10 | uma noiva em fuga

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G R A C E

Eu poderia dizer que foi fácil escapar pelo janela no segundo seguinte que fui trancada no quarto. Mas eu estaria mentindo, Grazielle logo entrou ali, me dando broncas, e claro, ficou de olho em mim. As horas definitivamente correram, me deixando cada vez mais aflita e angustiada, com minha pele e tudo mais, sendo cuidado pela minha irmã que não parava de falar de como uma esposa de um homem importante como Victor deveria se portar.

No fim da tarde, estava eu vestida de noiva, maquiada e pronta para me casar. Ela disse que eu estava linda pela primeira vez, mas eu não me sentia assim.

Grazielle então, finalmente saiu do quarto para arrumar a si própria para o casamento, já meu pai havia ido até em casa para se trocar também.

Era a minha única deixa.

Céus! Eu sei que é uma loucura, que seria mais fácil me casar e acabar com tudo isso. Mas eu tinha que confiar na minha intuição.

E tudo em mim gritava: não.

Peguei as moedas em um saquinho, não daria tempo de calçar minhas botas e não usaria salto, mas agradeci aos céus por meu vestido não ser volumoso e a janela não ser pequena. Tentando fazer o maior silêncio possível, subi na cama, descalça, me sentei no apoio da janela e pulei para o outro lado, no jardim de trás.

Olhei para a rua: vazia.

Então me pus a correr pela grama, olhei para trás brevemente para ver se alguem estava me vendo.

Parei em torpor, vendo Ian, meu cunhado, da janela no segundo andar, assistindo minha fuga.

Olhei para ele.

E para sua mão.

Ela fazia um sinal que dizia "vá". Eu só sorri agradecida. Ele não sorriu de volta, mas sua expressão era de pena. Sempre pena. E o que fiz foi correr, corri muito.

Passei por todo o intermediário, evitei passar perto das ruas principais quando entrei na Vila. Meus pés e joelhos doiam, mas não parei, mesmo ouvindo burburinhos quando eu passava pelas pessoas.

Eu não parei.

Meu penteado se desfez em algum momento e o vestido sujou suas bainhas. Quem se importava? Eu não.

Não parei até passar pela ponte do rio das lavas.

Até ver a barreira que cercava a Floresta das Labaredas.

Subi pelo barranco, e então parei para respirar, segurando meus joelhos e buscando fôlego, olhando para meus pés arranhados pelos cascalhos.

Caminhei pela parte gramada, respirei fundo e passei pela barreira. Eu sabia que era loucura, era uma das maiores.

Mas eu não tinha mais ninguém. E pedir ajuda a Lyra e sua família era tolisse, pois seria o primeiro lugar que me procurariam.

Entrei na beira da Floresta, vendo sua escuridão enquanto a noite caía.

Era só uma noite.

Só uma.

Talvez Chiara ou Damian deixassem eu passar dentro do túnel do salgueiro mágico onde vivem, ali é quentinho, eu não me importava se estivesse longe do meu pai e do que ele vai fazer comigo se me encontrar.

Amanhã eu iria sair daqui, passaria pelas florestas baixas, e pagaria a qualquer marujo por um espacinho qualquer no navio que partiria pela madrugada em direção a Paris, eu poderia trabalhar limpando ali também, se precisassem. Trabalho não me assustava, ser tratada como nada e sendo humilhada pela minha família para sempre, sim.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now