GRACE
(...)
— Sou capitão James Bramwell. E você é minha prisioneira até o fim desta tarde. Eu espero.
Respirei fundo, o olhando. Eu deveria me apresentar também? Eu devia falar?
— Não tem língua? Diga também como se chama! — Decretou.
— Grace. Grace Orion, senhor.
— Capitão. — Corrigiu-me.
— Capitão. — Repeti, me remexendo desconfortável sob seu olhar. Um azul pálido e gelado.
— Tenho trabalho a fazer. Fique quieta e não tente nada estúpido, e sairá daqui com todos os dedos. Eu não gostaria que mutilação acontecesse a uma dama. — Disse unicamente. Um ultimato que gerou uma pontada de pavor em mim, me fazendo encolher todos os meus dedos.
Quieta Grace. Parada. Estática.
Ele se sentou em sua poltrona, e voltou seus olhar para um grande mapa estendido sobre a mesa, e mexer em sua bússola que notei ser totalmente de ouro (provavelmente saqueada). Ele parecia estar delimitando rotas marítimas e fazendo anotações, seu dedos pontilhavam o mapa, o anelar tinha anel de sinete mas não consegui ver o desenho no que parecia um brasão. Ergui o olhar para ver mais, mas então parei, pois ele me fitou em advertência. Me encolhi.
Ele bufou.
— Certo. — Disse batendo a mão na mesa. — Gosta de ler? — Perguntou.
— Sim, muitíssimo. — Respondi quase em imediato. E aparentemente uma dose de humor passou por seu rosto.
— Naquele baú tem alguns livros de leitura, pegue algum, se distraia, e tire os olhos do que não lhe importa. — Proferiu, indicando um baú de madeira polida.
Damian e seu mal humor parecia algo amigável e doce agora. E Damian poderia facilmente matar todos nesse navio, carbonizados.
Me levantei e fui até o baú, mas meus olhos caíram sobre a mesa ao lado, que continha em cima dela, um aquário grande com uma concha enorme dentro deste. A maior que já vi. Mas segurei minha curiosidade.
Me abaixei frente ao baú e o abri, mas boa parte dos livros estavam em inglês. Seria Bramwell britânico? Ou irlandês? Eu é que não ia perguntar.
Achei! No fundo encontrei alguns em Francês.
"O Príncipe" de Maquiavel. Este, eu não conhecia. Será um conto de fadas? Sobre um belo e nobre princípe salvando uma princesa? Como as histórias que mamãe contava?
Mas então, encontrei "O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas, e eu me lembrei da infância onde Linx, irmão de Lyra costumava ler "Os três mosqueteiros" também de Dumas para nós, para nos ensinar a brincar. Na falta de meninos, Lyra e eu nos convertiamos em mosqueteiros também, e fazíamos dos galhos das árvores nossas espadas. Então, acabei optando por ele. Lembrava um tempo onde tudo parecia mais fácil.
Quando me ergui com o livro em mãos, desviei o olhar para o aquário, então saltei para trás.
— Céus! — Exclamei. — O que é isso?
Indaguei atônita olhando a criatura que saiu da concha, deveria ter cerca de quarenta centímetros. E era verde mesclado ao azul, parecia uma água viva gigante, mas sua calda era feita de espinhas enormes e afiadas. E tinha olhos amarelados e dentes pontudos. E me encarava.
Ouvi o capitão rir. Um som adormecido e rouco.
— É um martrio de água salgada. — Disse ele.
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O que queima através de nós | LIVRO I
FantasyNo Vale das Cinzas, muito se fala do fogo que tomou em chamas a propriedade dos Kingsley, levando a vida de um casal, pelas mãos do próprio filho, Damian Kingsley. Este, conhecido por sua crueldade, foi exilado, e assim amaldiçoado por forças superi...