Casa do Cliente do Trabalho, 16h00...
Hiyori
"Encontrei a papa!" Informei o Yukine, mostrando-lhe uma embalagem plástica com pó amarelo lá dentro. O loiro acentiu depois de ver a embalagem e abriu o frigorífico, tirando de lá um pacote de leite. O mesmo pegou numa tigela para cereais e colocou lá algum leite, aquecendo-o no microondas durante 1 minuto.
Assim que o leite estava bem quentinho comecei a misturar o pó amarelo dentro da taça para cereais, formando assim uma mistura que mostrava que o que eu tinha encontrado era mesmo papa (por momentos pensei que tivesse misturado com o leite qualquer outra coisa esquisita...).
"Vamos lá, pequenino." A voz do Yato aproximava-se da cozinha, vinda do corredor. "Vamos, muito bem. É isso mesmo!" O Yato continuou a dizer e espreitei para o corredor de onde a sua voz vinha, encontrando-o com o bebé a dar pequenos passos pelo chão. O Yato agarrava os seus pequenos bracinhos, apoiado assim o seu corpo, enquanto o bebé se impulsionava para a frente, colocando os pés no chão cuidadosamente e muito devagarinho.
"Olhem só para vocês." Comentei enquanto os via, cada um deles ficava ainda mais fofo com a presença do outro. "Quem é um bebé grande? Quem é?" O Yato disse enquanto o bebé se abanava e tentava andar rapidamente ao mesmo tempo que fazia sons esquisitos, típicos dos bebés. "Já arranjei uma babete." O Yukine informou e segui o Yato e o bebé até à cadeira da mesa de cozinha mais próxima.
"Vamos lá papar." O Yato disse e acabei por sorrir de forma estúpida, adoro ouvi-lo dizer palavras fofas. O Deus sentou-se na cadeira e colocou o bebé no seu colo, que começou a mexer as mãos na minha direção. Peguei numa outra cadeira da mesa de cozinha e coloquei-a em frente à que o Yato estava sentado.
"Diz "ah"..." O Yato disse enquanto abria a boca para o bebé fazer igual. Enchi a primeira colher com papa e a criança (o bebé, não o Yato) abriu a boca, permitindo-me enchê-la e deixando-a suja nos cantos. Os bebés são mesmo fofos (quando não estão a chorar).
Por sua vez o Yukine também pegou numa das cadeiras da mesa e colocou-a ao meu lado e ao do Yato, ficando a ver o bebé abrir a boca ao máximo para ter mais comida de uma só vez. Pelos vistos é um goloso...
"Vocês parecem os pais dele." O loiro comentou enquanto apoiava a cabeça nas mãos e prendi o ar, acabando por corar bastante. Ele não devia dizer essas coisas à minha frente, visto que estou apaixonada pelo Yato (embora o Yukine não saiba isso).
"Vocês são os pais, eu sou o filho mais velho, e o bebé é o filho mais novo." O loiro continuou a sua análise e corei ainda mais com a ideia de o Yukine ser nosso filho, isso queria dizer que eu tinha tido filhos com o Yato... Pensar nestas coisas só me faz mal!
Senti as minhas bochechas aquecerem cada vez mais enquanto eu tentava não olhar para o Yato, apenas para o bebé cheio de papa à volta da sua pequena boca.
"Estou mesmo feliz por vos ter conhecido." O Yukine acrescentou e deu-nos um sorriso rasgado, numa situação normal eu também iria sorrir, mas estava demasiado envergonhada para o poder fazer. "Nós também. Não é, Hiyori?" O Yato disse e saltei na cadeira assim que o ouvi pronunciar o meu nome.
Olhei para o rapaz em causa e o mesmo tinha um pequeno sorriso no rosto, o que me fazia corar mais. "É..." Acabei por concordar e olhei para a tigela com papa.
O bebé tentou iniciar um pequeno choro mas o Yato começou a embalá-lo e a distraí-lo com alguns brinquedos. "Será que está com cólicas?" Perguntei enquanto via a criança ficar mais agitada enquanto choramingava. "Acho que não..." O Yato respondeu-me enquanto o bebé começava a chorar, ele tinha belos pulmões para gritar.
O mesmo começou a apontar para mim com os seus pequenos braços e fiquei confusa, o que se passa com ele? O Yato olhou para trás de mim e tentei virar-me para trás para ver o que é que ele estava a observar com aquela expressão tão preocupada. "Não te mexas." O Yato disse assim que me tentei virar e arqueei a sobrancelha em resposta, confusa.
"Por quê?" Perguntei e o mesmo continuou a olhar para trás de mim. "Baixa-te!" O mesmo ordenou-me e segui a sua ordem sem pensar duas vezes. Senti algo passar por cima da minha cabeça baixada, como se me tivesse tentado atacar antes de eu me ter baixado.
