37 | futuro inquietante

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  DAMIAN

O farfalhar de folhas anunciava a chegada de alguém, pelas passadas que esmagavam os pequenos galhos, só podia ser Braeden. Que sempre andava como se estivesse prestes a destruir tudo sob suas botas.

Estive ali, sentando na raiz de uma árvore, as esperando retornar da barreira. Elas colocaram o amuleto recém confeccionado em um pequeno gnomo. Sei que era errado o usarmos como forma de saber se daria certo ou não. Tendo consciência que ele se tornaria pó se nós falhacemos.

Ergui os olhos para ela, a vendo se abaixar...

E...

E soltar o gnomo. Vivo. Me senti estranhamente aliviado em ver o pequenino resmungar e fugir pra longe dela.

E em seu pescoço, se encontrava o amuleto intacto.

Ofeguei, quando seus olhos focaram nos meus.

— Conseguimos. — Falei, sorrindo pela primeira vez em semanas. Fiquei de pé. — Vocês conseguiram!

Braeden e eu nos olhamos, eu queria a abraçar e demonstrar como estava satisfeito que finalmente, o que vinhamos trabalhando a mais de dois anos, finalmente havia dado certo.

— Nós conseguimos. Todos nós. — Afirmou dando um passo a frente. — É... Hm.... Chiara... Chiara atravessou. E voltou. — Proferiu, sua voz estava emocionada.

Chiara teve a coragem de atravessar? É claro que teve! Ela poderia ter... Não quero nem pensar.

Mas não era mesmo fácil ver Braeden assim. Tão contente. Eu... Eu tive que sorrir mais um vez.

Tínhamos nossa liberdade.

Era inacreditável.

Ela estendeu a mão. Para um aperto de mão.

Se tinha uma coisa que eu e Braeden tínhamos em comum, era a dificuldade em demonstrar afeto.

— Um abraço, talvez? — Tentei, passando por cima disso. Ela fez uma careta mas riu depois. Mas assentiu.

— Somos péssimos nisso. — Disse fechando o espaço e enfim demos um abraço rápido.

— Chiara? — Perguntei por ela.

— Foi toda saltitante contar tudo a Ramona. — Disse se sentando na grama, fiz o mesmo, voltando para a minha raiz. — Damian? — Chamou.

— Sim?

— Você naquele dia... Colheu as três flores de propósito, ou foi o que deu pra colher?

Ela se referia quando estávamos no subsolo, tive que distrair Ariahmal com beijos para pegar algumas flores. Mas eu não peguei três de caso pensado. Foi só o que deu pra fazer.

— Não. Foi mesmo o que deu para pegar.

— É um alento, sabe? Imagina ela saber que pode ter a liberdade, mas a não a ter de verdade. — Se referiu a Ramona.

Eu sentia muito por ela.

— Os amuletos. — Fiz uma pausa tendo uma ideia. — Podemos trazer Gia aqui. — Falei por fim.

Há muitos anos antes, antes mesmo do meu nascimento, e da barreira, Ramona amou um homem, Hector. Ele era um bruxo poderoso.

Mas Hector tinha planos diferentes aos de Ramona, ele queria viver entre humanos, queria se passar por um deles para fugir da inquisição, coisa que Ramona nunca aceitaria, ou poderia, por ser metade fada e sua aparência nunca a permitir tal coisa.

Hector e Ramona tiveram uma filha.
Gia.

Ramona queria cria-la na Floresta, como uma bruxa, desenvolver toda sua magia para perpetuar onde vivemos.
A desavença foi enorme, Hector não queria uma vida de medo. Então decidiu em uma noite, sabendo que Ramona jamais permitiria.

O que queima através de nós | LIVRO IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora