Casa da Kofuku e do Daikoku, 15h00...
Yato
"O almoço estava muito bom, Daikoku." A Kofuku deu um pequeno sorriso ao mesmo, tinham passado alguns dias mas ainda estavam todos bastante deprimidos por a Hiyori se ter ido embora. O facto de ela nos ter esquecido tão facilmente também no ajudava nada, e à conta disso, o Yukine manchava-me um pouco mais a cada dia que passava.
"Obrigado." O Daikoku respondeu à sua Deusa, também com um sorriso bastante pequeno. "Vou lá para cima." O Yukine informou e levantou-se da sua almofada, ultimamente ele tem passado os dias fechado no nosso quarto e a ver aquele caderno com os desenhos que fizemos para a Hiyori.
"Yato, podes ajudar-me a arrumar uns caixotes, por favor?" O Daikoku pediu-me e acenti, levantando-me do chão. Surgiu mais uma tontura e tive que fingir que nada tinha acontecido.
Caminhei atrás do Daikoku e fui pegando nos tais caixotes que ele queria guardar, mas as dores da mancha continuavam a dar cabo de mim. Já só faltava arrumar 3 caixotes, por isso dei mais um esforço para os levar aos 3 de uma vez. Empilhei-os uns em cima dos outros e peguei neles, deixando-os no armazém.
"Obrigado, acho que já está tudo." O Daikoku informou-me e acenti enquanto caminhava atrás dele, para dentro de casa. "Vou para o quarto." Informei assim que entramos, a Kofuku estava a comer um chocolate enquanto via uma revista qualquer.
Mais uma das minhas tonturas surgiu e tentei chegar pelo menos às escadas, mas os meus olhos simplesmente fecharam e senti o meu corpo embater contra o chão.
Kofuku
"Vou para o quarto." O Yatinho disse assim que entrou em casa com o Daikoku. Continuei a comer o meu precioso chocolate enquanto via a revista de bikinis deste ano. Queria um deles, sobretudo porque eram lindos, mas não havia propriamente uma razão para eu os comprar, visto que não posso sair de casa e por isso não posso ir à praia. Se lá fosse, provavelmente ia provocar um tsunami só com a minha presença...
Saltei assim que ouvi um estrondo, algo tinha caído ao chão violentamente. Surpreendi-me assim que vi o Yatinho estendido junto às escadas e sem se mexer, por isso larguei de imediato a minha revista e o chocolate. "Yatinho!" Guinchei preocupada enquanto corria até ele.
"O que se passa?" O Daikoku perguntou mal entrou na sala, mas quando me preparava para me ajoelhar e tocar no Yatinho, ele puxou-me para trás e não me deixou aproximar dele. "Não lhe toques, provavelmente ele está manchado." O Daikoku alertou e fiquei a olhar para o Yatinho.
"O Yukine manchou-o outra vez?" Perguntei surpreendida e o mesmo desceu as escadas, provavelmente preocupado depois de ouvir aquele barulho todo. "Yato!" O mesmo gritou de imediato, ajoelhando-se ao lado do seu Mestre.
"Não... Não o posso ter feito outra vez!" O Yukine murmurou enquanto tirava o casaco ao Yatinho (ele estava de barriga para baixo). Assim que lhe levantou a camisola encontrou uma mancha que preenchia toda a sua zona das costas, o que fez toda a gente arregalar os olhos.
"Não... Eu corrompi o Yato..." O Yukine murmurou baixo. "Daikoku, arranja-me água benta." Pedi e o mesmo ficou a olhar para mim durante algum tempo, provavelmente com medo de que eu ficasse corrompida por tocar no nosso paciente.
"Vamos lá, Daikoku! Temos que ajudar o Yato!" Acordei-o dos seus pensamentos, acho que ele tinha ficado surpreendido por eu ter dito "Yato" em vez de "Yatinho".
"Certo." O mesmo disse e saiu de casa, provavelmente ia até uma fonte buscar a água benta que lhe tinha pedido. O Yukine virou o corpo do Yato para cima e o seu rosto e pescoço também já estavam corrompidos. No momento, a mancha estava já nos seus braços e provavelmente a caminho das suas pernas.
"Como é que isto aconteceu? Por que é que ele não me disse que eu o estava a corromper?" O Yukine questionou-se a si próprio em voz alta. "Provavelmente corrompeste-o por causa da Hiyori, e talvez ele não te tenha dito nada porque achava que conseguia controlar a mancha." Tentei explicar a fim de acalmar o loiro.
"Se a Hiyori estivesse aqui, nada disto estaria a acontecer..." Ele murmurou baixinho e desviei o olhar. "Kofuku!" Ouvi o Daikoku chamar e o mesmo entrou em casa com um balde cheio de água benta. Fui até à cozinha e peguei nas luvas de lavar a loiça, pelo menos iria usá-las para não ser corrompida. Caso fosse, isso também iria acabar por corromper o Daikoku, e eu não queria isso.
Assim que voltei à sala, peguei numa toalha e mergulhei-a no balde de água benta, passando a mesma no peito do Yato, que estava completamente roxo. Mas não desapareceu quase nada da mancha, o que me deixou ainda mais preocupada.
"Não está a fazer efeito." O Daikoku comentou e mordi o lábio. "Tenta deitar um pouco de água diretamente na mancha." O Yukine sugeriu num tom de voz preocupado. Acenti em confirmação e peguei no balde de água benta, deitando alguma da mesma na barriga do Yato.
Apenas uma parte da mancha desapareceu e foi necessária bastante água para isso, o que me deixou ainda mais preocupada.
"Ele precisa de tomar um banho de água benta." Acabei por dizer em tom de desespero, o que fez o Yukine baixar a cabeça. "Tira a camisola, por favor." O Daikoku pediu ao mesmo. "Para quê?" O loiro perguntou, confuso. "Preciso de ver se também não estás corrompido." O Daikoku explicou e o Yukine colocou-se em pé, tirando a camisola. Felizmente nenhuma parte do seu corpo estava manchada, o que me deixou mais aliviada. Se o Yukine também estivesse corrompido teria que ser submetido a um ritual de purificação mais uma vez...
Ouvimos o Yato gemer baixinho e por isso todos olhamos para ele. "Yato, levanta-te." Pedi ao mesmo e ele desviou o olhar. "Não vale a pena." Ele disse baixo. "Claro que vale a pena! Tu vais ficar limpo, eu prometo!" Tentei animá-lo, mas ele não manifestou nenhum entusiasmo.
"Não é isso... Quero dizer que não vale a pena limpar-me." Ele disse e arqueei a sobrancelha. "Como assim?" Reclamei e senti alguma água surgir nos cantos dos meus olhos, ele preferia morrer? Era isso?
"Sem a Hiyori, não vale a pena viver..." Ele disse com um tom de voz cansado e senti-me corar. Eu sei que ele tinha dito a coisa mais parva de sempre, mas ao mesmo tempo também tinha sido a mais fofa que ele alguma vez tinha dito.
"Claro que faz sentido! O que é que vou fazer sem ti?" O Yukine perguntou, também já a chorar. "Kofuku... Eu vou libertar o Yukine. Torna-o tua Regalia e deixa-me apenas morrer..." O Yato continuou o seu discurso dramático e arregalei os olhos, ele estava mesmo mal para chegar ao ponto de querer libertar o Yukine e torná-lo minha Regalia.
"Eu não vou fazer uma coisa dessas! Essa ideia é completamente estúpida!" Reclamei e limpei os meus olhos. "Kofuku, o que vamos fazer?" O Daikoku perguntou preocupado. "Vão deixar-me morrer, tal como eu quero." O Yato interferiu mas preferi ignorá-lo.
"Só há uma coisa a fazer..." Disse baixo e levantei-me do chão.
Casa da Hiyori, 15h30...
Hiyori
O fim-de-semana tinha chegado e hoje era Sábado, o dia em que eu e a Yama tínhamos combinado com a Ami sair com os seus amigos. Tomei um banho relaxante e aproveitei para fazer pequenos caracóis nas pontas do meu cabelo, acho que tinha que começar a cuidar um pouco mais de mim.
Afinal, não posso ficar solteira para sempre. Quero apaixonar-me por um rapaz e ter um namorado.
Escolhi um vestido amarelo que tinha em casa com umas sapatilhas brancas, e para finalizar fui lavar os dentes, depois do almoço. A Ami e a Yama combinaram vir ter a minha casa, e depois iríamos todas para o tal encontro com os rapazes.
Agora sentia-me uma verdadeira adolescente: a fazer a cabeça num 8 por causa dos estudos, a sair com as amigas, a sair com rapazes... Isto sim, era vida!
Não me lembrava do que tinha andado a fazer nos últimos tempos, apenas sabia que não tinha estado quase tempo nenhum com a Ami e a Yama, por isso seria bom passar a tarde com elas.
Olhei para a minha secretária e vi debaixo de um monte de livros um caderno que não era meu, tinha escrito na sua capa "Yukine". Quem era o Yukine? Espera, ele era uma pessoa, certo?
Acabei por ignorar aquele caderno e peguei no meu telemóvel para ver as fotografias que tinha tirado com a Ami e a Yama no restaurante, na hamburgueria. Estavam muito giras e surpreendentemente tinha ficado bem em todas elas, mas acabei por encontrar uma foto minha com 2 rapazes.
Eram os dois rapazes que tinha visto no dia em que fui à hamburgueria com a Ami e a Yama! O loiro e o do cabelo azul escuro! E aquele caderno com o "Yukine", o que queria dizer? O que tinha eu andado a fazer durante todo este tempo? Quem era este pessoal?
Espera, eu conhecia este pessoal.
De alguma forma, lembrei-me de que aquele rapaz loiro era o Yukine. E o rapaz do cabelo azul escuro era o Yato. O seu nome verdadeiro era Yaboku, por isso é que o nome do meu gato era Yaboku! Eu tinha-lhe chamado Yaboku para nunca me esquecer dele, mas na realidade isso tinha acabado por acontecer!
Como sou burra! O que fui eu fazer? Como é que me pude esquecer do Yato, do Yukine, da Kofuku e do Daikoku assim tão facilmente?
Alguém abriu a janela do meu quarto e fez um grande barulho, o que me fez gritar com o susto.
Fiquei simplesmente a olhar para a janela com uma cara estúpida enquanto via os cabelos da Kofuku serem embalados pelo vento.