1994 - A canção Memória ocult...

By comeasyouareleh

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☆ Livro 1 da série Privilegiados: Memórias Ocultas Enviada para passar as férias de verão na casa do... More

Playlist 🎸
Aviso!
Prólogo
Capitulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capitulo 26
Capitulo 27
Capitulo 28
Capitulo 29
Capitulo 30
Capitulo 31
Capitulo 32
Capitulo 33
Capitulo 34
Capitulo 35
Capitulo 36
Capitulo 37
Capitulo 38
Capitulo 39
Capitulo 40
Capitulo 41
Capitulo 42
Capitulo 43
Capitulo 44
Capitulo 45
Capitulo 46
Capitulo 47
Capitulo 48
Capitulo 49
Capitulo 50
Capitulo 58
Capitulo 51
Capitulo 52
Capitulo 53
Capitulo 55
Capitulo 54
Capitulo 56
Capitulo 57
Capitulo 59
Capitulo 60

Capitulo 10

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By comeasyouareleh



DORIAN

 A casa da mãe de Angel era muito diferente do luxo que a casa de seu pai ostentava. Existia um ar acolhedor de simplicidade. Até pude imaginar a bonequinha do mal, em sua versão mais nova, correndo através do piso de madeira enquanto exibia um sorriso traquinas. Marina alimentou essa imaginação, me enchendo de biscoitos e contando histórias que deixara a filha mortificada.

Angel nasceu prematura. Seu pai chorou feito um bebê com a chegada da bebezinha, gritando pelos corredores a novidade para estranhos e assustando as enfermeiras: "a minha filha nasceu! A minha filha nasceu!" Nunca se viu ali um recém papai mais feliz, tiveram que sedá-lo, tamanha era a euforia! Ela sempre fora geniosa, no jardim de infância chegou a fazer o coleguinha da turma engolir areia após ouvir dele um "enterrei sua Barbie no jardim", o que rendeu risadas da mãe e dores de cabeça no pai. Ver Audrey Hepburn na tv a fez decidir ser atriz. Os pais levaram a declaração a sério quando a garotinha se tornou a primeira da classe da escola de teatro juvenil.

Angel subiu as escadas para tomar banho, cansada de ouvir a exposição de si mesma. Marina acendeu um cigarro, encostando o quadril no mármore da pia enquanto me observava secar o resto da louça. O cabelo estava preso num coque e o rosto angelical franziu em uma careta preocupada. As suas feições não eram tão diferentes da filha: possuía os mesmos fios lisos, o mesmo sorriso também, exceto os olhos: uma das características expressivas que a bonequinha do mal herdou do Robert.

— Como Angel tem estado?

— Ela está bem. Fez até uma amiga.

— Ela fez?

— A Sam. As duas saíram juntas uma vez. Angel é bem divertida quando se permite ser.

Marina sorriu de um jeito triste, mas ao mesmo tempo cheia de alívio.

— Isso é bom.

Angel surgiu no batente da porta, trazendo sua bolsa vermelha. O vestido preto era soltinho e uma parte de seu cabelo estava caído ao redor do rosto.

Poderia contemplar a garota por horas, dias, uma eternidade, e ainda assim não seria capaz de pôr em palavras a atração febril que sentia por ela.

Marina tentou abraçar a filha lá no carro, mas ela apenas se esquivou e entrou. Sentei no banco do condutor, acenando uma última vez para sua mãe antes de arrancar.

— Você me leva até o vovô? A casa dele é perto e não vou demorar muito.

— É claro, sem problemas.

Ouvi com atenção as instruções sobre o endereço. Depois de passarmos por algumas propriedades, finalmente estacionei em frente a uma das casas geminadas de tijolos antigos na virada da rua.

Tirei o cinto. Minha companheira de viagem não se moveu.

— Você não vai descer?

— Sim, claro... — Engoliu em seco, olhando para a janela do avô com hesitação. — Eu só...

— O quê?

Percebi a tensão em seus ombros.

— Nada. Vamos lá.

Angel desceu do carro, batendo com a porta. Juntos percorremos o gramado verde até alcançar a escadinha da porta de entrada. A garota tocou a campainha e roeu as unhas, como uma espécie de toc. Por que estava tão tensa?

Uma moça jovem alta abriu a porta e sorriu em expectativa. Esperei Angel dizer algo, porém ela estava paralisada. O que havia de errado? Nunca a vi assim...

— Posso ajudar?

— O que aconteceu com a Amelia?

