34 | dama a bordo

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GRACE

(...)

Sou capitão James Bramwell. E você é minha prisioneira até o fim desta tarde. Eu espero.

Respirei fundo, o olhando. Eu deveria me apresentar também? Eu devia falar?

— Não tem língua? Diga também como se chama! — Decretou.

— Grace. Grace Orion, senhor.

— Capitão. — Corrigiu-me.

— Capitão. — Repeti, me remexendo desconfortável sob seu olhar. Um azul pálido e gelado.

— Tenho trabalho a fazer. Fique quieta e não tente nada estúpido, e sairá daqui com todos os dedos. Eu não gostaria que mutilação acontecesse a uma dama. — Disse unicamente. Um ultimato que gerou uma pontada de pavor em mim, me fazendo encolher todos os meus dedos.

Quieta Grace. Parada. Estática.

Ele se sentou em sua poltrona, e voltou seus olhar para um grande mapa estendido sobre a mesa, e mexer em sua bússola que notei ser totalmente de ouro (provavelmente saqueada). Ele parecia estar delimitando rotas marítimas e fazendo anotações, seu dedos pontilhavam o mapa, o anelar tinha  anel de sinete mas não consegui ver o desenho no que parecia um brasão. Ergui o olhar para ver mais, mas então parei, pois ele me fitou em advertência. Me encolhi.

Ele bufou.

— Certo. — Disse batendo a mão na mesa. — Gosta de ler? — Perguntou.

— Sim, muitíssimo. — Respondi quase em imediato. E aparentemente uma dose de humor passou por seu rosto.

— Naquele baú tem alguns livros de leitura, pegue algum, se distraia, e tire os olhos do que não lhe importa. — Proferiu, indicando um baú de madeira polida.

Damian e seu mal humor parecia algo amigável e doce agora. E Damian poderia facilmente matar todos nesse navio, carbonizados.

Me levantei e fui até o baú, mas meus olhos caíram sobre a mesa ao lado, que continha em cima dela, um aquário grande com uma concha enorme dentro deste. A maior que já vi. Mas segurei minha curiosidade.

Me abaixei frente ao baú e o abri, mas boa parte dos livros estavam em inglês. Seria Bramwell britânico? Ou irlandês? Eu é que não ia perguntar.

Achei! No fundo encontrei alguns em Francês.

"O Príncipe" de Maquiavel. Este, eu não conhecia. Será um conto de fadas? Sobre um belo e nobre princípe salvando uma princesa? Como as histórias que mamãe contava?

Mas então, encontrei "O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas, e eu me lembrei da infância onde Linx, irmão de Lyra costumava ler "Os três mosqueteiros" também de Dumas para nós, para nos ensinar a brincar. Na falta de meninos, Lyra e eu nos convertiamos em mosqueteiros também, e fazíamos dos galhos das árvores nossas espadas. Então, acabei optando por ele. Lembrava um tempo onde tudo parecia mais fácil.

Quando me ergui com o livro em mãos, desviei o olhar para o aquário, então saltei para trás.

— Céus! — Exclamei. — O que é isso?

Indaguei atônita olhando a criatura que saiu da concha, deveria ter cerca de quarenta centímetros. E era verde mesclado ao azul, parecia uma água viva gigante, mas sua calda era feita de espinhas enormes e afiadas. E tinha olhos amarelados e dentes pontudos. E me encarava.

Ouvi o capitão rir. Um som adormecido e rouco.

— É um martrio de água salgada. — Disse ele.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now