Capítulo - 34☆

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Como era de se esperar, não ganhei um beijo de despedida, nem um olhar amistoso, muito menos um sorriso que demonstrasse um "confio plenamente em você". Meu coração partiu em mil pedaços, mesmo sabendo que isso aconteceria depois das descobertas feitas por Noah. Apenas acenei, assim que o carro foi saindo devagar e um olhar de "se cuida" foi me lançado.

Talvez, ele surte quando chegar em casa, esteja sozinho e pare em silêncio para relembrar cada coisa que falei. Cada detalhe, cada ferida que cutuquei e as dores que ressuscitei. Talvez, depois me ligue, cancele tudo e até me entregue às autoridades como principal suspeita de sequestro do seu filho.

Subi chorando, correndo, completamente destruída. Não é por que Noah concordou em me ajudar que vai me perdoar. Ainda tem o problema doque vamos fazer com o Marcos depois que resolvermos essa questão com Sheila. Ele é uma criança, um pequeno ser humano, que nós adultos inconsequentes estamos disputando como um objeto.

Tranco a porta do quarto e me jogo na cama tentando sufocar nos travesseiros meus gritos de protesto com minha falta de habilidade em negociação.

Me sinto uma megera, uma traidora, uma completa imbecil. Volto meu olhar para a tela do celular, as fotos das crianças sorrindo pra mim tão inocentemente, são facadas em meu peito. Quanta hipocrisia minha pensar que possa arrancá-las de um lar perfeito e obrigá-las a aceitar uma mãe que nunca viram na vida! Um ser ausente. Alheio a todas as dores e sofrimentos que a vida lhes causou. Alguém que os guardava em freezers?

Provavelmente, nunca mais possa olhar esse eletrodoméstico sem me sentir tão culpada como me sinto agora. Noah tem razão, como uma pessoa pode querer brigar na justiça pela guarda de uma criança, que se dependesse de mim e do pai delas, ainda estariam congeladas?

Se Chris ainda estivesse vivo, ele iria querer essas crianças? Deixar o dinheiro para elas, pode ter sido só um pedido de desculpas por terem nascido. Sido geradas em lares não tão bem afortunados quanto ele poderia dar e apaziguar a sua culpa pelo desleixo que tratou suas futuras proles.

Enxugo as lágrimas, pensando por que não estavam em internatos sofrendo maus tratos? Seria tão mais fácil! Claro que o remorso de ver eles sofrerem por tantos anos por uma vaidade minha, me acompanharia por toda a vida.

Porém, sou adulta. Sou uma mulher forte. Posso suportar. Quantas mentiras ditas pra mim mesmo! Não suporto meus pecados, não estou suportando minha vaidade corrompida e nem sequer estou sabendo lidar com relação ao pai delas, já que, a única ideia que vem em minha mente é processá-lo judicialmente pela guarda deles. Depois da nossa conversa, mesmo ele ainda demonstrando compreensão comigo, seja esta a única solução.

Uma batalha judicial que levaria talvez anos para se resolver. Seria um tal de troca troca de lares cheio de traumas que nunca seriam apagados. Ver Marcos tão agarrado a irmã, protegendo-a do mundo, não permitindo que ninguém a machuque física e sentimentalmente e depois pensar em separá-los?

Quanta dor isso provocaria nos irmãos? Óbvio que ele poderia vê-la sempre que quisesse. Mas, isso abrandaria a distância que se formaria entre os dois? A amizade que tem se manteria ainda com a mesma integridade?

Posso me sacrificar e ficar com o pai deles. Mais uma relação onde impera a desconfiança se sustentaria ao longo dos anos? Não que seja um sacrifício ter que viver ao lado de Noah. Ele é bonito, generoso, trabalhador e parece gostar muito de mim, porém...

Levanto e vou até o banheiro me afogar embaixo do chuveiro de roupa e tudo na água gelada. Isso parece ter virado uma rotina. Mas, elas abrandam a dor, escondem as lágrimas e evitam os olhos inchados...

--Any?! Você está ai?---Horas depois, já num segundo banho, esse em si, para tentar relaxar, a porta do banheiro se abre e me revela nua diante dos olhos de Leonardo no chuveiro, pouco antes do jantar combinado. ---Desculpe! ---Finge tapar os olhos do mesmo modo que fiz com ele quando o flagrei horas no chuveiro.

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now