05 | através do velho salgueiro

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G R A C E

(...)

— Já pode abrir os olhos. — Ele disse quando paramos em um pouso leve, eu ouvia crepitação das chamas correndo pelo corpo dele, se desfazendo, então, os abri, estava escuro, se não fosse ele, e a luz da lua.

Ouvi um "SMIF" alto e notei que a mesma criatura que me pegou pelo pé, estava há metros de nós perto de um enorme salgueiro.

Oh, céus.

E eu já não estava mais acolhida pelo fogo, mas nos braços de Damian Kingsley.

Olhei a minha volta, eu podia ouvir passos pesados de criaturas ao longe, a floresta, o som dos pássaros e do vento nas copas das árvores e mesmo em todo breu, eu sabia, não era a mesma, que nós além da barreira, víamos.

Não era mesmo. Essa parte não estava queimada ou densa, tinham árvores grandes de troncos largos, era muito limpa e bonita, mesmo na escuridão. E eu podia ver ao longe, uma enorme luminosidade, a da lua sobre a água, linda e conhecida: havia um lago.

Não pude reparar mais, pois Damian seguiu caminhando comigo, pensei em pedi-lo para me soltar pois era estranho para mim estar tão perto de um rapaz e sendo ele um assassino, eu não deveria sequer estar aqui. Mas eu também sabia que não iria conseguir pisar no chão, pois minha perna doía como nunca.

Ouvi outro "SMIF" alto da criatura gigantesca.

— Não, Aurin. — Damian disse firme, o olhando de esguelha.

Como ele podia entender esses "Smifs" ? Tinha haver com a magia?

O grandão soltou outro "Smif" bem contrariado, se jogou no chão fazendo a terra tremer, e cruzou seus braços enormes na frente do corpo como uma criança emburrada.

— Aurin, levante-se, ou Ramona virá até aqui. — O Kingsley ameaçou, da mesma forma que se falava com crianças com pirraça. E quem era Ramona?

Que mundo estranho era esse?

— Você entende o que ele diz? — Perguntei ao Kingsley, enquanto ele me levava para perto do salgueiro. Me perguntei se deveria ou não tirar meu braço atrás de seu pescoço, mas estava tão nervosa que resolvi ficar quieta.

— Smiv. Entendo Smiv. — Ele disse, mas pra mim, era com F, não com V. — Há Smivs pra todas as coisas. Com raiva, feliz, contrariado. Depende do tom que foi dito. Aurin ainda é muito jovem, muitos Abernates mais velhos falam frases inteiras, mas ele não. — Esclareceu, então, Aurin, e todas essas criaturas enormes como ele eram chamados de Abernates? E ele era filhote, sendo gigantesco assim?

— Esse Smif, foi o que? — Quis saber.

— Um Smiv assassino. — Disse unicamente.

Engoli em seco, pensando que o grandão dos Smifs queria acabar com a minha raça.

Uma coisa muito curiosa no salgueiro gigantesco era que ele tinha uma abertura muito larga em seu tronco, tão larga que um humano poderia passar por ela tranquilamente.

— Que lugar é esse? — Perguntei ao Kingsley.

— Minha casa. — Respondeu simplesmente, indo em direção a abertura no salgueiro, se virando de lado e nos abaixando, para podermos passarmos ambos por ali, antes mesmo que eu perguntasse o porque daquilo, um simples "OH" surpreso saiu dos meus lábios, quando já estávamos no outro lado.

Ali já não era mais a floresta, como meus olhos viram através da árvore.

Havia um corredor de pedras coberto  com trepadeiras e no final dele, uma porta grande e robusta de madeira, que continha alguns detalhes de prata.

O que queima através de nós | LIVRO IWhere stories live. Discover now