Capítulo • 7 ☆

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No elevador, as pessoas fogem da doida ensanguentada que aperta os botões freneticamente. Ana entra novamente comigo, tento empurrá-la para fora mas, a porta se fecha e a deixa trancada com a fúria em pessoa que sou.

--- Any, por favor, se contenha! Olhe seu estado!--- Aponta o sangue que pinga da mão cortada, as roupas sujas do mesmo e até as paredes do elevador.--- Deixa eu te ajudar!--- Tira o lenço do pescoço e o estende mostrando que tenciona amarrar o ferimento e extinguir o sangramento.

--- Ele tinha uma amante!---Berro cedendo ao curativo.--- Ele teve filhos com ela! E eu? O sonho de ser mãe que sufoquei por anos! Como fico nessa história? --- por um momento, o aço frio da parede do elevador serve de apoio ao meu corpo aplacando a minha dor. Deixo a cabeça pender para trás e choro incontrolável.

--- Você não deixou Murillo terminar de ler o testamento. Nem sabemos quem é essa mulher!--- Ana avalia o curativo improvisado em minha mão.

Quem é essa mulher? Não está óbvio quem ela seja? Meu Eu interior se remoe de ódio lembrando das vezes que adiei uma gravidez por um projeto novo dele.

--- Você ainda tem dúvidas?--- Pego ela pelo colarinho da camisa, se pudesse a queimava viva com meu olhar.--- Você é muito ingênua!

Tenciono dizer mais uma série de absurdos, porém a porta se abre e saio em disparada. Sei em quem vou descontar toda essa minha fúria. Talvez, depois, até consiga terminar de ouvir que fui iludida e enganada por Chris. Que no auge dos meus trinta e seis anos, fui privada de ser mãe por seus caprichos mas, que o bonitão todo pomposo deixou um legado com uma rameira.

Tiro Vicente pelo colarinho do carro no estacionamento. Ele até tenta me conter, mas um chute em suas partes baixas o faz desistir. Entro no carro e quando vou dar a partida, Ana invade o banco do caroneiro e bate à porta. Mais uma vez a pequena está trancada comigo.

--- Onde pensa que vai? Você não está bem, precisa de um médico!--- Tenta evitar que saia dirigindo tentando roubar as chaves. Impeço ela dessa tarefa.

---Desça do carro!---- Falo insanamente. --- Desça!--- Como ela não se mexe do lugar, acelerei em direção a rua.

Agora é tarde para que desista. Ana sabe disso e coloca o cinto ao ver que estou cega de fúria também na direção. Se agarra ao banco temendo que seja seu último passeio de carro e que nem vai poder desfrutar de Lucy. Talvez, isso me renda uma internação em alguma clínica psiquiátrica. Não ligo, preciso acertar as contas com Chris!

---Você vai nos matar!--- Grita quando faço a curva por cima da calçada, muito próximo a um poste e faço vários pedestres se abrigarem de forma perigosa.

--- Não mandei você vir comigo!--- Passo o sinal fechado. Quase provocando um acidente e acelerei ainda mais o carro.

Por um momento, tenho pena de Ana, ela não merece passar por isso. Mas, o sentimento desaparece quando sete quadras a frente paro diante do portão do cemitério, abandono o carro e entro pelo portão central com mesma intensidade do furacão que destruiu o escritório de Chris. Pego uma picareta abandonada por ali, encostada em uma mureta e vou a passos firmes mostrar ao meu amor meu lado mulher traída.

Ana provavelmente alertou os seguranças. Tenho que correr deles para que não me alcancem. Cheguei à capela com uma pequena margem de vantagem e não a desperdicei. Ergo a picareta o mais alto que posso e desfiro um golpe na placa de mármore. O som ecoa pelo cemitério vazio...

---Seu hipócrita! Imbecil! Eu não era boa para ser mãe dos seus filhos?!--- A placa quebra ao meio no segundo golpe. Os cacos caem ao chão e continuo a minha saga agora no concreto.--- Seu filho da puta!

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now