugou as lágrimas, ou pelo menos tentou.- Você tá maluca?

Eu dei uma risada. Sam e Léo são amigos de infância. Mas, eles tem um relacionamento de amor e ódio que chaga a ser cômico. Uma hora parecem até um casal, já que, tenha lá minhas dúvidas pela sexualidade do amigo do qual nunca vi com uma namorada. Outras estão a ponto de se matarem. Mas, acredito que num momento como esse, ele seria ótima opção até esse playboy mimado entender como o mundo real dos adultos funciona de verdade.

O abracei com extrema força. Ele escondeu o rosto no dorso do meu pescoço novamente e ali soluçava. Era uma dor verdadeira. Uma dor que brotava do fundo do peito movida pelos mais diversos sentimentos. Saudade, culpa por talvez não poder se desculpar, falar frases que precisavam ser ditas, assuntos talvez maus resolvidos.

Ou talvez, repetir para o irmão aquela frase que ele sempre gostava de lhe dizer. Três palavras que pareciam não conseguir de modo algum sair daquela boca de moleque dele...

"--- Repete Léo, é tão fácil...--- Às vezes Chris brincava com ele, principalmente em datas especiais.--- EU... TI... AMO!---Falava. --- Ninguém fica menos macho dizendo isso para seu irmão!"

O peito dele arfava e nesse momento, seu moleque interior colocava pra fora todo o sentimento retido pela perda do irmão. Quem sabe, lembrando-se das chances desperdiçadas de dizer o quanto também lhe amava.

Mesmo sempre o repreendendo como Noah fez com Marcos. Não era maldade naquele gesto, era simplesmente pura demonstração de amor verdadeiro. Não tinha uma única palavra em mente para lhe dizer para confortá-lo. E mesmo que tivesse, acredito que não aplacaria toda aquela dor. Deixo-o naquele meu abraço apertado até que se sinta à vontade para voltar ao mundo real. Tão cruel e mesquinho ao qual habitamos.

Por fim. Ele consegue se conter. Enxuga os olhos envergonhado, e eu lhe mostro onde fica o banheiro. Ele ainda me encara, olhos vermelhos e louco para dizer algo. Mas, as palavras não saem. Ele cobre a boca e vai afogar essa nova onda de emoção, na torrente de água fria da pia do banheiro.

Talvez, ele não quisesse perder mais as mesmas chances de dizer para alguém aquelas três palavras numa frase, porém, ainda era turrão o suficiente para não conseguir falar.

Por uns instantes, pensei seriamente em ir até lá, bater à porta e ver se ele estava bem. Já fazia um tempinho que tinha me deixado ali sozinha e meu coração estava preocupado com aquele moleque que parece nunca crescer. E quando pensei em levantar para tal fato o vi vindo em minha direção.

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now