𝟐.𝟒 - 𝐉𝐚 𝐓𝐞 𝐋𝐚𝐢𝐬𝐬𝐞𝐫𝐚𝐢 𝐃𝐞𝐬 𝐌𝐨𝐭𝐬

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Ela sente algo a mais em seu bolso, e quando estende suas mãos para ver, percebe ser o colar de Sophia. O Sol.

- Sol, Lua e Pizza, hm? - sorri de leve - Agora são só Lua e Pizza.

Suspira por um momento, e se afasta da árvore. Marcando uma assinatura também, não delicada como a de Sophia, estava mais como uma pichação de uma pequena delinquente. Como Daryl a chamava.

E lá, realiza sua pequena escritura.

[ Sol e Lua ]

Ela se afasta observando a árvore de longe, e põe sua mochila verde nas costas. Segurando suas correias com força, ela se vira.

E por fim, consegue deixar aquele lugar.

Kenny faz um nó em um tronco de uma árvore fina, e depois um nó em si. Ela decidiu olhar ao redor e decorar todos os caminhos, e tentar se lembrar de onde havia vindo.

E assim fez. Deu voltas e voltas. Uma, duas, seis vezes, e outras mais.

Mas ela não se lembrava. Não conseguia lembrar. Por mais concentrada que ela pudesse estar, estava sendo impossível. Em sua mente, tudo que continha era Sophia, Sophia e Sophia. Nada além disso. Ela não conseguia pensar. Não conseguia ser racional. Não conseguia deixar de ver a imagem da garota em cada esquina. Era como sonhar acordado, mas dessa vez, estava pesa em um pesadelo.

E então, ela parou.

Se sentou em uma pedra. E enquanto amaciava suas têmporas com os dedos. Ela respirava fundo diversas vezes. Tentando lidar com a situação. Ela tinha certeza que acordaria morta, já havia até se conformado com a possibilidade. Mas, para sua surpresa, acordou viva. E sozinha.

Era muita informação pra digerir em um tão pouco período de tempo.

Nunca havia sido enganada de tal maneira. Traída de tal maneira. E ainda sim, não conseguia sentir 1% de raiva de Sophia. A morena pensou, e chegou a conclusão que faria exatamente o mesmo no lugar da loira. Então, seria hipocrisia ficar com rancor da loira.

Mentir para proteger aqueles que ama, hm. Certamente Kenny já pensou sobre isso antes. Mais de uma vez.

Matutava em sua mente a existência de grupos de busca para elas. Ou se apenas foram deixadas à floresta. Sozinhas. Para sempre.

Nunca mais veria Eliot, Riggs, Carl. Nem sequer poderia xingar Glenn por não arrumar o papel higiênico na papeleira. Nunca mais ouvir sua mãe gritar com ela, e nunca mais atirar facas na arvore com Shane. Ainda mais, nunca poder zoar com Daryl denovo. Chamar ele de catinguento ou coisas do tipo.

E quando um misto absurdo de pensamentos moribundos se acumula, finalmente ela se permitiu chorar.

Ela já estava farta de perder pessoas. Farta de estar sempre sozinha no final. Farta de sentir essa dor. Farta de ter uma incerteza constante sobre como seria sua vida.

Aos poucos, ela sentia que a cada dia que se passava, a cada pessoa que ela perdia, mais uma parte dela se perdia junto.

E talvez, nesse ritmo, ela não aguentaria mais. Se continuasse dessa maneira, no final, só restaria mais um ser vazio. O mesmo que um irracional. Restaria apenas o desejo de sobreviver. Ou talvez, nem isso. Talvez apenas a obrigação. Obrigação de estar viva para não magoar aqueles que ama. Mas se ela tinha essa obrigação, porque outros não tinham? Por que os outros não lutavam com unhas e dentes para sobreviver? Por que ela deveria se importar com a dor que causava para os outros, sendo que eles morriam e a deixavam sozinha?

𝐂𝐇𝐀𝐌𝐁𝐄𝐑 𝐎𝐅 𝐑𝐄𝐅𝐋𝐄𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍 - 𝐓𝐖𝐃Where stories live. Discover now