Capítulo -39☆

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Você pode fazer quantas aulas de tiro quiser. Mentir para si mesmo que está pronta para encarar qualquer guerra. Dizer-se na frente do espelho que tem coragem suficiente para encarar a morte. E que nada mais pode lhe intimidar nesse mundo. Mas, ter uma arma tão próxima ao seu corpo te deixa desconfortável. 

Principalmente, quando se tem consciência que todas aquelas aulas que fez foi por mero entretenimento e um conhecimento a mais para se algum dia precisar usá-la, fosse de uma forma justa e imparcial e como último recurso.

Não pretendo usá-la hoje. Mesmo já tendo uma previsão de como reage meu inimigo quando acuado. Por isso, estou com o coração na mão. Pulsando desesperado querendo voltar sozinho pra casa. 

Leonardo explica para Noah como deve se portar diante dos possíveis acontecimentos. E quando ele fala que não se responsabiliza por uma possível morte, meu sangue congela. Estou ciente que isso até pode acontecer. 

Mas, prefiro me iludir que seja só mais uma piada sua para amedrontar meu novo namorado.

Posso ter muito pecados para carregar nas costas, mas acredito que uma morte cuja tenha provocado propositadamente,  mesmo não sendo executada por mim, não consiga suportar. Por isso já temo antecipadamente pelos dois à minha frente. 

Eu os amo, não posso mais negar, cada um à sua maneira. Léo como irmão e Noah, quem sabe, como um novo companheiro. E cogitar perdê-los de uma forma brutal me apavora até a alma.  

Nesse momento, questiono meu coração imaginário na minha mão se ele realmente não tenha razão e o lógico seja enfiar os rabos entre as pernas e voltar correndo para casa.

Daí lembro-me de Chris, seu vago olhar no teto tentando entender aquela traição. Lembro-me também de um pequeno Marcos, perdido no mundo. 

Sozinho, sofrendo em mãos cruéis ou sendo escravizado e explorado de formas desumanas. Ou talvez, algum pequeno anjo com partes dele em seu corpo. Alguém que não teve chance de defesa, sem alguém para defendê-lo. 

Respiro fundo e de imediato visto minha armadura da justiça e decido que se preciso for, vou tentando acabar com esse terror custe o que custar.

As pessoas têm direito de escolher seus destinos, viver as suas pacatas vidas e no mínimo, ficarem com seus pais. E nada vai aplacar toda essa dor que sinto, pela falta, ausência e companhia do que me foi roubado, sabendo que fui incapaz de no mínimo tentar, tudo que pude para evitar mais disso num futuro...

Leonardo estacionou o carro interrompendo meu dilema pessoal, debaixo de uma figueira, fora da estrada principal, alguns metros antes do destino. Ele ficaria muito bem camuflado ali. Evitando que fôssemos descobertos por sua presença muito próxima da sede da fazenda. 

Descemos respirando o ar de poeira da estrada e percebendo que ali sim, poderia ser o esconderijo perfeito. Isolado, sem movimento e fora de alcance de olhares curiosos. Um lugar que se parecia com as inúmeras fazendas de gado leiteiro à sua volta. Um marco imperceptível.

Não dá pra negar. Mesmo Leonardo, que já participou de vários treinamentos com a própria polícia, transpira medo. Nenhum treinamento te prepara realmente para uma situação real como estamos vivendo. 

Ele avalia por alguns segundos a situação à nossa volta e por fim, talvez incentivado por Marcos, encarne o papel de herói do jogo.

Não somos burros. Léo abre o porta malas e nos entrega coletes à prova de balas e reforça que a nossa cabeça vai estar sempre na mira do inimigo. Não é o aviso mais incentivador de segurança, mas o que causa mais impacto em nossas mentes de nos protegermos o máximo possível e não relaxar na ilusão, de que com eles em nosso corpo, nada de ruim nos acontecerá. 

Ao Acaso Do DestinoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz