𝟏.𝟔 - 𝐁𝐎𝐘𝐒 𝐃𝐎𝐍'𝐓 𝐂𝐑𝐘

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- Não importa as opiniões de vocês, precisamos desses recursos, e ponto final.

Sem outra opção, fazemos o que ela manda e entramos no carro.

— O que você vai fazer moça?! — o homem por debaixo das rodas pergunta e ela apenas sorri para ele.

— Fique tranquilo — entra no banco do motorista, em seguida vendo a chave no lugar, gira duas vezes, ligando o carro — Vamos tirar você daí — diz começando a dar ré.

A medida que o carro ia para trás, era possível ouvir os ossos daquele homem sendo destroçados. Me forço a olhar pela janela e vejo o rastro de sangue e parte de seu pé separado de seu corpo. O que quase me faz vomitar, desviando o olhar instantaneamente. E ele gritava, gritava muito.

— Como iremos ajudar ele nesse estado? — pergunta Eliot.

— Nós não vamos — diz desviando do homem e seguindo em frente à estrada. Tudo que ouço é o homem gritar por ajuda e perguntar por que haviamos feito aquilo com ele.

— Por que você fez isso?! — Riggs pergunta, furioso.

— Ele só é um peso morto, não sobreviveria nem dois dias, ainda mais sem aquela perna.

— Mas você enganou ele!

- Riggs, se acalma... - tento puxar ele pra perto.

— O mundo é dos espertos, Riggs. Aprendam uma coisa, se vocês continuarem ingênuos assim, vocês serão deixados pra trás.

Passamos a noite toda, e grande parte da madrugada na estrada. Não há muito sobre o que relatar, já que na maior parte do tempo eu estava caindo no sono, ou qualquer coisa do gênero. As vezes, o curativo -improvisado com ataduras velhas e algodão- não eram suficiente e o sangramento constantemente voltada. Pelo menos não doía, Riggs acreditava que era a adrenalina ainda presente no meu corpo.

Falando em Riggs, ele não estava pra lá de muito bem. A perda de Joe era recente, e por mais forte que ele tentasse ser, perder a própria mãe e não ter tempo nem de lidar com o luto consegue afetar qualquer um. Até mesmo o Riggs.

Estávamos cada vez mais por nos aproximar da cidade, até víamos sua silhueta no horizonte. Não parecia ser um centro de refugiados. Muito menos  existir qualquer vestígio de auxílio ou até mesmo helicópteros sobrevoando por perto. Mas afinal, por que estávamos acreditando no governo, sendo que o mesmo estava tentando nos matar até ontem? Era burrice!

Quanto mais nos aproximávamos, mais carros e vestígios mortais ou de ex acampamentos eram vistos, dissipando mais e mais nosso pequeno -quase inexistente agora- vestígio de esperança.

— Merda! — reclama Aliss, socando o volante — Essa cidade já foi pro lixo.

— E agora? — pergunta Riggs.

— O jeito é... — ela para de falar ao ver um menino de boné correndo — Que merda, um canibal! Se abaixem! - ela faz um sinal com a mão para que nos abaixassemos, e assim fazemos.

— Quem é ele? — pergunto.

— Como eu vou saber? — diz diminuindo a velocidade do carro - Ele tá correndo, aqueles canibais não correram antes.

- Será que é alguém? Tipo, alguém vivo? - Elliot pergunta.

Observando através da janela, era possível ver o  menino que corria mais e mais, e não parecia ter reparado nossa presença até então. Com o carro parado, estávamos imperceptíveis em meio aos outros veículos fantasmas. Bom, isso, antes do Riggs abrir a janela sem querer.

𝐂𝐇𝐀𝐌𝐁𝐄𝐑 𝐎𝐅 𝐑𝐄𝐅𝐋𝐄𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍 - 𝐓𝐖𝐃Onde histórias criam vida. Descubra agora