65 - O que perdoa a transgressão busca a amizade.

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Claudia ouviu atentamente, prestando a atenção ao menor detalhe, timbre da voz, tremor no rosto, brilho no olhar, e tudo indicava que ele dizia a verdade, e algo totalmente contra o que ela pensava que fosse possível aconteceu, ela se sensibilizou com a história daquele rapaz que estava se expondo, que verdadeiramente estava arrependido do que fizera contra ela, e por incrível que pudesse parecer ela ficou feliz, não por ele estar sofrendo, mas porque ele se arrependia, e o primeiro passo para o perdão é o arrependimento.

Pelo canto do olhar ela viu o Sérgio e o Lucas chegando, franziu a testa pensando que o pai preferira não envolver a filha naquela história horrorosa, e por isso, Lorena não estava com eles. Voltou a atenção para o rapaz à sua frente.

- O que aconteceu quando você perdeu a consciência? - Perguntou sinceramente interessada, ele sorriu amargo.

- Acordei em um hospital, e no momento em que eu abria os olhos eu começava a gritar sobre o que havíamos feito, e os médicos me dopavam de novo, fiquei por algum tempo assim, até que o tio Aziz chegou e não deixou eles me doparem mais.

- E por que chamaram o advogado?

- Não sei. Mas eles precisavam dele para pagar a conta, e como eu estava passando por alguém esquizofrênico, e era menor de idade, eles precisavam também do meu tutor legal para me internar.

- Eles internaram você?

- Não. Eles não contavam que o tio Aziz não só acreditaria em mim, como me aconselharia a procurar a polícia.

- E você foi? - Ela perguntou confusa.

- Fui. Mas antes que eu falasse com o delegado, o Jorge me convenceu a não fazê-lo, afinal você estava morta e a única coisa que eu iria conseguir era destruir as nossas vidas, e eu iria deixar minha irmãzinha sozinha; o tio Aziz acreditava que eu estava exagerando por pensar que ele poderia fazer alguma coisa contra ela, já que ele é tio dela, mas eu não tive coragem de arriscar, eu não lembrava e ainda não me lembro de muita coisa do que aconteceu naquela noite, mas eu me lembro da perícia com que ele cortou você. - Disse passando as mãos pelos braços, ela suspirou. - Ela só tinha seis anos, desculpe-me, mas eu não poderia arriscar, eu percebi que para protegê-la eu precisva estar livre, e limpo, eu precisei contar tudo para o tio Aziz sobre a dependência que eu tanto me esforcei para esconder dele. - Ele balançou a cabeça. - Eu pedi ajuda a ele, e ele me mandou para uma clinica. E estou limpo desde então, se bem que tomo remédio para dormir, isso é classificado como dependência?

- Não faço a menor ideia. - Respondeu sorrindo, ficando séria logo. - E o que aconteceu com os outros?

- Eu não sei, depois daquela manhã nunca mais voltei ao bunker, e não vi mais nenhum deles, além é claro do Jorge, e do Leonardo que me procurou pessoalmente para me entregar a fita.

- Mas você sabe quem são eles?

- Não exatamente. Quero dizer não sei se eu poderia chegar até eles hoje, ou até mesmo naquela época, eu não sabia onde moravam, e apenas alguns que eu sabia quem eram os pais. Eu realmente não me interessava em saber quem eram.

- Mas vocês eram um grupo fechado e exclusivo!

- Sim. Para entrar no grupo tinha toda uma cerimônia, mas eu estava no grupo porque era enteado da irmã de um dos sócios, e era eu quem bancava o Jorge na época. - Respondeu cansado.

- Se eu resolver procurar a polícia, você conta para eles tudo o que você me contou? - Perguntou delicadamente.

- Sim, com certeza. Tudo o que eu lembro eu direi.

- E a sua irmã?

- Ela já sabe da história, e se sente culpada, por eu não ter feito a coisa certa por ter temido pela segurança dela, apesar que ela também acredita que o tio jamais faria qualquer coisa contra ela, mesmo ela ficando tão decepcionada com as coisas que soube do irmão e do tio, ela sabe quanto a amamos, e hoje eu também acredito que ele jamais teria feito ou permitido que alguém fizesse qualquer coisa contra ela.

Deus também estava lá.Where stories live. Discover now