47 - E terás confiança, porque haverá esperança.

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O pai a ajudara a sentar, o ferimento não doía, mas seu coração continuava acelerado. Ela lembrou da primeira vez em que vira Michael na pizzaria, e ele olhou para ela com aqueles olhos negros e brilhantes, ela se perguntara, como era possível olhos tão negros brilharem tanto! Agora que ele sabia 'quem' era ela, será que ele olharia para ela do mesmo jeito?

Ela ouvira tudo o que o pai contara, o desespero de não encontra-la em casa, a ligação de Stivie dizendo que o filho estava preso, e o pânico quando Michael falara da rosa vermelha tatuada no pulso direito da garota que encontrara. O horror que foram os dias, os meses, os anos seguintes, a insegurança que ele sentia cada vez que uma das filhas saiam de casa, principalmente ela que já havia sido ferida de maneira tão monstruosa.

- E por que só agora o senhor está me contando tudo isso? Por que nunca me disse como se sentia? - Perguntou desestimulada e triste.

- Eu nunca disse abertamente do quanto eu estava em pânico, porque eu acreditava que era a minha obrigação cuidar de você; e eu decidi falar sobre o Mike porque ele queria saber quem era o seu pai, e o Stivie me aconselhou a te contar a verdade, era isso que eu queria conversar com você naquele jantar. E agora o Mike já sabe quem é você, ele viu a sua tatuagem.

- Mas minha tatuagem é diferente agora, não entendo como ele pode ter tanta certeza de que eu sou aquela garota só por causa de uma tatuagem que nem é mais igual. - Comentou confusa.

Ele deveria querer distância de uma mulher que por causa dela, ele foi preso. E até onde era de conhecimento dele, vai se saber o que essa pessoa fez para ser deixada abandonada no meio do nada daquele jeito! Sacudiu a cabeça quando percebeu que estava pensando em si mesma na terceira pessoa, fizera muito isso nos primeiros anos, quando ia falar sobre o assunto sempre falava na terceira pessoa, e segundo os psicólogos era uma maneira de fugir da realidade, e era preciso enfrentar a realidade de que aquela garota 'era' ela, e que não havia nada que ela pudesse fazer para mudar isso. Concentrou-se no pai.

- Ele não estava bem, estava muito alterado e aflito, e o Stivie contou toda a verdade para ele.

- Vai ser difícil a convivência com ele agora. - Sussurrou desiludida.

- Por que você acha isso? - Perguntou o pai triste.

- Olha para mim pai! Tudo de ruim acontece comigo. - Disse com os olhos marejados.

- Eu vejo uma mulher incrível, que mesmo com medo arriscou a própria vida para ajudar um garoto que estava sofrendo, tem ideia do quanto eu estou orgulhoso de você? - Perguntou emocionado.

- O senhor não está zangado comigo? A mamãe está furiosa! - Tentou sorrir.

- Porque eu estaria zangado? Eu tenho uma filha heroína. - Disse acariciando os cabelos da filha. - E sua mãe só está apavorada, com todas as mudanças que estão acontecendo, você sabe que ela não lida bem com mudanças.

- Eu sei! Mas às vezes ela fala umas coisas que machucam profundamente.

- Eu sei minha filha. Tenha paciência com ela. - Pediu carinhosamente. - Pra ela é muito difícil não ter o controle de tudo. Nisso infelizmente ela é muito parecida com o seu avô.

- Eu tenho paciência pai, e ela deveria pensar em tudo o que meu avô perdeu, porque queria que tudo e todos fossem como ele. - E uma imagem invadiu sua mente. Sua mãe puxando Michael para um abraço e dizendo a ele. - "Você não sabe, mas eu devo o meu tesouro mais precioso a você". - Pai a mamãe sabe que foi o Michael que me encontrou naquela noite? - Perguntou olhando-o nos olhos.

- Sim. - Ele respondeu secamente.

- O que mais pai? - Perguntou desconfiada.

- Nada minha filha. Mas você sabe como sua mãe e o Stivie não se suportam, e dever alguma coisa para o filho dele para ela foi meio complicado.

Deus também estava lá.Where stories live. Discover now