O que queima através de nós | LIVRO I

39 | la vie

GRACE

Senhora Lovington parecia outra durante toda essa semana, seu empenho tinha

 lhe trago uma energia renovadora. Enquanto a minha parecia estar sendo sugada. Houveram aulas de etiqueta todos os dias, por horas. E para ser sincera, eu não fui um completo desastre, claro que eu quebrei algumas coisas. Ela me deu varios livros sobre a sociedade para que eu soubesse como me portar e ter conversas aprazíveis. E andar de salto era um problema para ainda ser solucionado... Mas sra. Lovington, sem me deixar recusar, também trouxe uma hairstylist que cuidou dos meus cabelos e me ensinou alguns penteados simples que estavam na moda entre as jovens da minha idade, e cedo, a dona de uma maison, onde todas as minhas medidas foram tiradas, e logo, um entregador trouxe tantos vestidos, sapatos, chapéus, bolsas, luvas e roupas intimas que eu sequer podia contar. 

Eu aceitei tudo isso... Por mim. Nem sempre era divertido e ela era uma professora bastante exigente. Mas tinha certo prazer no aprender. No conhecimento. No me sentir uma dama. Mesmo que eu fosse só a Grace no fim do dia... Aquela que se aventurou pela Floresta das Labaredas.

"Do que adianta ser uma dama se não se parece com uma?" Eu ouvia dela quando recusei todo aquele gastar de dinheiro... Mas a verdade era que sra. Lovington sempre repetia que tinha mais dinheiro do que um dia poderá gastar, e nossas aulas a distraem. Então eu sou o melhor investimento agora. Isso deveria me ofender? Não ofendia, pois eu me apegava a grande generosidade em torno de tudo isso. 

No último domingo, Eric veio jantar conosco, e não preciso dizer que ele se surpreendeu em me ver assim. Mas isso não foi tudo, sra. Lovington pareceu investigar com muita precisão qual minha ligação com ele enquanto jantavamos, que no caso deixamos muito claro ser apenas amizade, o que pareceu a satisfazer. E ela concluiu o assunto com um gracejo sobre "se eu tivesse sua idade, jamais deixaria um partido como você escapar" para Eric, que ficou vermelho até as orelhas.  E depois de uma boa taça de vinho... Ela decidiu que precisava usar meu amigo como cobaia.

Nos ensinando uma valsa inglesa, o fazendo rodopiar comigo pela sala. E é claro que ele se saiu melhor que eu, com pouco ele já sabia o que fazer e como conduzir. E eu? ttropecei vez ou outra em meus proprios pés. Mas mesmo assim foi agradável, rimos de nossos erros, Sra. Lovington foi paciente e Eric um ótimo parceiro de dança, olhava em meus olhos e firmou suas mãos em mim, me deixando confiante. Acho que foi a noite mais divertida desde que cheguei a Paris.

E quanto a leitura do livro de Astrid Alcaan, fiz alguns progressos, chegando a história de Ramona e Hector. E.. Gia. Então descobri o por que ela nunca sair, e me senti tão triste. Ela vivia no mesmo lugar que a filha, mas elas nunca sequer se viram. Pelos ideais tortos de Hector. Pela maldade de Astrid. Cada vez que eu sabia mais sobre ela, menos eu queria ter algum tipo de parentesco com alguém tão ruim. Mas de certa forma... Eu tinha meu pai e minha irmã, que hoje eu já não me enganava como antes, eles não eram boas pessoas.

Prendi o chapéu de cetim rosa suave com grampos sobre meu penteado, um coque baixo, e alisei meu vestido do mesmo tom do chapéu, as luvas e as sapatilhas eram brancas e eu tinha um pequeno colar com contas no pescoço.... Eu havia marcado de sair com Eric para tomarmos um café, em poucos minutos ele chegaria, sendo hoje, minha tarde de folga, eu aproveitaria para ver um pouco da cidade com meu amigo. Como subir a torre Eiffel, que até hoje não pude fazer. E como prometido, ele logo bateu a porta, me despedi de Marie e Sra. Lovington e sai de braços dados com Eric do prédio, ele havia alugado um faetonte para que pudessemos passear e ver tudo. Eu nunca havia andado em um daqueles e me vi completamente empolgada... Mesmo que fosse comum no Vale das Cinzas, principalmente para pessoas do Intermediário e dos Alpes, eu nunca tive a oportunidade.