28 | um breve vislumbre

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BRAEDEN

Eu nasci em uma ilha no país de Gales, onde vivíam todos em paz com os humanos até estes se rebelarem. Por medo. Éramos poucos, e poucos se salvaram. Dizimaram. Queimaram. Destruíram. Fomos colocados em um pequeno veleiro, a direção era a França. Mas um navio que viria para o Vale das Cinzas, foi emboscado pela inquisição nos encontraram no caminho. Eu tinha dez anos na época. E carregaria pra sempre, por 100, ou 1000 anos a dor do que eu vi.

Quando o navio atracou, as bruxas mais velhas, foram queimadas. Eu vi minha avó, a mulher que eu mais amava, ser queimada a minha frente. E minha mãe. Pelo pouco que me lembro dela, não havia nada de bom ali. Mesmo assim doeu.

Chegamos logo, em meio a grande Guerra dos seres da Floresta das Labaredas e o povo do Vale das Cinzas, que estavam sendo protegidos por seres de luz.

Seres de luz eram fortes, mas só podiam usar seus poderes no auxílio dos mais fracos, ou seja: os humanos. E eles se devotaram a eles.

Eu era muito pequena e desnutrida na época, passei despercebida em meio ao caos. Na verdade, eu fui salva por Hector, pai de Gia. Ele era um bruxo em meio aos humanos, um bruxo disfarçado vendo os seus queimarem. O delegado do Vale das Cinzas. Mas ele me salvou. Me tirou dali e me levou até a ponta norte da Floresta.

Poucas horas depois, muitos humanos estavam mortos por lutarem por algo em vão, por crueldade, mas muitas bruxas e as criaturas que conseguiram aprisionar também estavam mortas. Pagamos um preço alto demais por existirmos.

E a barreira foi erguida. E a força vital dos seres de luz se desfizeram por isso. E já não existiam mais.

Estávamos nós de um lado.

E humanos de outro.

Naquela noite, congelante. Onde eu tinha medo de usar minha magia para me aquecer. Uma mão foi a mim estendida: Chiara.

Ela e Ramona foram as bruxas de magia das trevas que se salvaram. Pois estavam escondidas com as fadas: no subsolo.
E elas me acolheram desde então. Nos tornamos uma estranha família. Que cresceu com a chegada de Damian, tantos anos depois.

Ramona, mãe de Gia McGreer.
Chiara, filha de bruxos que foram queimados pela inquisição.

Gia que ficou do outro lado da barreira, se passou por humana, Gia que morou por anos por todo o mundo, como humana, antes de voltar para o Vale das Cinzas, como humana, e se casar com o prefeito.

E assim vivemos desde então. Sobrevivendo até que possamos cruzar as barreiras que nos foram impostas.

E eu não gostava do subsolo por conta da forma traiçoeira que as fadas eram. Mas não era só isso. Este era o lugar que teríamos que usar pra sobreviver se necessário fosse.

Fui tirada de minhas memórias, por uma Chiara emburrada que adentrou a tenda. Eu não sabia sequer o que falar sobre o que houve, sem apontar um dedo na cara dela. Eu a amava como se ela fosse minha irmã mais velha, mas eu me sentia a irmã mais velha dela todos os dias.

Éramos o extremo oposto.

Ela se sentou no ninho, perto de mim. E suspirou.

— Não fiz por mal. — Disse, de cabeça baixa.

— Eu sei. — E era verdade. Chiara errava, estava sujeita a isso. Mas eu sabia de seu coração generoso.

— Eu gosto muito da Grace. E foi culpa minha. — Murmurou, frustrada.

— Não foi. — Garanti. Ariahmal era culpada. Ela ia dar um jeito de fazer isso.

— Ela fez tudo isso pelo Damian? — Chiara indagou. — A liberdade de alguém pelo aprisionamento de outro?

— Não. — Falei, eu. Se eu estava certa, Ariahmal não dava tanto valor assim a Damian. Ele não passava de uma possível fonte de prazer. De ego. Mas descartável.

— As flores! — Chiara soltou.

Eu assenti. Eu não me surpreenderia em nada, que o plano de Ariahmal fosse frustrar nossa tentativa de atravessar a barreira. De trazer outros de nós para a Floresta das Labaredas, que ela se mostrou relutante a ideia.

— Damian era uma peça pequena de seu jogo. Mas que influenciou muito. — Comentei, o óbvio.

— Ele não tirava os olhos da Grace no baile de ontem. Está óbvio o que está acontecendo entre os dois, e Ariahmal vai se aproveitar dele por isso. Colocar a Grace nessa posição, é pressionar Damian. Nos pressionar. — Ela disse, e era isso. Nós nos amávamos, e Ariahmal sabia que se tivesse a felicidade de Damian em jogo, optariamos por ele.

E Chiara realmente gostava muito da Grace, mesmo. Ramona via Grace como peça importante em nossa vida, ela disse, na última leitura das cartas.

E eu a via como humana e... Talvez tolerável. Desastrada demais. Ingênua. Talvez eu gostasse um pouquinho dela. É que... Era difícil... Os humanos pra mim. Eles destruíram tudo o que eu conhecia. E amava.

Com Eric foi mais difícil no início. Eu tinha mil pés atrás com ele. Mas ele era inteligente, e eu admirava inteligência. E caráter. E ele tinha ambos. Eric era o humano que eu mais gostava no mundo, eu não conheci muitos assim, mas ele tinha valor. Ele lidava com suas questões, e como o julgavam por isso, sendo altruísta. E eu não conseguia assimilar algo assim...

— Damian ainda está com Ariahmal? — Perguntei a Chiara, cortando meus pensamentos sobre Eric Vallahar.

— Você acha mesmo? Aposto o que quiser que ele foi ver a Grace. — Chiara disse. Eu que não ia apostar isso...

— Aposta negada. — Soltei.

— Vou tentar e ir vê-la também. E me desculpar. — Ela disse. Bem, acho que Grace vai precisar mais de nós do que nunca agora. E ela não merecia mesmo o que fizeram com ela.

Verdade seja dita, não deveriamos ter a trago.

Mas como ela já estava aqui...

Damian entrou na tenda, a expressão cansada e derrotada. Troquei um olhar com ele.

— Nos surpreenda... Para soltar a Grace, ela quer... — Deixei no ar.

Damian bufou.

— As flores de volta.

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OLÁ PESSOAS!❤
Trouxe um pouquinho de Braeden pra vocês, e então, o que acharam?

Será que eles vão trocar as flores pela Grace?

Então, é isso.

beijos

- cris

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now