— Sou a filha dela. A mamãe não pôde trabalhar por alguns dias e me indicou. Ah, já sei quem você é! É a neta do Timothy, não é? Tem fotos suas espalhadas por toda a casa!

— Ele pode receber visitas?

— Claro! Ele acabou de acordar. — A mulher sorriu, dando espaço para entrar.

— Você quer que eu espere no carro? — Cocei a nuca, um pouco perdido.

— Não! — Angel quase gritou, agarrando o meu braço. Unhas pretas cravaram na minha pele e coloquei a mão por cima da dela. — Quero dizer... pode entrar também.

Talvez ela não quisesse estar sozinha?

— Vai ser bom. — A enfermeira tentou convencer. — O Sr. Levi adora receber visitas.

— Tudo bem.

Então entramos. A sala extensa tinha móveis antigos, obras de arte, prateleira imensa cheia de livros, e por fim, uma lareira embaixo da tv. Mas, com toda a certeza, o que mais chamou atenção foi o piano de calda perto da janela.

Angel parecia tão deslocada quanto eu. Tentei entender seu comportamento estranho, mas o seu avô apareceu antes de uma conclusão. Pisquei com força, tentando descobrir se a minha mente estava pregando alguma peça. Aquele rosto...

— Espera, o seu avô é Timothy Levi? — A minha voz saiu um chiado baixo, quase falho. — Eu pensei que ele fosse professor de piano, não um compositor premiado... Por que não me contou?

Angel desviou o olhar, corada.

— Não achei que fosse relevante no momento...

— Está brincando? Me contar que é neta de um dos maiores compositores de música clássica não é relevante? Ele fez trilhas sonoras mais legais de filmes mais legais. Como aquele filme gótico dos anos 70. É tipo um gênio!

— Depois falamos sobre isso.

— Olhe quem veio vê-lo hoje, Sr. Timothy. — A enfermeira apontou.

O velhinho de cabelos brancos custou a se aproximar com seus passos lentos. Olhou por cima dos óculos de grau para os dois jovens que invadiram sua casa.

— Oh! — Um sorrisinho encheu a expressão dele. — A minha netinha!

— Oi, vô. — Angel sorriu tímida. — Eu senti saudade.

Ela o abraçou e, do ângulo que eu estava, pude ver a garota deixar os sentimentos transparecer pela primeira vez desde que a conheci.

— E quem é esse rapaz? — Apontou sorrindo, as rugas enfeitando os cantos dos olhos.

— Eu me chamo Dorian, amigo da Angel. — Trocamos um aperto de mão firme. — Muito prazer em te conhecer, senhor..

— Verdade, rapaz? — Olhou para a neta. — Angel, querida! Você disse que só namoraria aos trinta — disse, fazendo todos gargalhar.

— Ele é só meu amigo, vô. Só vou namorar aos trinta. Eu prometo.

Então ele olhou ao redor da própria sala, silencioso, depois ergueu os olhos e me encarou outra vez. Franziu o cenho.

— Quem é esse rapaz?

Confuso, olhei para Angel em busca de respostas, mas tudo o que vi foi uma expressão de tristeza assumindo todo o rosto dela.

***

orri para fazer melhor. Não há nada que não possamos fazer com uma boa dose de resiliência.

— Espera... medíocre? Duvido muito...

   Angel passou o comecinho da tarde conversando com o avô. Eu me peguei encantado com esse seu lado; ela lhe deu o pequeno almoço, contou histórias, e mesmo que parecesse inventada de sua mente fértil, o velhinho muito simpático não parecia se importar.

Timothy tinha Alzheimer e avançava a cada dia. Não era chocante pensar? O gênio, que por muitos anos executou peças apreciadas em orquestras, estava se desintegrando mentalmente.

Angel era uma neta muito carinhosa, distribuindo beijos na bochecha e fazendo piadas bobas. Quando o avô se esqueceu quem ela era pela primeira vez, teve toda a empatia de esconder a emoção brutal de não ser lembrada, fingindo ser uma mera visitante, como ele supôs sozinho.

No fim da tarde, ela sentou ao piano e tocou as teclas com uma mestria que me surpreendeu. Executou Oltremare com graça, rindo todas às vezes que errava uma nota, o que arrancava sempre o riso dócil dele.

— Você se parece com a minha neta. — Ele sorriu para ela.

Angel riu baixinho e veio se agachar diante do avô sentado na poltrona. Segurou as duas mãos dele.

— Aposto que ela é muito bonita, hum?

— Ah, ela tem rosto de um anjo! Faria esse garotão aqui ao meu lado se desmanchar.

Ela faz, senhor. Ela faz...

— É mesmo? — Angel me olhou com diversão.

— Tenho a certeza que ele tem razão.

Angel corou.

— É uma menina muito inteligente, a minha garotinha. Agora ela tem um coração congelado, e isso dói. — Ele ficou sério. — Eu disse para a Marina fazer a coisa certa, mas ela se recusa...

Angel franziu o cenho.

— Fazer o quê?

— A menina... ela precisa se entender com o pai. As coisas não estão certas... eu não... Ele a ama, sabe? O sol nasce para ele quando ela sorrir.

Ela ficou pálida.

— Olá! Eu trouxe mais biscoitos! — A enfermeira trouxe uma bandeja. O cheiro de chocolate preencheu o ambiente.

— Na verdade, a gente precisa ir. — Angel forçou um sorriso. — Vamos pegar a estrada então...

— Ah, entendo...

Angel olhou para o velhinho sentado em sua poltrona favorita. Sorriu.

— Tenho que ir, vô. Mas prometo voltar, tá bom?

Timothy não respondeu, apenas sorriu inocente. Angel deixou um beijo em sua bochecha e finalmente deixou a casa, não me dando opção a não ser segui-la.

Ela entrou no carro, e eu imitei seus movimentos. Fiquei tão tocado pelos últimos momentos que até esqueci de ligar o veículo.

— Ele é adorável.

Olhei para Angel e vi um sorriso triste nascendo em seus traços. Deus, será que ela iria chorar? Eu não suportava quando as mulheres choravam. Dava vontade de pegá-las no colo, enxugar as impurezas de seus rostos e sussurrar que elas eram lindas e que tudo ficaria bem.

   Uma vez eu fiz Denise chorar quando caí de moto aos catorzes anos. Nada grave, mas ganhei uma fratura no pé esquerdo e um coração partido porque odiava vê-la triste.

— Quando os meus pais brigavam, era para a casa dele que eu ia. Era a minha rota de fuga. A gente tomava sorvete e depois obrigava a vovó fazer biscoitos o dia inteiro.

Angel fechou os olhos, perdida nas memórias. Permaneci em silêncio, disposto a ouvir se ela quisesse desabafar. Secretamente adorando essa sua versão, alguém que se permitia sentir as emoções.

— Quando eu me sentia sozinha, ele sempre cuidava de mim. Eu não tinha muitos amigos. Ele costumava ser meu único amigo... — Ela riu sem humor e trincou a mandíbula. — E agora nem se lembra de mim...

— Ele se lembrou.

— Então esquece, depois lembra, depois esquece de novo...

— Não pense dessa forma. Mesmo que a doença torne tudo muito confuso, uma parte do seu subconsciente sabe quem você é.

Observamos algumas crianças brincando em volta de uma árvore centenária.

— O meu pai morreu de leucemia. — Angel me olhou apreensiva. — Ele esteve internado durante três meses e chegou a ficar em coma. Era a pessoa mais importante da minha vida definhando numa cama hospitalar, e eu não podia fazer absolutamente nada. Eu tive que assistir o homem forte, que sempre cuidou de mim, precisar de ajuda. Teve dias que achei que a dor poderia me engolir, mas isso não aconteceu. Nessas horas, você encontra forças onde não sabe que existe. Então estive lá para ele até o fim, pois podia desmoronar depois. Não quando ele precisava de mim.

— Eu... sinto muito.

— Não, tudo bem. — Forcei um sorriso. — O que eu quero dizer com tudo isso é que você precisa mostrar para o seu avô que, não importa o que aconteça, ele sempre será o mesmo homem para você.

A viagem foi uma confusão desgastante, mas apesar de tudo eu conheci outro lado dela que eu não imaginava existir. Um lado humano que se importa com as pessoas. Uma garota meiga que conta histórias só para ver o avô sorrir. Uma garota torcendo para que, nem que seja por um segundo, ele nunca vá se esquecer dela.

— É por isso que a minha mãe me mandou para a casa do Robert. Achou que tudo isso estivesse me afetando demais, e provavelmente estava. Eu não queria sair de perto, então quando mencionei não querer ir para a faculdade para cuidar dele... — Ela abriu um sorrisinho. — Não fiz nada de errado ou algo assim, como vocês pensaram. Desculpa a decepção.

Ri baixinho.

— Esse era o meu último cigarro. — Jogou a bimba para fora da janela. Retirei o maço do meu bolso e ofereci. — Não, esse é seu. Quero dizer, tem uma loja de conveniência perto daqui.

— Angel, são apenas cigarros.

— Por favor — sussurrou, olhando para frente.

Talvez ela só quisesse um tempo sozinha? Tudo bem, eu poderia aproveitar e comprar algumas coisas para comer durante a viagem. Liguei o carro.

— Quem ligou para você hoje de manhã? Meu pai?

— Sim.

— Ele está muito bravo?

— Um pouco.

Robert esbravejou um sermão de quase cinco minutos no telefone, tão alto que tive que afastar o celular da orelha. Ouvi a voz de Denise no fundo, provavelmente pedindo a ele para se acalmar, e isso com certeza surtiu efeito, porque o homem abaixou o tom ao resmungar: "depois conversamos, apenas a traga de volta para casa."

Estacionei em frente à lojinha de conveniências, tirei o cinto e sussurrei: "espera aí, tá?" O lugar estava com pouco movimento, notei. Adquiri uma cesta no caixa, depois andei pelos corredores, apenas matando o tempo. Peguei salgadinhos, refrigerantes, algumas barras de chocolate... Ah, o bendito do cigarro também.

Quando saí carregando uma sacola marrom, ouvi a voz inconfundível de Angel aos gritos, o que me deixou em sinal de alerta:

— Não quero saber, seu idiota! Some da minha frente!

O fato de estar de costas não me impediu de reconhecer o ex namorado babaca. Angel estava encostada na porta do carro, encurralada.

— Você precisa me ouvir, Angel. Eu... Eu amo você. — A voz do idiota se tornou quase chorosa. — Você sabe que é verdade.

Que patético! Revirei os olhos e me aproximei, divertido pela forma como arranquei um olhar mortal do cara. Não que isso me intimidasse. Muito pelo contrário, era até engraçado.

— Está tudo bem, Angel? — Alternei o olhar entre os dois.

— Não, vamos embora!

Angel abriu a porta do carro, ignorando os protestos de Taylor. O traíra pegou a dica e se afastou enquanto eu me acomodava no banco do condutor.

— Comprei algumas coisas para você comer e... — Ela puxou a sacola da minha mão, pegando o maço de cigarro. — Okay...

Angel tremia de raiva, toda atrapalhada com a embalagem.

— Ei, ei! — Segurei suas mãos. — Calma...

— Eu tinha que encontrá-lo justo agora? — Fechou os olhos e respirou fundo, tomando um tempo para si mesma. — Posso senti-lo olhando para cá. Aquele imbecil...

Olhei através da janela e avistei Taylor parado na porta da loja, olhando para nosso carro como um cachorrinho que caiu da mudança. Alguns homens são realmente patéticos...

Mordi o canto da boca e olhei para Angel. Ela ergueu uma sobrancelha em apreensão quando eu me inclinei na sua direção.

— O que você está fazendo? — questionou quando toquei sua bochecha, descendo a ponta dos dedos lentamente pela sua clavícula. — Tudo bem, seu músico ambulante. Seja lá o que esteja pensando, não é uma boa ideia. Pode parar...

—Apenas entra no jogo. Faça a cabeça daquele otário esquentar...

Angel me lançou um olhar confuso e abriu a boca para argumentar, mas acabou rindo. Ele é louco, ela deve ter pensado. Mal sabia ela que a maior parte da minha loucura era acionada quando eu estava perto dela. Somente dela...

   — Ele ainda está olhando? — Tentou não rir, falhando. — Isso parece meio idiota.

Olhei para o exterior da loja e a expressão patética do cara se transformou em raiva. Tão divertido.

— Shhh, ele ainda está olhando — sussurrei, raspando os lábios na curva de seu maxilar. — Talvez seja melhor dar algo para ele se divertir.

Angel estremeceu com o toque. Adentrei meusdedos pelo seu cabelo da nuca, puxando os fios de leve num afago carinhoso. Fiqueisurpreso e excitado quando ela arfou. Olhamos um para o outro, a atmosferamudando completamente.

De repente, era como se o seu ex namorado não existisse mais, assim como o resto do mundo. Era como se só existisse eu e ela, bem ali, dentro daquele carro. Nossas respirações se misturavam, os narizes praticamente encostados enquanto eu já não sabia diferenciar a encenação com a realidade. Sentir o que eu estava sentindo não fazia parte do plano...

   Por puro instinto, mordi o meu próprio lábio por tamanha proximidade. Tentei manter o controle, porém Angel fechou os olhos e eu não tive reação a não ser fazer o mesmo; as respirações ofegantes, o curto espaço que me impedia de experimentar aqueles lábios corados feito cereja.

   Sem esperar mais, encostei a boca na dela de leve; um selinho inocente que me levou inconscientemente a afundar os dedos em seus cabelos, massageando a nuca para amolecê-la. Esperei ser empurrado, já que se tratava de uma pequena encenação. Mas em vez disso, ela deslizou a língua para dentro da minha boca, dando total acesso.

Qualquer hesitação da minha parte foi silenciada por um beijo de verdade cujo efeito foi transcendental. O roçar de línguas, que começou meio tímido, se transformou em urgência. Eu a apertei contra mim, aproveitando cada segundo para sentir as reações físicas.

Eu me senti como se tivesse voltado aos meus dez anos dando o primeiro beijo atrás da árvore da escola.

O que estava acontecendo comigo?

    Angel me tocava de forma suave, porém íntima. Ela me beijava com tanta vontade que eu já não sabia se era fingimento ou não. Aquilo não podia ser encenação... Porque eu sentia o quanto ela me queria. Suas mãos subiram timidamente para o meu peito, apertando de leve meus ombros como se tivesse matando uma vontade reprimida que tinha há muito tempo...

A temperatura do carro parecia mais quente, a mão dela adentrou a minha camisa e passou pelo meu tórax, descendo pelo torso até escorregar acidentalmente para o alto da frente do meu jeans. Porra...

Angel quebrou o beijo. Arregalando os olhos, ela riu e tampou a boca com as mãos.

— Foi sem querer, eu juro!

— Tudo bem, Angel. Relaxa, ok? — Contive um sorriso. — Não se pede desculpas a um cara por ter pegado no pau dele.

— Por que você precisa ser tão intensamente explícito?

   Minha risada preencheu o carro. Angel bateu no meu ombro, tentando não rir junto. Procurei seu pescoço com os lábios, sugando a pele abaixo da orelha e ela ofegou, me fazendo pensar se já tinha sido tocada daquele jeito. Tinha a sensação que não...

Isso me deixou louco. Evocou um dilúvio de imagens efusivas do que eu gostaria de fazer com ela, me perder no seu cheiro, sua saliva, seu toque...

Passei a mão livre em sua coxa exposta, subindo o vestido preto para cima. Eu estava curiosamente excitado e queria conhecer cada pedacinho de pele, mas Angel ficou tensa e colocou a mão por cima da minha, abaixando-a para um lugar seguro. Tudo bem, eu ganhei um limite.

— Ele... Ele já foi embora? — Arfou quando mordi o seu queixo, beijando-a nos lábios em seguida.

— Ele quem?

Arrastei os dentes pela pele delicada e ela riu baixinho, encolhendo o pescoço. Angel não respondeu, mas o seu olhar trancado na direção à loja cortou o clima e eu me afastei. Certo, o ex namorado: o motivo pelo qual começamos aquele beijo. Por um momento tinha esquecido que para ela era apenas... teatro.

— Ele já foi...

Angel puxou a bainha do vestido para baixo. Olhei para a porta da loja. Pelo menos ele teve a dignidade de não ficar assistindo...

— Acho que você mexeu com a cabeça dele o suficiente.

Ajeitei o volume recém-formado na calça e soltei um suspiro. Não ficava tão mexido por uma garota assim há muito tempo. Não daquele jeito a ponto de me imaginar com ela no banco de trás em uma rua deserta, trepando até perder a cabeça...

— Eu pensei que isso não levasse a beijar de verdade. — Angel ofegou.

— Foi você que me beijou primeiro.

Ela riu.

— E você não me parou.

— No final do dia, você realmente não resistiu as minhas boas graças. — Pisquei um olho.

— Cala a boca. — A bonequinha do mal tentou conter o riso.

Respirei fundo e liguei o carro. Angel manteve a atenção para fora da janela, e eu me concentrei na direção, talvez ignorando a tensão sexual que se instalou entre nós.

Seria apenas um teatro para ela? Porque, querendo ou não admitir, a maior parte do tempo eu nem precisei atuar...

***

Olá! O que vocês fariam se fossem Angel e estivessem presas dentro de um carro com Leduc enquanto o ex sem noção do ex está parado do lado de fora?

A) Aproveitaria a encenação para tirar uma casquinha do Leduc porque ninguém mandou ele ser gostoso.

B) Largaria ele na estrada e ia dirigir sem destino.

C) Sem resposta para isso. 




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