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O Todo é tão irrelevante quanto a minha existência. Por que fazemos o que fazemos se um dia morreremos? Apenas por um legado, para ser lembrado? Pode me chamar de egocêntrica se quiser, mais a minha opinião jamais mudara. É assim que eu me sinto, afinal vamos todos morrer um dia mesmo, então que a minha mera existência faça sentido, me trazendo sorrisos mecanicamente verdadeiros.

Desde aquele fatídico dia, no qual o departamento do dr. Albert Hanks, nos pegou de surpresa. Eu estava lá em cima, no meu quarto. Não vira muitas coisas, apenas da janela, o ultimo retrato de meu pai entrando naquele carro prata; fora designado para um serviço de entrega, mesmo após termos quitado a dívida. Mamãe evita falar no assunto e eu fico com uma série de dúvidas na cabeça, sem se quer uma resposta.

– Não importa os registrosque perdemos meu amor, e sim o que faremos de agora em diante. – Sua mão levementeapoiada em meu ombro e seu sorriso ao rosto, como sempre. – Sabe por que nãopodemos voltar ao passado? – Meu pai perguntou-me certa vez em uma de nossasidas ao cais. – Se pudéssemos voltar, certamente mudaríamos o passado doloroso.– Seria bom não é mesmo; um passado sem dor? – assinto com a cabeça emconfirmação. – Mas, se não tivéssemos a dor do passado, não seriamos ninguémalém de meros seres caindo sempre nos mesmos erros, pedindo perdão para errar diferente.

– É muito simples falar. Quando se tem dor, só o que vem à mente é uma forma de ameniza-la. Faze-la sumir é tudo o que queremos. – Seu sorriso era lindo, um brilho sem igual, e quando olhávamos juntos para o mar que era infinito aos meus pequenos olhos. Eu me sentia infinita também.

– Ser humano é sentir. Você não precisa ter pressa para entender isso. O destino; – Ele inspira profundo, em direção ao largo horizonte – Ele lhe dá notícia no momento certo. – Era fácil demais acreditar em um destino bondoso com meu pai ao meu lado. Sem ele ao meu lado meus olhos se perdiam bem ali, no infinito que o mar possuía, agora eu corria em busca da sensação de estar viva que escapava de minhas mãos.

Eu estava no cais, mas, não estava necessariamente na ponte como fazia com ele. Eu me encontrava a nove metros do chão, em uma espécie de comboios empilhados prestes a serem transportados de balsa para a outra margem de Alter dourado. O som de partida da balsa me fez despertar do meu transe e escutar a voz de um homem, baixo e adiposo.

– Ei – ele aperta os passosem minha direção. – O que pensa que está fazendo, desça agora mesmo daí! – Eleordena sério, mais não havia possibilidades de levar aqueleuniforme de marujo a sério. O ignoro totalmente, voltando minha atenção para omar, eu estava correndo frenética e cuidadosamente em direção ao mar sem ouviras palavras do projeto de marinheiro, sentia apenas a brisa contra meu rosto ea sensação de estar viva fluindo pelo meu corpo. Em um salto eu estava no fundodo mar, imersa pela súbita água que congelava todo o meu corpo, um sorrisobrotou em minha face. Eu estava viva. 

ESTAÇÃO 16Donde viven las historias. Descúbrelo ahora