Capítulo - 41☆

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Medo. É uma das palavras mais curtas que conheço com maior poder de manipulação sobre o corpo humano. Ele te paralisa, corta tua respiração, acelera teu coração, cega. Ali, nós três estamos completamente dominados por ela. Prensados contra uma parede com um pelotão de fuzilamento à nossa frente.

É visto que não temos chance de fuga. Não dá pra competir com armas de Sheila e muito menos se aventurar numa investida contra eles. Noah, ela pretende poupar. Deixou claro ter poder absoluto sobre ele. Vai usar as criancas, mantê-lo sob rédea curta e talvez até obrigá-lo a participar de seu reino macabro. Já que, de improviso, teve que se livrar do seu faxineiro.

Léo, ela quer como um troféu. Sabe que tem parte da herança, dinheiro e conhecimento que pode ajudar nos seus negócios futuros.

E eu...

Sou a pessoa que menos tem utilidade para ela. E por isso, não há coragem que te proteja nesse momento. As pernas fraquejam e seu orgulho foge te deixando à mercê do destino, e ele quer que você se humilhe, ajoelhe-se e implore pela vida. Sei que não sou tão covarde assim.

Mas, considero sinceramente essa possibilidade. Acredito que só nos filmes é que o herói morre sorrindo defendendo sua causa. A morte sorrindo na sua cara te prova, que ninguém está preparado para encará-la de frente.

--- Sheila, você não sabe o que está fazendo!--- Noah ainda tentava pôr um pouco de juízo na cabeça dela.--- Como vai ficar a Mary?

--- Como sempre ficou! Ao lado dos pestinhas!--- Dava pra ver o olhar ciumento dela sobre as crianças.--- Agora, chega de conversa! Larga a arma e vem aqui perto de mim!

---Vai Noah, você tem dois filhos! Nós... Bom... No momento temos só um ao outro...--- Léo se aproximou devagar de mim e segurou minha mão esquerda levantada em rendição.

Apertando-a, repassando pra mim, todo resquício de coragem que ainda lhe restava. Depositou em mim, aquele olhar carinhoso dele que deixa qualquer um culpado por metê-lo em confusão. Mas, que no fundo quer dizer que não vai abrir mão de te proteger.

Ele tem razão. Não temos ninguém esperando por nós em casa. O que nos sobrou agora, foi a última companhia um do outro.

--- Eu não... Posso... Any!--- Noah ainda resistia, olhava pra mim completamente perdido.

Procura em Léo uma solução urgente para essa enrascada que nos metemos. Mas, o que encontrou, foi um leve balançar negativo de cabeça que denota que estávamos perdidos e só um milagre nos salvaria.

Não pode se arriscar enfrentar aquela doida por causa de uma estranha que conheceu há alguns dias! Têm duas pequenas almas que precisam dele para se defenderem. E sabe que sem ele, Sheila pode fazer o que quiser com as crianças. E já prevê que não serão boas coisas devido ao ciúme que demonstrou e o ódio que tem delas.

Porém, me deixar ali a mercê da sorte, parte seu coração em milhares de pedaços. A dor estampada em seu olhar é cruel de se ver. Queria correr até ele e lhe dar um último beijo. Mas, sabia que isso poderia mudar as atitudes daquela louca e o ciúme acabasse falando mais alto, fazendo-a desistir de poupá-lo.

--- Vai Noah... Tá tudo bem...---Mesmo tremendo da cabeça aos pés, tento um sorriso incentivador. É óbvio que isso é aterrorizante.

Na verdade, por dentro o que quero é que ele me salve, como nos contos de fadas. Mesmo sabendo da impossibilidade desse fato. E ao seguir a ordem dela meu coração se despedaça mais um pouquinho. É uma despedida muito cruel vê-lo caminhando com lágrimas no olhar e um andar arrastado.

Noah se aproxima de Sheila devagar. Um dos seus capangas o pega pelo braço, o desarma e o trás mais afastado. Provavelmente, ela quer que ele veja todo o desfecho a seguir. Que guarde na memória o que ela é capaz de fazer se não a obedecer. Que saiba o quanto é cruel e mesquinha. E que a sua loucura não tem limites.

--- Então, gostoso? Vai ser coleira ou tiro na testa?--- Com a mão livre, ela aponta como se fosse a sua arma na direção de Leonardo. Finge atirar, assopra seu dedo e lhe dá um sorriso sacana.--- Eu prometo querido, vou cuidar bem de você!

--- Eu não acredito que vou dizer isso...---Léo aperta a minha mão com mais força ainda. Posso sentir o suor que brota de nervoso nela. Olha-me no fundo dos olhos e posso me ver refletida naquele mar verde...---Any, eu amo você! E eu nunca disse isso para ninguém! Você sabe disso! E amo com uma força tremenda que nem cabe dentro de mim e não sei por que às vezes dói tanto!

Me sorriu com aquele sorriso de menino que acorda apavorado com um pesadelo e percebe que foi só um sonho. É puro nervosismo e medo que sinto nele. Mesmo assim, está decidido a ficar ao lado da sua razão de viver. A otária aqui que ainda o trata como um pirralho e que nunca o veria como um homem.

Posso ver as lágrimas escorrendo devagar pelo seu rosto. E aposto. Queria que pelo menos ela lhe desse a chance de um último beijo.

--- E eu te amo any, como amiga, como mulher, e já que nunca vai rolar nada mesmo, até como uma irmã! E eu não vou te abandonar! Nem que isso custe a minha vida!--- me deu aquela piscadinha sapeca dele.

Por um momento, me senti a pior das criaturas. Eu sabia que ele vivia fazendo graça para cima de mim. Cantou-me diversas vezes, bajulou-me, socorreu-me e até me infernizou uma vida inteira.

Mas, que o seu amor por mim fosse tão grande, nunca suspeitei. Pressenti nosso fim diante daquelas palavras. Elas eram o presságio do naufrágio que as nossas vidas sofreriam. Vivi quase uma vida inteira ao lado daquele cara, julgando-o, culpando-o e até o condenando.

E agora, ele simplesmente me diz que sou o sol da vida dele? De momento quis lhe mandar para o inferno. Como pode me fazer morrer me sentindo tão culpada assim? É por minha causa que está ali.

Por ele a polícia é que estaria investigando o caso. É por minha teimosia que vai ser fuzilado. E pior, é por que me ama de verdade que não vai poupar a sua vida...

Queria ter algo bonito pra dizer. Mas, tudo que descobri hoje, roubou toda beleza que tinha dentro de mim. E de fato, o que poderia falar diante das palavras que me disse? Apenas sussurrei um "eu também te amo!" e ele sabia que era só um carinho de irmã...

--- Nem diante da morte, Any?--- Tentou sorrir.---Me faça morrer feliz, garota!

Ele fechou os olhos quando ouvimos a trava da arma dela ser liberada. Sheila já estava cansada desse nosso sentimentalismo. Léo escolheu o lado que queria ficar. Não tinha mais por que ficar se delongando por ali.

---Tá bom... Se você quer assim? É um desperdício... Mas, se ver minha irmã lá em cima, dê minhas lembranças à ela!

Sheila sibilava as palavras com ódio. Furiosa pelo moreno ter me escolhido como parceira até na hora da morte. Ela poderia usá-lo o quanto quisesse e depois ainda fazer um bom dinheiro com aquele rostinho bonito dele.

Fechei os olhos e enchi o peito de ar. Dei um adeus silencioso ao mundo em minha volta e tentei pelo menos afogar a covardia dentro de mim e morrer com um pingo de dignidade...

Ao Acaso Do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora