Não é que a saudade machuque, mas ela tem o poder de tornar mais difícil a superação.
E estar diante aquela janela observando a forma como as flores de cerejeira caíam das árvores, fazia com que a morena se sentisse mal por inúmeras coisas que fez no passado. Coisas estas que talvez olhando para o resultado hoje, ela não as tivesse feito quando teve a oportunidade de escolher.
HyeMin ainda se sentia confusa, não de uma forma tão forte como a quase dois anos atrás. Hoje ela se sentia confusa por não saber o que tanto estava lhe faltando, e talvez isso a estivesse deixando deprimida por não ter certeza do que estava havendo consigo mesma.
Ela observou seu novo quarto com certo desânimo, ele era frio, e não se tratava da temperatura exata do local, mas sim da forma como as coisas eram tão sem vida. As paredes cinzas deixavam aquele lugar triste, assim como os móveis nos tons mais escuros e sem qualquer vínculo afetivo com ela.
Não era como se aquele fosse de fato o seu quarto, mas sim um cômodo onde teria de dormir todas as noites.
- Omma! - ela então saiu do quarto a procura da mais velha, e notou que não haviam quaisquer sinais de Nana pelo apartamento - Omma!
- É o que garota?! - a mais velha então surgiu no corredor, segurando uma colher enquanto secava as mãos em um pano de prato.
- O que fizeram com a Nana? - ela perguntou encarando a mais velha - Eu não a vi desde que cheguei.
- Ah, a gata. - a senhora Park coçou a garganta, e suspirou antes de responder - Quando nos mudamos ela não apareceu, e acabamos esquecendo de ir procurar ela depois.
HyeMin precisou de quase 4 minutos para processar o que havia escutado, e quando pareceu compreender bem o que sua mãe havia dito, a morena arfou descrente e sentiu parte de seu peito se agitar com raiva por isso.
Eles sabiam que Nana era a única companhia de HyeMin, mas nem sequer isso os fez darem mais atenção e carinho a gata, que provavelmente deve ter virado de rua agora.
- Como assim não se deram nem a droga do trabalho de procurar por ela? Qual é o problema de vocês?! - a morena então explodiu em pura raiva, e viu quando a face de sua mãe se tornou vermelha pela raiva.
- Sugiro que meça suas palavras, ou não me responsabilizo dos meus atos depois. - a mais velha avisou se aproximando dela - Era só uma gata, não uma criança.
HyeMin piscou algumas vezes, tentando controlar toda a sua raiva e preocupação com a felina, e sem qualquer filtro ela acabou soltando a frase que gritava em sua mente, quase como se implorasse para ser dita.
- Vocês não têm coração, parecem feitos de mármore! - a morena só sentiu seu rosto arder após proferir aquelas palavras, e se voltou para a mais velha com um olhar frio - A senhora guardou esse tapa por quase dois anos, não foi? Feliz agora?
A mais velha não acreditou quando viu a filha falar tão friamente, e até mesmo sentiu uma ponta de arrependimento após aquele gesto, mas a senhora Park era orgulhosa demais para se desculpar, e esse sempre foi um dos maiores motivos para que mãe e filha nunca tivessem uma convivência saudável.
A senhora Park então viu a filha calçar seus tênis, e sair de casa batendo a porta com força. Aquele era o primeiro gesto de raiva que ela havia presenciado da mais nova, e pela primeira vez ela teve medo do que HyeMin pretendia fazer após sair.
A mais nova nunca havia tido qualquer ação semelhante em anos vivendo com seus pais, e mesmo que hoje ela não fosse mais uma criança assustada, HyeMin ainda era uma garota emocionalmente frágil.
E com uma pré disposição a cometer atos arriscado contra a própria vida.
.........
Caminhando pelas ruas com a mente agitada e confusa, HyeMin parecia não se importar qual caminho estava seguindo, ela apenas andava e andava como se não necessitasse ao menos parar nos sinais, para que não acabasse sendo atropelada nas avenidas movimentadas da cidade.
A jovem sentia seus olhos arderem mais que sua bochecha agora vermelha, ela queria chorar por já estar de volta ao seu inferno pessoal, mas ainda mais por saber que Nana poderia estar com frio, machucada, com fome ou até mesmo... morta. Tudo aquilo a deixava a cada segundo mais angustiada, e decepcionada com seus pais.
A morena sentiu quando o ar foi ficando mais difícil de chegar aos seus pulmões, e a queimação em seus pulmões lhe arrancou a última gota de oxigênio restante, a levando a ficar zonza e assustada por não conseguir respirar. Suas mãos rapidamente foram ficando geladas, assim como o seu coração que parecia estar prestes a sair do peito por bater tão rápido.
Ela levou uma das mãos ao peito, começando a ficar pálida.
A Park nunca havia sentido aquilo com tanta força, e nas poucas vezes em que teve uma crise dessas ela conseguiu se recuperar rápido, porém agora ela estava prestes a cair no meio da rua, e sequer seu celular ela havia levado para avisar onde estava para algum de seus amigos.
E talvez ter parado diante a uma loja de antiguidades tenha sido sua salvação, levando em conta que a morena atrás do balcão daquela loja já havia notado que a Park não estava nada bem.
A jovem então saiu da loja ao ver que HyeMin estava quase desmaiando, e se apressou em segurá-la para que não fosse ao chão. Conseguindo notar o quanto a jovem estava ficando gelada, além de trêmula.
- Hey, calma. - a morena pediu ajudando HyeMin a se sentar no banquinho atrás do balcão - Tente se acalmar, e respire pela boca.
A Park buscou trazer qualquer vestígio de ar ao seus pulmões, e mesmo que ela não estivesse de fato obtendo um resultado tão bom, ela conseguiu sentir seus pulmões diminuírem a queimação, conseguindo se acalmar e lentamente voltar a sua respiração normal pelo nariz.
- Aqui, beba um pouco de água. - a jovem então lhe estendeu uma garrafinha, e a observou ficar com mais cor no rosto - Se sente melhor?
- Sim... - ela respirou fundo, e olhou melhor para a jovem que havia lhe ajudado - Obrigada.
- Imagina, sei como podem ser perigosos os ataques de pânico. - ela declarou dando um sorriso gentil - Me chamo Jennie, e você como se chama?
- HyeMin. - ela respondeu tornando a beber mais da água que lhe havia sido dada, e observou melhor a loja.
O local não era muito grande, mas ainda assim parecia ter espaço o suficiente para acomodar todas as estantes, e prateleiras onde as antiguidades ficavam, e até mesmo a iluminação parecia combinar perfeitamente com todo o contexto da loja.
Era um local bonito, que conseguia passar uma sensação de bem estar. Mesmo que fosse apenas uma loja.
- Acho melhor eu ir agora, mas obrigada novamente. - HyeMin se colocou de pé, e se curvou brevemente para a morena a sua frente.
- Tem certeza de que está bem para ir embora sozinha? - Jennie então a observou com mais atenção, notando que a morena a sua frente não demonstrava estar sequer perto de bem.
- Tenho sim, não precisa se preocupar. - HyeMin tentou soar convincente, mas não surtiu efeito com Jennie.
- Olha já estava na hora de fechar a loja mesmo, então eu posso te deixar em casa. - a Kim então declarou não se importando com qualquer protesto que poderia vir da Park.
A mais baixa a olhou confusa diante tal empenhou em ajudá-la, e mesmo não conhecendo Jennie ela acabou se dando por vencida quanto a companhia, e observou a jovem fechar a loja e seguir com ela pela calçada. Como se ambas já fossem amigas a muito tempo.
"Eles se parecem nisso."
A Park pensou após olhar para a mais alta, e notar que mesmo Jennie não a conhecendo, ainda assim ela parecia estar sempre se certificando de que ela não teria mais algum ataque ou qualquer outro mal estar.
[....]
A rotina de um modelo por vezes é exaustiva e até mesmo estressante, mas para SeokJin poder mostrar o quanto ele era talentoso não apenas em suas apresentações nos teatros locais, como ainda ser capaz de ser um dos modelos mais bonitos da empresa onde havia assinado contrato, era no mínimo gratificante.
O loiro sorriu em agradecimento após receber seu café, e observou seu dongsaeng concentrado no jogo novo que havia baixado no celular, o que não era tão incomum, mas que para ele era um sinal claro de ausência de vida social.
