Capítulo • 2

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Depois de hoje, entendi perfeitamente a dificuldade de Moisés em atravessar o mar vermelho com seu povo. Os policiais ao meu lado eram meus cajados abrindo caminho em meio a multidão tumultuada. Esta em questão, pareciam as famosas ondas engolidoras de humanos à nossa volta. Berravam perguntas de formas insanas que não conseguia entender, nem mesmo sequer raciocinar direito uma resposta, pois nem sequer havia cogitado tais hipóteses apresentadas.

Era uma travessia estupidamente curta. Acredito que seja de uns dez metros. Pois a minha Ranger Rover estava estacionada do outro lado da rua. Um pé cá, outro lá, diria Chris.

Porém, era épico o grau de dificuldade de cumprir tão curto percurso. Quase perdi Ana pelo caminho, quando a seguraram pela sua roupa. Voltei meu corpo rapidamente e a resgatei antes que os repórteres a afogassem de perguntas.

Agradeci minha altura pela primeira vez na vida, já que senão fosse a girafa aqui, a pequena seria pisoteada e descartada em qualquer bueiro. Fiquei feliz também pelas aulas que Chris me fez fazer de musculação ou não teria forças para puxá-la à minha frente e conduzi-la com segurança até o carro.

No meio de tanto empurra empurra, distribui cotoveladas e até merecidos tabefes em microfones que eram colocados em minha frente. Agradeci de novo pelos óculos escuros, pois os flashes das inúmeras fotos tiradas sem minha permissão do meu luto, estavam me cegando.

Abri a porta do carro, empurrei Ana com certa força pra dentro e mergulhei logo em seguida batendo-a com força, quase trancando a mão de um abelhudo que tentava me impedir de fechá-la.

Fim do alvoroço. Os gritos eram agora palavras desconexas sufocadas pelos vidros fechados. Vicente, assim que percebeu nossa presença ali dentro, acelerou desconsiderando a possibilidade de atropelar meia dúzia de idiotas pelo caminho mas, não eram tão estúpidos assim e lhe deram passagem.

Depois de três quarteirões, aquelas perguntas de lá de trás começaram a se organizar em minha mente e o meu EU interior as refazia no papel de repórter.

Foi realmente um assalto? Vingança? Acerto de contas? Onde eu estava no momento do fato ocorrido?

Minha risada alta ecoou pelo carro fazendo Vicente e Ana me olharem assustados. Reagir histéricamente parece ser o meu ato de protesto ao universo ultimamente. Parei de imediato e pedi desculpas, mesmo sabendo que isso era desnecessário.

Os olhos experientes de Vicente pelo retrovisor reprovaram meu comportamento. Deve ser difícil um homem de meia idade e tantos anos de matrimônio entender a mente de uma recém viúva de trinta e seis anos.

Louca, deve ser o adjetivo que está atribuindo a minha risada explosiva. Funguei o nariz enguliendo as lágrimas mais uma vez e tentando me atentar a paisagem lá fora pelo vidro. Resguardar a dor, é tarefa difícil.

--- Você está bem?--- Ana questiona. É lógico que não estou mas, simplesmente acenei com a cabeça que sim.

O silêncio impera pelo curto trajeto e quando chegamos em casa, desço apressada, com os sapatos na mão, correndo desesperada pelo gramado do "castelo de princesa" que Christopher um dia comprou para nós.

Nossa casa é enorme, cheia de ornamentos caros e vazia de nossas vidas ocupadas pelo trabalho. Uma conquista dos longos anos presos em escritórios e reuniões.

Quase atropelo Lourdes na entrada, sem dar importância ao que ela tentava me dizer. Subo a escada correndo e vou direto ao meu quarto. Assim que entrei, tranquei a porta, fui jogando para todos os lados as roupas que estava usando e no banheiro já coloquei a banheira pra encher.

Ao Acaso Do DestinoWhere stories live. Discover now