19 | o ato de se salvar

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GRACE

(...)

O nervosismo latente corria dentro de mim enquanto o jantar era servido por Edwin e Veronica. Eu não podia comer, pois acabaria dormindo.

Mas como Edwin e Veronica também não comeriam, eu tinha que pensar em como escapar deles.

- Não vai comer, Grace? - Veronica perguntou a mim.

- Estou sem fome. - Falei, esperando que minha voz não vacilasse devido a minha ansiedade.

- Deve ser pelas rosquinhas que comeu! - Veronica comentou, mas o olhar atravessado de Edwin para ela, a calou subitamente. Ela não podia falar enquanto servia seus patrões. E isso era extremamente incômodo pra mim. Muito.

Victor estava estranhamente pensativo. Silencioso. Parecia estar longe daqui. Sua maldade presa em outro lugar. Ou em outra pessoa que não eu.

Quando terminaram de servir, se retiraram, Vincent e Victor comiam em silêncio, entre eles não parecia desconfortável, era costumeiro, mas eu estava tentando parecer neutra perante o que ia fazer. O que fiz.

Espero que senhora Gia, tenha conseguido como ela mesma disse "se livrar dos homens de Victor" que fazem a segurança do lado de fora.

- Grace, a comida está uma delicia, deveria experimentar. - Vincent disse, tomando seu caldo verde. Me desculpe por isso, Vincent. Você foi realmente bom comigo aqui.

- Ela talvez tenha motivos para não ter fome. - Victor disse, me olhando com malícia, pois hoje era a data limite. Hoje. Eu tinha que escolher entre me tornar sua amante de bom grado ou apenas aceitar que ele me trancasse de volta e fizesse de mim o que quisesse. Victor tinha uma forma abstrata de ver as coisas, ele gostava de jogos, de manipular as pessoas. Como quando ele dizia que eu deveria escolher me casar, mesmo sabendo que em algum momento eu seria obrigada. Ele dava a falsa sensação de liberdade a pessoa, como se isso fosse tirar uma culpa de seus ombros. Eu sentia pena dele.

Como deve estar a cabeça de um homem para obrigar uma mulher que não o quer a ficar ao seu lado?

Isso é muito triste.

E terrível.

- Obrigada, Vincent. Mas realmente não estou com fome, tenho meus motivos sim. - Falei olhando grata pra Vincent, tentando ignorar o que Victor disse e parecer menos tensa. Mas minhas mãos estavam suadas, as sequei passando a mão na saia do vestido. Este era leve, não atrapalharia minha locomoção, pois causaria estranhamento se eu vestisse calças se não fosse para andar a cavalo ou algo do gênero. Mulheres não podiam usar calças assim, muito menos no jantar. Eu jamais vesti uma na vida, digo, apenas as de meu pai para ver como era, mas ele nunca soube disso.

Com o seguir do jantar, eles logo acabaram o caldo, comecei a notar, Victor apoiar a cabeça na mão e piscar, seus olhos estavam pesando: estava fazendo efeito. Vincent não parecia diferente, e em poucos instantes, mas que pareceram passar lentamente enquanto eu os avaliava, Vincent simplesmente se encostou na cadeira murmurando "estou morrendo de sono" e adormeceu com a boca entre-aberta.

E sem aviso prévio, Victor que foi olhar o irmão, foi vencido pendendo pra frente e caindo de cara em sua salada de brócolis gerando um baque na mesa. Me levantei as pressas, o coração batendo com força no meu peito.

Dei a volta na mesa as pressas, e depositei um beijo na bochecha de Vincent, de uma forma muito estranha, tinha me afeiçoado ao garoto. Ele foi o único aqui que se preocupou.

A passos lentos e silenciosos caminhei rumo a cozinha, podendo ouvir Edwin dando ordens duras a Veronica sobre como posicionar as sobremesas nas bandejas.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now