06 | a barreira que nos separa

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G R A C E

(...)

— Já consegue mexer seu pé? — Chiara questionou depois de quase uma hora que eu estava com o emplastro no pé.

Já não havia mais dor, era verdade. E eu não podia demorar mais a voltar pra casa, se meu pai descobre que saí... Não queria nem pensar.

— Já estou bem. — Falei, me envergando e retirando o tecido vermelho e as ervas de minha perna.

Eu até tive coragem de comer cookies pois Chiara insistiu, eu nunca havia provado a coisa feita com cacau que ela colocou em gostas por cima, era bem gostoso diferente do que os outros achavam, ou talvez eu estivesse com muita fome.

Damian e Braeden haviam saido do recinto. Depois que ele foi levar a toalha, e o recipiente com água, não voltou mais. Eu não me sentia segura com nenhum deles, mas verdade seja dita, foi ele que me ajudou, por duas vezes, e eu preferia ele aos outros.

Mas meus pensamentos se esvairam e só pude soltar uma exclamação, completamente surpresa, ao notar minha perna quase curada, a pele havia voltado ao seu lugar, restava ali, apenas uma cicatriz avermelhada, levemente dolorida coberta por sangue-seco, mas nada parecido com o verdadeiro horror que ela estava quando cheguei. Em menos de uma hora uma cura instantânea para feridas foi apresentada a mim.

— Esse tipo de coisa de onde eu venho não existe. — Sussurrei ainda perplexa.

Isso não era natural.

— Isso não é nada demais. — Disse Chiara, como se não fosse. Olhei a minha volta, havia luz, mas não energia. Ervas, que não eram só ervas. E seres que se pareciam humanos, mas não são.

Isso era demais pra que eu pudesse entender.

— É sim. Esse é um mundo muito estranho. Vocês curam do nada, se transformam, matam humanos, e graças as essas forças das trevas, e a maldade... o Kingsley matou os pais e vocês são bruxas, eu não entendo como... — Comecei, ainda atordoada.

— Você é muito ingrata! — Ouvi então, a voz da Braeden, retornando a sala. Ela parecia furiosa. — Aqui nós só fizemos te ajudar!

— Braeden. — Damian se colocando ao lado ao lado dela, tentou intervir.

— Não, ela vai me ouvir. — Braeden rebateu, me olhando com ferocidade. Dando alguns passos a frente. — Vocês humanos acham que sabem mais que nós. Você não sabe nada sobre Damian. Nada sobre Chiara, eu, ou qualquer um aqui, vocês que nos aprisionarem nessa floresta. A solução do Vale das Cinzas, tudo com o ideal passado de geração em geração que somos feitos de nossos erros. Mas na verdade, vocês nos temem, não por nossos poderes, pois só existe essa barreira porque seres de luz, também dotados de magia, se sacrificaram pelos humanos em um ato burro mas visto como heróico... Sabe porque vocês nos temem? Pela nossa liberdade. Ninguém aqui Grace, precisa abaixar a cabeça em uma pirâmide hierárquica, independente do que somos ou como vivemos, e não seremos enforcados por isso. Por que diz respeito a minha vida. A nossa vida. Há uma liberdade que vocês não conhecem, assim como respeito, nós podemos sentir a magia um dos outros, fazemos parte dessa floresta agora, nós protegemos nossas casas da mesma forma que os humanos fariam se atravessassemos aquela barreira. O medo de quebrar suas crenças e dogmas fez os humanos há uns quinhetos anos findarem a idéia de que em um coração verdadeiramente perverso nasceria magia, mas você está enganada, isso é apenas pra poucos e raros, sangue mágico que corre nas veias. Então, não diga o que não sabe, pois nossa magia vem das trevas sim, mas nada interfere em nossa alma. — Ela deixou tudo muito claro, eu não sabia bem se o que ela disse era verdade, mas eu realmente tinha muito pra absorver.
Muito mesmo.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now