Fiquei observando meu pai voltar a vida, eu me segurava no Justin até reprimir um grito, as lagrimas desceram pelo meu rosto eu não aguentava mais a dor. Vi os olhos dele abrirem e sorri por vê-lo bem.
—Querido! — Amélia disse aliviada. Ele tentou falar, mas desistiu respirando fundo. — Está tudo bem. Kylie, salvou você. — ela falou, Mason tentou gesticular e isso fez Amelia se virar. — Ai meu Deus! Você está sangrando. — ela gritou soltando ele e vindo ate mim. Justin se inclinou.
—Merda, Kylie! — ele falou bravo e tentou me pegar no colo, mas eu recusei.
—O que está acontecendo? — Amelia perguntou exaltada.
—Nada demais. — disse, engolindo a seco, Justin me olhava fixamente.
—Astra! — ele gritou a todos pulmões.
Os médicos do palácio entraram com maca e tudo mais. Astra apareceu e então seus olhos arregalaram ao me ver, ela sumiu e voltou rapidamente com o colar, colocando na minha mão, Justin me sentou e eu fechei os olhos relaxando meu corpo na cadeira.
—Você tem que parar com isso! Vamos ter que tirar sua magia? — Justin começou a gritar e eu simplesmente desliguei deixando o gritar comigo sem que eu escutasse. Senti algo gelado em meu peito e abri os olhos vendo um médico ali.
—O que você está sentindo? — ele perguntou e eu afastei seu estetoscópio.
—Nada, eu estou bem. — falei me levantando. — Eu vou trocar de roupa. — passando por ali, Astra veio ao meu lado.
—Eu já mandei Violetta trazer o médico. — ela falou e eu assenti.
—Fica aí e acalma ele. — pedi me referindo ao Justin, Astra hesitou em seguir, mas acabou ficando.
Segui sem interrupções e então entrei no meu quarto, desviando de Grace, entrei no banheiro fechando a porta com a cachorra do lado de fora. Tirei aquelas peças vendo o sangue em minha calça. Meu coração apertou novamente e as lagrimas desceram, minha cabeça latejou e eu soltei a peça me ajoelhando no chão para chorar sem medo de ser ouvida.
Isso provavelmente era um aborto e tudo tinha acabado, o que tanto lutamos para tentar salvar, eu matei. Eu me sentia ainda mais culpada do que quando hesitei em salvar o Justin. A dor estava se espalhando por todo o meu corpo. Eu queria sumir. Me punir por ser tão estupida, mas não conseguia me mexer, eu já tinha me deitado naquele chão gelado e abraçava minhas pernas chorando compulsivamente.
[..]
—Kylie? — a voz de Justin estava mais calma, eu já tinha tomado um banho, mas ainda continuava no banheiro, com um vestido leve, olhando para aquela calça suja de sangue. A dor no útero tinha passado, eu já tinha vomitado duas vezes durante meu banho, minha cabeça latejava. Eu não queria responder. Não me sentia bem para brigar. — Você está bem? — ele perguntou e vi sua sombra contra a porta. — Se não responder eu vou arrombar essa porta e ainda não estou bem para isso. — revirei os olhos.
—Estou bem. — falei com a voz falha, limpei meu nariz e soltei a calça fitando o teto.
—Sai daí, por favor. — ele pediu e eu neguei, mas notei que ele não podia ver.
—Não. — respondi sem me mexer.
—Kylie... — sua voz fico baixa.
—Não quero sair, não vou sair. Eu... — gritei, mas parei sendo tomada pelo choro.
—Eu não posso fazer nada com você ai dentro. — ele ficou algum tempo em silencio. A porta foi aberta, não me mexi, ele entrou e a fechou. — Não me deu escolha. — revirei os olhos, Justin se sentou do meu lado e eu me afastei. — Kylie, não se afasta. — pediu com a voz embargada, olhei para ele. — Me desculpa, eu não quis gritar com você. Eu só fiquei assustado. Sabemos o risco de você usar magia e evitamos isso comigo. Quando vi você lá, eu sabia que você estava com dor. Fiquei com medo de perder vocês dois.
Eu voltei a chorar sem conseguir dizer nada, ele me abraçou e eu não evitei, apenas o abracei forte.
—Desculpa. Eu... Não queria perder o bebê. Eu... — falei em meios as lagrimas. — Chamei ele de pai e então ele teve um ataque cardíaco. Igual você. Eu vi vocês dois morrendo e eu sem poder fazer nada.
—Quando eu tive um ataque cardíaco? — Justin perguntou confuso, fitei seu rosto confuso e então bufei. — Era isso que você escondia? — ele perguntou com um sorrisinho. — Você me impediu de ter um ataque cardíaco?
—Não, eu curei seu coração de um ataque cardíaco. Você parou durante a cirurgia, eles não conseguiram trazer você de volta e eu trouxe, curei seu coração. — ele soltou o ar lentamente e me abraçou.
—Você precisa parar de me salvar, eles são médicos. — Justin afagava minhas costas.
—E não puderam fazer nada para fazer seu coração bater de novo, eu vi, você parou completamente e nada te trazia de volta. Eu não podia ter um filho sem pai. Agora eu tenho um pai sem filho. Eu... Como posso sempre fazer isso? — perguntei voltando a chorar.
—Porque você se importa demais e isso é incrível em você. Talvez esteja na hora da pedra azul. — Justin me olhou atentamente.
—Se eu ainda estiver gravida. O que pela a quantidade de sangue não deve existir mais. Eu não sei se posso passar por isso. — falei com o coração partido, me afastei dele sentindo toda a culpa me consumir. A pedra com poderes estava em meu pescoço.
