Lívia
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— O que está fazendo aqui? — indaguei com total surpresa ao chegar em casa e me deparar com Rafael sentado na calçada do meu apartamento.
— Eu precisava falar com você. — seus olhos me pareciam aflitos.
— O que quer falar há essa hora da noite? É tão importante que não podia ficar para amanhã? — indaguei sem paciência.
— Na verdade eu cheguei desde muito cedo, mas você quem não estava, só agora chegou. É tarde, mas eu preferi esperar! — ele explicou e seguidamente me olhou como se estivesse me analisando. — Afinal, de onde vem com seus sapatos nas mãos, cabelos desarrumado e blusa vestida pelo avesso? — pontuou me olhando demoradamente.
— Não te interessa! Minha vida não é dá sua conta. — vociferei.
— Por que você faz tanta questão de me tratar mal? O que eu te fiz?
— Comigo? Nada. — sorri friamente e continuei. —Mas matou um cachorro. Deu razões para uma pessoa se jogar de uma sacada e ainda se acha o bom moço da historia?
— Eu já paguei caro pelos meus erros e estou pagando até hoje. — uma lágrima saltou de seus olhos, não sei se por arrependimento ou se por puro teatro. — Você não é Deus para julgar as pessoas. Eu estive aqui quanto precisou de mim. O vilão que você faz questão de desdenhar, é um cara que se preocupa com você.
— Afinal, você ficou todo esse tempo me esperando para falar sobre o que exatamente? Estou com sono, polpe meu tempo e diga logo. Não me diga que para pedir absorção dos julgamentos?
— Quer saber Lívia? Esquece que um dia vim até aqui. Esquece que um dia tentei te dizer o que estava entalado na minha garganta. Você não merece ouvir. Você só enxerga o pior em mim, certamente se eu te falasse de um sentimento bom, riria como se fôra uma piada. — falou levantando-se da calçada e caminhando apressadamente para longe dali.
Eu até pensei em ir ao seu encontro e tentar me desculpar, mas preferi entrar em meu apartamento e estabilizar meus pensamentos. O dia com Laura me deixou absorta em sensações impensáveis. Até ontem Eduarda era dona de todos os meus sentimentos e hoje eu simplesmente entreguei meu corpo para outra garota. Eu amo Eduarda. Amei durante três anos, como posso pensar que em um único dia iria conseguir esquecer como se fosse magica? Lívia, você já se entregou antes e se quebrou em vários pedaços. Que tal fazer as coisas com mais calma desta vez? Você não sabe quase nada sobre a Laura e já se deixa se encantar tão facilmente? No fim você vai ser só a mesma trouxa de sempre: trocada e largada. Sem contar que não é o melhor momento para uma relação amorosa, sendo que seus sentimentos estão completamente confusos. Freia suas emoções, não pise no acelerador. Se ela realmente te quiser, terá que mostrar antes de você se entregar por completo. Aprenda a jogar, ou será sempre xeque-mate pra você. - conversei comigo mesma.
Rafael
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Perdi a coragem de falar. Ela não merece saber dos meus sentimentos. Lívia sempre vai enxergar o pior em mim. Vai sempre me julgar e me diminuir. Mesmo querendo-a, não posso me submeter a isso. É humilhante. Reconheço que agi como um moleque no passado e cometi erros imperdoáveis. No entanto, eu mudei. Eu sei que mudei. O Rafael que sou hoje jamais faria o que fiz antes. Me envergonho e me machuco com cada lembrança. Eu estava cego naquele momento. Assim como ela está agora. Cega por não notar que eu estava ali por ela, só por ela. Cega por não ver que me importo com suas dores e que por ela eu tento ser melhor. Eu achei que amei um vez, em relação a Eduarda, mas aquilo não era amor, era dependência. Eu estava doente e me afundava num poço de sentimentos ruins. Eu queria vingança a todo custo e atropelei quem estivesse no meu caminho. No entanto, com Lívia eu busco ser o cara que nunca fui... aquele que cuida, protege. Dizem que o amor muda as pessoas, quem sabe eu seja a maior prova viva disso? Ou talvez fosse. Mas ela resolveu estragar tudo. Estragou com suas palavras cortantes e seus dizeres frios e meramente calculados. Estragou quanto fechou seus olhos diante de quem estava despindo seus sentimentos. Estragou quando preferiu julgar ao invés de me ouvir. Essas lágrimas que agora caem rasgando meu coração, vão levar para longe esses sentimentos. Eu tenho fé que vão. Para mim não vale mais o preço de tentar. Cansei de me machucar com tantas recusas. Se ela quer continuar a sofrer por Eduarda, então que seja. Ou talvez, se quer viver um conto de fadas falho com alguém que acabou de conhecer, então que seja também. Cansei de triângulos amorosos, de amar quem nunca me quis e de me machucar com tantas recusas. Eu estou desistindo de vez e desta vez, para todo o sempre!