Capítulo • 6 ☆

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A primeira página lida foi uma imensa lamúria de pedidos de desculpas e palavras de conforto que nem sequer prestei atenção. O envelope fechado era algo místico que nesse momento desviava totalmente meu foco. Por fim, a divisão...

--- Para Sofia, minha mãe, deixo a casa de campo ao qual habita e uma módica quantia que deverá suprir suas necessidades por longos anos.--- Dr Murillo pegou uma pasta e entregou a senhora de setenta anos, com ar soberbo londrino, os documentos referente ao imóvel e a conta bancária.--- Alguma dúvida em relação a isso?

Não. Nenhuma. Na verdade, apesar de odiar minha sogra, ela era mãe do amor da minha vida. Nada mais justo que ele providenciasse um final de vida confortável à ela. A módica quantia, exorbitante ao meu ver quando lida, libertava-me de ficar tendo que assisti-la de agora em diante. Foda-se! Tenho dinheiro extra no meu "caixa dois" que não me fará sentir falta daqueles milhares de dólares.

--- Ao meu irmão, Dr Leonardo, deixo meu escritório, o direito sobre processos em andamentos, contratos e ações sobre os mesmo, desde que vinte por cento dos lucros sejam repassados para minha doce Any....

----Protesto!!--- Bato a mão na mesa e levanto de rompante.--- Ele vai destruir todo esse patrimônio em menos de um ano!--- Quase grito. Isso sim era muito dinheiro a ser jogado fora! Anos de trabalho sendo colocados na mão de um inconsequente!

---Por favor, Any! Não seja imatura! Ele não me repassaria isso tudo se fosse um irresponsável!---Leonardo já se levanta e aceita a pasta oferecida pelo Dr Murillo.--- Depois, espere até o final da leitura para contestar alguma coisa!--- Dá um gritinho fresco de "yes!" pegando a pasta e já contabilizando a fortuna em mãos.

Leonardo não é uma pessoa má. Ou pelo menos até a morte do meu marido não levantava suspeitas de ser. É um bom advogado, trabalhava junto com Chris e ganharam várias causas importantes para o escritório trabalhando em equipe. O problema é sua paixão pelas mulheres. Ele ama todas e não tem o menor controle no que gasta mimando-as.

As bebidas, viagens, festas, também fazem parte do seu tempo livre. Penso o que faria com o dinheiro de caixa do escritório em suas mãos. Lamento com pesar pela decisão de Chris. Dr Murillo seria o mais indicado nesse quesito.

--- Dr Leonardo tem razão, isso é uma leitura dos desejos do seu falecido marido, caso não concorde com algum, pode contestar depois.---Dr Murillo tentou me acalmar. Dá pra ver sua insatisfação refletida no olhar. Anos a fio de dedicação para continuar como um mero empregado de um playboy.---Para Mary, minha irmã...--- Voltou um olhar furioso pra mim, demonstrando que não gostava do rumo que as coisas tomaram mas, que mantivesse a minha postura. Voltei a sentar.--- Deixo a casa onde vive, sendo impossibilitada sua venda e uma módica quantia em banco para o meu futuro sobrinho...

--- Protesto!!!--- Desta vez a patricinha de quase trinta e cinco anos ergueu-se da cadeira. A casa em questão não tem alto valor de mercado. O sobrinho não existe ainda, devido aos inúmeros divórcios que teve, talvez proteger seu futuro fosse algo que Chris quisesse para si e para a criança que por ventura fosse gerada naquele útero inconsequente.--- E se eu nunca tiver filhos?

--- Sobre isso, marcamos uma reunião particular para conversarmos sobre quais procedimentos serão tomados caso isso nunca venha acontecer.---Dr Murillo entregou-lhe as pastas e já passou ao próximo item. Não estava disposto a deixar brechas para mais discussões.

Minha tensão aumentou, quase vinte por cento dos bens já estavam definidos e de maneira não adequada a minha vontade, já que, de certa forma, trabalhamos juntos para erguer aquele patrimônio que está dividindo sem nunca ter me consultado. Sei que tenho direito a cinquenta por cento por lei. Mesmo assim, aquele envelope solitário começa a me embrulhar o estômago.

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now