32 | um horizonte azul

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GRACE

(...)

- Está zarpando. - Eric disse, enquanto sentíamos a leve ondulação do casco do navio sobre as águas.

Ele abriu a porta de nossa pequena cabine. Como "recém casados" teríamos que dividir o quarto.

Ele deu espaço para que eu passasse primeiro e eu o fiz.

- Eu sei que você provavelmente preferiria viajar sozinha, Grace. Mas com tantos homens de má reputação no navio, é melhor continuarmos fingindo lá fora que somos casados. - Disse rindo da situação, de nervoso, deixando suas malas no chão.

Ali havia apenas uma cama de casal coberta com uma colcha velha porém limpa e haviam travesseiros e cobertores, uma escrivaninha pequena, um armário de duas portas, o chão era coberto de carpete verde puído e havia uma portinha provavelmente para uma pequena casinha. E eu sabia que todas as cabines daquele navio estavam naquele estado, se não, muito piores. Era maior que o quarto onde eu dormia em minha casa e havia uma janela média que dava para ver o mar. Para mim, estava muito bom. E eu deveria agradecer a Eric, pois poupei minhas moedas.

Se eu não ficasse mareada, seria melhor.

Deixei minha mochila sobre a cama e me sentei ali. Era de tamanho normal, mas seria estranho dormir ali com Eric. Céus! Seria muito estranho!

- Eu vou ver se consigo uma rede, deve caber ali no canto. Eu posso dormir nela. - Ele disse parecendo saber o que eu pensava, e se sentou na cama a minha frente. - Não te faltaria com respeito, em hipótese alguma. - Deixou claro.

Mas verdade seja dita, isso nem passou por minha cabeça.

- Eu sei. - Falei, mesmo o conhecendo pouco, confiava nele. Damian, Chiara e Braeden também. Era meu amigo e sempre tratou muito respeitoso com todos. Era por isso que Lyra era tão encantada com ele.

Suspirei, desenrolando a echarpe de minha cabeça, sabendo que já estávamos deixando a costa. Deixar o Vale das Cinzas, me deixava melancólica, pois aquele pequeno lugar, era tudo o que eu conhecia no mundo.

Olhei para Eric enfim, podendo tirar minha recente dúvida.

- Agora me diga você... O que vai fazer em Paris? - Questionei por fim.

Ele respirou fundo retirando seu casaco, parecia uma história chata.

- Se quiser contar, é claro. - Completei, pois não queria o deixar desconfortável.

- Victor. - Disse com a voz seca, me fazendo erguer as sobrancelhas. O que aquele monstro tinha haver com isso?

- Mas o que ele fez?

- Procurou meu pai, e fez ameaças. Ele sabe que te ajudei naquela noite que fugiu da casa dele. - Confidenciou. Era óbvio que Victor não deixaria barato. Isso era horrível demais.

- Ele ameaçou sua vida? A de seus pais?

- Quase. - Riu sem humor. - Ameaçou me denunciar ao xerife.

- Por traição?

- Por dormir com homens.

Arregalei meus olhos. Eu já tinha ouvido falar muito disso, por Lyra, quando era mais nova. De pessoas como Chiara por exemplo, que namorava garotas. Mas no Vale das Cinzas... Isso era crime. Já aconteceu com dois rapazes uma vez, eles morreram, pois usavam sangrias e tratamentos de choque em quem dormia com pessoas do mesmo sexo como processo de "cura", muitos não sobreviviam. Era de uma crueldade absurda.

Mas eu não sabia que Eric... Nunca imaginei.

- Mas como ele ficou sabendo isso? Por que você é bem discreto... - Soltei baixinho. Não me importava o que Eric gostava, eu o respeitava muito.

O que queima através de nós | LIVRO IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora