29 | o sol entre as folhas

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GRACE

Haviam algumas boas horas que eu estava ali, mas parecia muito mais do que isso, a umidade já me fazia espirrar e coçar meu nariz, enquanto eu apertava o casaco de Damian contra mim. Seu cheiro estava nele.

Tive tempo pra pensar em tudo o que houve, não era o amor de Damian, ou qualquer coisa do gênero. Mas as flores. Bem me lembro das bruxas me contando sobre ela não gostar dos planos de Ramona.

Ariahmal era um ser maligno, aqueles que eu ouvia nas pregações na igreja do vilarejo "tudo o que ele te dá, ele te tira". Essa é ela.

Mas a questão era, eles me trocariam pelas flores que tanto precisam? Eu valia assim pra eles?

Eu sou só uma humana.

E as flores, as muitas naquela caixinha, poderiam ser uma garantia de um futuro diferente para a Floresta das Labaredas.

E então, me encolhi. Eu não valia tanto.

Voltei a encostar minha cabeça na grade, e decidi comer o pedaço de pão que havia guardado ao sentir meu estômago protestar de fome. E eu não sabia que horas chegaria a segunda e última refeição do dia.

Assim que acabei de comer, em três mordidas, fechei meus olhos, talvez eu devesse desenvolver o hábito de cochilar, para que o tempo passasse mais rápido.

Abri meus olhos em prontidão, a ouvir passos no corredor, fiquei de pé e tentei ver quem vinha pelas grades.

Eram Chiara, Braeden e Damian sendo guiados por uma fada, um nervosismo se fez em meu estômago por não saber o que esperar.

Será que vieram se despedir?
Me libertar?
Para me ver unicamente?
Eu não sabia.

Logo o a fada pousou frente a cela... Aquela mesma fada de cabelos cor de rosa que me prendeu aqui.

— Conseguiu sua liberdade, humana. — A fada cantarolou quase jocosa. Céus! Eu finalmente poderia sair dali...

Senti meu coração dar um salto no peito de alegria... As horas ali pareciam ter se convertido em dias, e só de me imaginar presa por anos, eu poderia vislumbrar meu definhar.

Mas eu estava livre novamente.

Troquei um olhar com Chiara enquanto a fada abria a cela. Ela sorriu, apesar de tudo. Damian e Braeden tinham expressões bem infelizes no entanto.

Deixei os ombros caírem, pensando que eu ter ido até ali foi a pior ideia possível, pois agora, eles não teriam que trocar o que tanto precisavam. Fazendo de todo o esforço para vir até aqui: em vão.

Assim que saí da cela, senti os os braços de Chiara me envolverem em um abraço "me desculpe" ela sussurrou, e eu apenas assenti, retribuindo o abraço.

Eu tinha ficado magoada pela desconfiança dela, mas... Eu sei que ela não fez por mal. E tanto me ajudou. E aqui estavam eles. De novo, me salvando.

— Me perdoem... Por tudo isso. — Falei olhando para os três, já que a fada sequer fez questão de continuar ali conosco.

— Você não teve culpa. — Braeden disse unicamente.

Damian então, me estendeu a mão, como quem pede algo, por alguns segundos meu cérebro não processou o pedido. Era um abraço? Queria pegar minha mão?

— Meu casaco. — Ele esclareceu.

Ah.

Era isso...

E eu o retirei para o entregar, e ele o vestiu em seguida.

— Vamos embora daqui. — Disse por fim. E nós o seguimos.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now