50 | algo mais a se esperar.

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GRACE

(...)

Quando tudo se acalmou, Damian e eu saímos juntos da Casa do Sol. Era fim de tarde e caminhavamos em silêncio pela rua de pedras coberta de folhas cor de rosa, debaixo das cerejeiras.

Chiara tinha indo com Makenna preparar o jantar das crianças... Ela chamava isso, de estar sempre com eles, de marcar território para que se acostumem a nossa presença, pois em poucos dias, estariam indo viver no Vale das Cinzas. Eu concordava que as crianças tinham que estar confortáveis conosco, mas Chiara tratava isso como uma luta pessoal. E contra Makenna.

E normalmente, Chiara não era assim com as pessoas, ela era alegre e receptiva. Maliciosa, mas nunca hostil.

E Braeden pediu a Mestre Asriel para ver a biblioteca do acervo de magia das trevas.
Eu fiquei bastante curiosa quando ouvi a palavra biblioteca, mas disseram que eu não poderia entrar lá. Ninguém além de pessoas dotadas de magia das trevas podia.

O que achei bastante injusto. O que custava deixar eu ver só um pouquinho?

- Tem certeza que não quer ir com Braeden e Mestre Asriel? - Perguntei a Damian, pois eu tinha notado seu interesse instantâneo quando tinham falado nos livros. E eu não podia o julgar por isso.

Eram livros!

- Não, agora não. Deixarei para ir amanhã. Sozinho terei mais liberdade. - Disse, seu tom era tranquilo.

A viagem, interagir com tantas pessoas de uma vez parecia um pouco demais para ele as vezes. Eu podia o entender.

E eu era uma solitária também.
Mas de forma diferente, pois vivi cercada de pessoas no Vale das Cinzas.

E ele viveu por tanto tempo preso em sua casa. E depois, em uma floresta, que havia se acostumado a estar sozinho. Ao silêncio. E a fazer suas coisas sozinho.

Eu entendia que ele precisava disso.

Como na noite anterior, contar tudo a ele, foi uma das coisas mais indescritíveis, positiva e negativamente que já vivi. Que já fiz. Que me coloquei na coragem de fazer.

Não era fácil revelar segredos que podem remexer na ferida de alguém. Ainda mais tão grande. Tão danosa.

Eu detestava a idéia de ferir alguém, mesmo que com verdades. Mas detestava mais a idéia de não ferir, com mentiras.

Ou simples omissão.

E eu não sei como ele está se sentindo agora.

Ele apenas pediu para ficar só.

E eu vou esperar ele estar pronto pra falar sobre isso. Se ele quiser falar. Se quiser falar disso comigo.

Talvez Eric fosse melhor. Ele era extremamente empático e era o melhor amigo de Damian há tantos anos, conheceu seus pais e esteve presente e fez parte de tudo o que houve. Salvou a vida de Damian quando deu seu sangue a ele na prisão. Se arriscando a ser dado como cúmplice e ser enforcado.

Eu só queria que tudo ficasse mais leve em seus ombros.

E espero mesmo que tenha acontecido isso, que a culpa tenha o deixado.

E que esse sentimento de vingança que ele tentou esconder mas não conseguiu, vá embora com o tempo. Mesmo que ele tenha direito a ele.

- Se para você está tudo bem... - Dei de ombros, enquanto entravamos no pomar, que estava vazio e tranquilo.

- Tem planos agora? - Ele questionou, me olhando de esguelha.

- Não. Não tenho.

- Eu queria ver uma coisa e... - Respirou fundo, antes de terminar, seu rosto se tornando avermelhado. - Queria que viesse comigo.

O que queima através de nós | LIVRO IDove le storie prendono vita. Scoprilo ora