Capítulo - 20☆

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O cheiro que vem do bife do restaurante é inebriante. O que faz com que concorde com a fome que sinto, que ali seja o lugar mais feliz dessa cidade nesse instante. Quando chego aos pés da escada e vejo todas aquelas pessoas povoando o salão enorme do restaurantedo hotel, penso em fugir para o meu quarto novamente. Mas, já é tarde...

--- Boa noite dona Any. Resolveu aceitar o convite do senhor Noah?--- Guido, o gerente vem até onde estou com um sorriso nos lábios já apontando a mesa onde Noah se encontra.

--- O quê? Não, não…---Tentei justificar a coincidência.--- É que o cheirinho da comida está maravilhoso e não resisti experimentar.--- Que estômago safado! Ele sentiu foi a presença do bonitão no restaurante, não a comida em questão.

---  Sabe dona Any, a dor do luto é algo sufocante, e se você se entregar a ela, vai se transformar num Noah da vida....--- Guido apontou a mesa reservada que ele escolheu. Mesmo quase escondida, dava pra ver o homem sentado nela, tentando afogar sua saudade no vinho à sua frente.

--- Espera, como sabe que....---Não lhe contei do ocorrido, os jornais daqui nem deram uma nota sobre o caso que aconteceu com meu marido, até porque, morrer num assalto é rotina de onde venho.

--- Dona Any, dona Any.... --- Ele tira um cartão do bolso e me entrega.--- Podemos morar onde o judas perdeu as botas, porém, temos Internet via satélite!--- Abriu um largo sorriso.--- Depois, a senhora tem marca na sua mão esquerda, do dedo que delata a aliança recém tirada. Então, ou é viuva a pouco tempo, ou separou-se a pouco tempo. Resolvi pesquisar qual das duas opções era.

--- "LA FONTANA 123"? Por favor, não comente nada para ninguém sobre...

Ele sorriu concordando e estendeu sua mão que peguei acanhada e o acompanhei pelo saguão. Paramos diante da mesa de Noah e com uma tossida dissimulada ele chamou sua atenção.

--- Achei essa ovelhinha desgarrada no meu estabelecimento....--- Piscou pra mim gentilmente.--- Ela parece estar desconfortável em jantar sozinha, posso pedir que lhe acompanhe?

Noah enxugou uma lágrima que aproveitou sua distração comigo para rolar sobre sua face. Levanta rápido e muda rapidamente seu semblante de triste para alegre e acolhedor,  mostrando a cadeira vazia para que me acomode.

---Claro! Será uma honra ter a sua companhia!--- É o sorriso mais lindo e verdadeiro que já vi. Contagia quem está à sua volta e apazigua qualquer sofrimento.

--- Eu não quero incomodar…--- Logo já estou sentada.

Quanto mais rápido jantar, mais rápido saio dessa armadilha. Percebo o quanto o faço feliz só por estar ali diante de si. Mesmo assim, tento não me envaidecer com tal situação.

--- Você não incomoda, Any! Como a luz da minha estrada poderia incomodar?--- me galanteia.

--- Por favor, Noah… --- Faz tempo que ninguém me galanteia dessa forma.  Meus clientes são na maioria mulheres e os poucos homens são conhecidos do meu marido e eles jamais correriam o risco de serem processados por ele.

---Tudo bem, Any? --- Noah percebe minha tristeza ao lembrar de Chris.

---.Sim, foi só uma saudosa lembrança… --- tentei sorrir.--- Me desculpe por hoje a tarde, não quis ser rude. Mas, são tantas coisas dando errado na minha vida que…

--- Nem lembro mais do que aconteceu de ruim entre nós. --- Noah pegou uma mão minha em cima da mesa e apertou delicadamente.

Foi um gesto corriqueiro. Banal. Mas, parece que umas borboletas se reviraram no meu estômago. Fingi acreditar que era só fome. Meu estômago guloso se rebelando impacientemente. Não aquela mesma fagulha que senti a vinte e tantos anos atrás quando Chris cruzou com  meu olhar naquele campus da escola.

Ao Acaso Do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora