08 | um dia antes

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G R A C E

Os dias correram. Literalmente, enquanto eu mais rezava para que eles se arrastassem, mais rápido tudo passou.

Depois que voltei da Floresta das Labaredas naquela noite, tendo que pular a janela do meu quarto para entrar em casa, prometi a mim, não voltar naquele lugar. Nunca mais.

E não haveria como, pois a minha volta todos se voltaram para uma única coisa: o casamento.

Todas as atenções, em todo Vale das Cinzas, parecia estar sobre mim.

Naquela noite meu pai havia fechado um acordo de casamento com Victor, eu não sabia os termos, mas apenas, que aconteceria em duas semanas.

E essas duas semanas se passaram... Com meu pai ignorando minha presença, e Grazielle todos os dias aparecendo para dar opinião sobre o casamento, pois Victor havia nos deixado encarregadas de escolher tudo. E cuidamos, ou melhor, ela cuidou.
Mas eu preferia contar com Lyra, para falar do quão desesperada eu estava.

Eu estava com muito medo.

Mas da mesma forma, me perguntava o que seria de mim, se não me casasse. Meu pai me mataria.

A cada vez que eu demonstrava infelicidade com este casamento, seu olhar atravessado dizia tudo. Não tinha mais volta.

E agora estava eu... Na casa da Grazielle esperando pelo dia seguinte. Meu vestido de noiva pendurado em um cabideiro como um lembrete branco de renda que meu futuro já havia sido decidido por terceiros, e nada importava a minha opinião.

Eu só estive com Victor mais duas vezes, ele tentou me acalmar, dizendo que parte da pressa, sequer era dele, mas do meu pai. E eu não duvidava disso.

Mas nossa relação não passou disso, eu não nutria sequer afeto por ele, além do tipo que tenho por conhecidos.

Suspirei, olhando meu reflexo no espelho. Na minha casa não tinha espelhos, mas toda vez que me via, não conseguia ver nada demais. E agora, era nada demais com profundas olheiras.

- Grace? - Ouvi Grazielle chamar, a porta do quarto de hóspedes só estava encostada e ela a abriu. - Aquela sua amiga está aqui.

Lyra. Pensei, ficando de pé.

- Vou falar com ela. - Soltei caminhando em direção a porta, saindo pela mesma com Grazielle em meu encalço.

- Vestidinho horrível ela está vestindo. Sugiro que faça novas amizades quando for viver nos Alpes. - Grazielle murmurou atrás de mim.

Respirei fundo, simplesmente ignorando. Era isso que eu fazia com Grazielle, ignorava e ignorava mais um pouco.

Passei pela sala de estar, notando que o sheriffe Roosevelt, ou só Ian, o meu cunhado, estava ali, lendo alguma coisa que não me interessava.

Ele não conversava muito, na verdade, poucas vezes o ouvi dizer frases inteiras.

Outra coisa curiosa, é que minha irmã realmente o amava. Era isso. Ela amava seu marido e ele a amava. Eu via no olhar dela quando ele chegava em casa, uma Grazielle diferente, apaixonada. E isso me fazia pensar que talvez houvesse alguma coisa boa em minha irmã, e que talvez quando eu me casasse ela fosse me tratar melhor e teríamos um relacionamento de irmãs, saudável.

Grazielle poderia ter se casado com um rapaz dos Alpes, todos tinham olhos para ela, mas ela escolheu Ian. Certo que ele é um homem atraente, é o sheriffe, e eles vivem muito bem. Mas para ela que sempre quis viver nos Alpes, escolheu logo alguém do Intermediário por amor, claro que não faltava nada a minha irmã, ela tinha fartura com comida, roupas de boa costura e eles tinham uma bela e confortável casa no Intermediário. Lugar onde todos vivem com dignidade, e tem profissões importantes no Vale das Cinzas.

E eu, que nunca almejei nada além de calmaria, independência e um amor, acabei dessa forma. Me tornaria esposa de um dos homens mais ricos do Vale das Cinzas, sem sequer o ver de forma romântica.

Acho que até Damian Kingsley seria melhor e... Céus, o que estou pensando?

Ele é um assassino.

Me lembrei novamente.

E era o que eu fazia todas as manhãs, depois de acordar de sonhos estranhos, onde Damian era protagonista.

Fui tirada de meus devaneios por Lyra perto da porta, olhando para seus próprios pés.

- Oi, amiga! - Cumprimentou dando um sorriso. Seu cabelo escuro e liso estava muito bonito, assim como era seu vestido azul bebê, era um de seus melhores, costurados por senhora Cassiopéia.

- Oi. - A cumprimentei. - Vamos conversar lá fora? - Perguntei, olhando em seus olhos esperando que ela entendesse. Ela assentiu, captando.

Eu queria conversar longe da Grazielle.

Saímos nós duas para fora, ouvindo um bufar da minha irmã.

- Por que veio tão bonita pro Intermediário? - Perguntei a ela, em tom implicante, enquanto passávamos pelo gramado em frente a casa da minha irmã.

Os olhos de Lyra presos a uma casa de dois andares na rua cheia de casas bonitas. A casa de Eric Vallahar.

E era com ele, que eu precisava falar. Mas eu não podia simplesmente bater na porta dele e tirar informações sobre O Espirito de Fogo.

- Ele poderia aparecer, não é? - Riu. Eu ri junto. - Acho que se eu parecer atraente ele não vai querer ser apenas meu amigo. Mas nem sei se ele está em casa, talvez esteja em suas aulas de curandeiro - Comentou. Era fato que Dr. Anton Vallahar era o melhor curandeiro do Vale das Cinzas, e Eric seguiria os passos do pai no ofício.

Eu gostaria muito de ser curandeira, ou médica, como as pessoas dos Alpes chamam, e poder cuidar das pessoas e salvar vidas. Mas sendo mulher... Jamais permitiriam.

- Seu amigo? - Quis entender Lyra, voltando o assunto para ela.

- Eu me aproximei dele, esperei um cortejo, mas ele não parece interessado em mim. Mas opiniões mudam, e eu não vou desistir depois de ter tido um avanço. E se não for ele, provavelmente vou acabar casada com o Alastor. - Disse estranhamente perseverante por estar falando de algo tão terrível. - E é sobre isso que vim falar com você, amiga. Não desista.

- Desistir do que?

- De ser feliz. Você ainda pode, sabe disso? - Disse me olhando. - Meus pais também se casaram sem se amar. Com a maioria é assim... Talvez você ame Victor, mas tem que se abrir a isto. - Disse, acho que ela estava na verdade tentando me acalmar. Mas não acalmava.

- Não sei se vou conseguir.

- Bem, ele é muito bonito, é gentil e tem sentimentos por você. Mas nada disso importaria, se você gostasse de alguém. Eu poderia ter um Victor, mas não importaria, tendo Eric no meu coração. Tem alguém, Grace?

Prendi a respiração, não tinha alguém. Não tinha mesmo, mesmo certo rosto sempre invadindo meus pensamentos.

- Não. - Neguei.

- Se é assim... - Suspirou. - Mil vezes um Victor te amando, do que as surras de seu pai. Pense nisso.

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OLÁ MEUS AMORES❤

Esse capítulo foi curto eu sei, mas ele foi divido em dois, mas é só um gancho, pois está vindo ai, o casamento da Grace?

Preparados? Espero que estejam.

Então, é isso.

beijos

- cris

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now