- Adoro conversar com você, sabia Jeon? - o mais velho perguntou num tom irônico, e pareceu obter resultado após vê-lo erguer o olhar.
- Desculpa hyung, mas o meu irmão me mandou a demo do jogo que ele vai lançar, e quer minha opinião sobre a jogabilidade. - o mais novo contou deixando o celular sobre a mesa - Mas sobre o que você quer falar?
- Sobre você aceitar a proposta de fazer a campanha comigo. - SeokJin falou bebericando seu café.
Jungkook suspirou levemente cansado daquela conversa, e negou levemente antes de depositar sua atenção na janela ao lado da mesa onde estavam.
- Não gosto de ser o centro das atenções hyung, e não sou fotogênico. - o mais novo declarou fazendo SeokJin rir de tal alegação.
- Em que país você não é fotogênico? - o loiro perguntou acertando um tapinha leve na cabeça do mais novo - Você viu como ficou bem naquela foto que tiraram sua, então use uma desculpa melhor que essa.
O moreno rolou os olhos realmente cansado daquela conversa, e optou por ficar calado já que tudo o que ele usasse para rejeitar a campanha, seria facilmente retrucado pelo mais velho a sua frente. Era como se a sua vontade de permanecer longe de toda aquela atenção que parecia ser ótima para o mais velho, estivesse entrando por um ouvido e saindo pelo outro de SeokJin.
Foi então que Jungkook decidiu ir até o balcão e pedir algum dos sucos daquele cardápio, e acabou não vendo que bem em frente aquela cafeteria estavam HyeMin e Jennie, ambas apenas aguardando que o sinal fechasse para que a Park pudesse adentrar ao edifício que ficava em frente ao estabelecimento.
A mais baixa então olhou para Jennie, não sabendo o que diria em agradecimento após toda aquela ajuda, e notou que a jovem observava aquele edifício luxuoso com certa desdém. Algo que até mesmo ela havia feito ao ver onde viveria, e sutilmente a Park limpou a garganta obtendo a atenção da outra jovem.
- Obrigada por ter me acompanhado, e por ter sido tão legal comigo naquele momento. - ela falou não conseguindo manter o contato visual, e obteve um sorriso por parte de Jennie.
- Eu só fiz o que qualquer pessoa faria, não precisa agradecer. - a Kim declarou sincera - Espero que fique tudo bem.
HyeMin acenou com a cabeça deixando um meio sorriso transparecer, e se curvou brevemente antes de virar as costas para poder adentrar ao edifício onde morava. E bastou que o porteiro a cumprimentasse, proferindo seu sobrenome, para que os olhos de Jennie se arregalassem em surpresa.
Então aquela era a tão falada Park HyeMin, a garota por quem Taehyung havia sido perdidamente apaixonado, e a mesma garota que era filha da insuportável senhora Park?
Ela ainda não parecia crer em tal coincidência.
- Cara o mundo é muito pequeno mesmo. - ela declarou para si mesma após o choque inicial.
E mesmo que não tivesse deixado transparecer que também a conhecia - mesmo que indiretamente - , HyeMin ainda processava o fato de ter conhecido a jovem com quem ela torcia estar a felicidade de Taehyung, de uma forma tão desastrosa.
Ambas as jovens sabiam da existência uma da outra, e ambas sabiam de seus papéis na vida do Kim, mas naquele momento tudo o que elas conseguiam processar era que nenhuma de suas suposições quanto a outra, estavam certas de fato. Pois naquela tarde elas haviam tido um contato inesperado, que apesar de ter ocorrido por conta de uma crise forte de HyeMin, ainda assim havia sido relativamente bom.
Tendo até mesmo a chance de resultar em uma possível amizade, caso elas tivessem a oportunidade de convivência. O que não parecia ser tão difícil, já que entre elas havia uma ponte cuja qual ambas nutriam não apenas um sentimento, como uma convivência constante.
Uma ponte que atendia por Kim Taehyung.
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Olá jujubinhas, como estão?
Espero que tenham gostado do capítulo,e me desculpem os erros.
Bjs amo vocês, e não desistam de mim 💜💙.