—Kylie. — o medico falou e eu sorri para ele.
—Doutor. — disse engolindo a seco. Tentei formular uma frase, mas não conseguia.
—Vamos te examinar. — assenti me deitando na cama, ele abriu sua maleta, colocou suas luvas e veio com o aparelho de ultrassom portátil, levantei o vestido e ele passou o gel colocando o aparelho.
—Como ela está? — Justin perguntou se sentando ao meu lado na cama.
—Bem, não parece ter sido nada. Porem... — ele mexia freneticamente o aparelho em minha barriga, pressionando o local com força.
—O que? — perguntei agoniada.
—Parecem ser dois. — o medico intercalou o olhar em nos dois e eu me senti tonta, me virei rapidamente vomitando ao lado do médico que pulou.
—Gêmeos? — Justin perguntou alisando minhas costas.
—Eu não vou dar garantia, por ser um aparelho portátil, mas é o que está mostrando na tela. — limpei minha boca e me ajeitei na cama.
—Como ninguém viu isso até agora? — questionei confusa.
—Porque está recente e nesse aparelho é difícil de ver, com a evolução da gravidez deve dar para ver melhor, garanto um resultado concreto quando você estiver com mais de 12 semanas.
—E o sangramento? — perguntei me ajeitando na cama para ficar sentada.
—Segundo o ultrassom não aconteceu nada com o bebê, por isso quero fazer mais exames para saber do que foi esse sangramento e se devemos nos preocupar. Por enquanto, fique de repouso, ok? Eu vou solicitar os exames para ver se pode fazer aqui ou se precisar ir para um hospital.
—Você sabe que precisa falar com a Violetta? — Justin perguntou se levantando.
—Sim, ninguém aqui sabe, só nos. Eu sei, Alteza. Não se preocupe, seus sogros não vão ficar sabendo.
—Obrigado. — Justin cumprimentou o médico que se retirou. Eu cobri meus olhos com meu braço.
—Não fale nada. — pedi sabendo que ele iria falar algo quando a cama afundou, então ele apenas se juntou a mim com sua mão em minha barriga, coloquei a minha por cima sentindo meu corpo em chamas e ao menos tempo gelado.
[..]
Eu tinha adormecido com a cabeça a mil, inúmeros sonhos e pesadelos me assombraram por esse período me fazendo acordar assustada com meu coração quase saltando do peito.
Olhei em volta vendo que Justin permanecia ao meu lado, assistindo televisão.
—Acordou? — ele perguntou me olhando, estranhei sua pergunta e apenas assenti me levantando indo tomar água.
—O que aconteceu? — questionei após beber água.
—O médico não conseguiu os exames aqui e está ajeitando tudo no hospital. Seu pai está descansando no quarto. Você teve inúmeros pesadelos durante essas horas e acordou várias vezes, voltando a dormir em seguida. — suspirei indo me deitar, o abracei e ele afagou minhas costas.
Ficamos em silencio por um longo tempo, eu fechei meus olhos escutando seu coração bater.
—Kylie? — abri os olhos vendo minha mãe entrando no quarto pouco iluminado.
—Oi. — disse me levantando. Segui ao seu encontro e saímos do quarto para a sala.
—Como você está? — ela perguntou preocupada. — O médico que lhe atendeu queria fazer alguns exames, mas não estamos preparados para esses exames. Eu não ache que seja necessário. — entortei levemente a cabeça confusa.
—Por que? — questionei me sentando no largo sofá.
—Eu acho que você deveria ver uma curandeira de nosso povo. Isso deve ser consequência do álter ego. Você estar perdendo o controle da magia. — engoli a seco. — Ela é formada em medicina, mas entende nossa magia como algo que mexe com nosso corpo. Eu não quero que nada aconteça com você. Isso está parecendo muito sério. — ela segurou minhas mãos sentada ao meu lado no sofá que ficava ao lado do que estava.
—Mãe, isso não é o que parece. — falei e ela apertou minha mão com os olhos cheios de lagrimas, eu fiquei confusa, mas continuei. — Eu não ache que seja algo com isso. Eu... Não sei explicar.
—Eu acho que você deveria vê-la, ela vai poder te ajudar mais do que qualquer um de nós médicos ou bruxos. — assenti lentamente.
—Tudo bem, eu vou vê-la. — Amelia sorriu largo e se levantou.
—Vou pedir para chama-la. — ela se retirou feliz, me levantei suspirando e voltei para o quarto.
—Você contou? — Justin perguntou preocupado, o quarto estava iluminado e eu neguei.
—Ela quer que eu veja uma curandeira magia que é formada em medicina. — soltei um longo suspiro e me deitei novamente o fazendo deitar.
—Se você for vê-la, ela vai descobrir. — assenti suspirando. — E sua mãe vai saber. — arregalei os olhos e isso o assustou.
—Eu a chamei de mãe. — disse entendo a reação dela. — Hoje foi um grande dia para eles. — Justin riu.
—Uma hora isso ia acontecer. — concordei me deitando. — Oh Deus! Logo será nos. — ri já imaginando a dupla que eu esperava começando a falar.
—Eu não quero pensar nisso. — disse com dor em meu coração, imaginando que eu poderia perder novamente essa criança.
—Vamos garantir que você não perca. Vamos fazer os exames que o médico passou e seguir tudo a risca, dessa vez. — fitei o loiro e o beijei.
—Não posso prometer isso. — disse e ele riu.
—Eu sei, mas você vai se prevenir, como não tirar mais isso. — ele segurou a pedra e eu assenti.