"Sekki!" O Yato chamou pelo Yukine e o mesmo agarrou as suas duas espadas apenas com uma mão. Levantei-me da minha cadeira e escondi-me atrás do Yato, encontrando assim um grande fantasma junto à cadeira onde eu estava antes sentada.
Pelos vistos ao bocado o bebé não estava a olhar nem a apontar para mim, mas sim para o fantasma, visto que os bebés são os únicos que os conseguem ver, e foi por isso que o nosso pequenino começou a chorar.
"Toma conta dele." O Yato entregou-mo para poder lutar como deve de ser. O mesmo correu para fora de casa para não correr o risco de atingir o bebé ou estragar alguma coisa, mas mesmo assim peguei numa manta, cobri o bebé nos meus braços e fui até à porta enquanto via o Yato fazer frente àquele maldito fantasma.
Este tinha um tom esverdeado e tentáculos, com vários pequenos olhos por todo o seu corpo e com um olho maior que todos os outros, no centro de algo que supostamente seria a sua cabeça.
Aquele fantasma era maior do que todos os outros que alguma vez tínhamos visto, e o seu tamanho parecia estar a dificultar o trabalho do Yato. "Ele é demasiado rápido para um fantasma tão grande, e isso está a complicar as coisas..." O Yato reclamou com o Yukine enquanto o fantasma andava atrás dele.
Para meu azar o bebé começou a chorar assim que viu aquele fantasma outra vez, o que fez com que aquela criatura horrenda com quem o Yato lutava olhasse para mim. "Cheiro... Bom..." O mesmo disse com a sua voz esquisita e olhei para o Yato. Espera, ele é que tem um cheiro bom, não eu. E duvido muito que ele se esteja a referir ao bebé.
"Foge, Hiyori!" O Yato gritou-me e corri para longe de casa, o que fez o fantasma começar a perseguir-me. Acho que o Yato tentou aproveitar a chance de este estar distraído para o atacar pelas costas e tentar matá-lo, mas talvez por o fantasma ter olhos por todo o seu corpo, quando o Yato o tentou atacar ele atingiu-o com um daqueles tentáculos nojentos.
Continuei a correr e pensei que o fantasma me quisesse a mim, por isso não podia por a vida do bebé em risco. "Yato!" Virei a minha cabeça e olhei para o rapaz que corria atrás do fantasma. "Tem calma, eu já o apanho." O mesmo disse-me ao longe mas ignorei-o. "Apanha!" Gritei de volta e atirei o bebé pelo ar.
Eu sei que isto arruinou completamente a minha futura reputação como mãe, e que vem afirmar a minha evidente falta de experiência com crianças, mas se o fantasma me queria a mim então tinha que tentar afastar a vida inocente de um bebé do perigo, mesmo que isso implicasse atirá-lo pelos ares.
"Mas que...?!" O Yato gritou e parou de correr, deixando as suas duas espadas (que eram o Yukine) cair ao chão para apanhar o bebé voador. "O que raio te passou pela cabeça?" O Yato reclamou ao longe enquanto eu continuava a correr para afastar o fantasma, mas o mesmo parou de me seguir e olhou para o Yato. "Cheiro... Bom..." O fantasma repetiu as suas palavras de à pouco e fiquei confusa.
Espera, então o cheiro bom não sou eu, mas sim o bebé? Como assim? Agora tinha colocado a vida do Yato, do Yukine e do bebé em risco, eu sou tão estúpida! Já devia ter percebido à mais tempo que o fantasma queria o bebé, talvez por ser um simples bebé.
"Maldição..." O Yato grunhiu baixo enquanto o fantasma se aproximava dele. Eu tinha que fazer alguma coisa, não podia ficar simplesmente parada a ver tudo acontecer. Com o bebé ao colo o Yato não conseguia lutar, e se mo entregasse o fantasma ia atrás de mim e o Yato também não o conseguiria atingir por causa dos olhos que o mesmo tem em todo o seu corpo, como aconteceu ao bocado.
Lembrei-me do dia em que protegi o Yato e o Yukine daquela Regalia misteriosa que apareceu, graças ao Kazuma e à Bishamon eu não tinha sido ferida. Mas se já tinha corrido um risco desses uma vez, também estava disposta a corrê-lo mais uma vez. E desta vez não estava à espera que nenhuma Bishamon ou Kazuma aparecessem para me salvar.
Corri rapidamente até ao Yato enquanto o mesmo segurava o bebé no seu colo, as duas espadas do Yukine na sua outra mão, e olhava para o fantasma de forma preocupada.
A criatura esticou um dos seus tentáculos em direção aos 2 rapazes e ao bebé, por isso corri ainda mais rápido e consegui parar em frente a eles, esticando os meus braços um para cada lado e encarando aquele fantasma uma última vez.
Vi o seu tentáculo horrendo aproximar-se de mim e fechei os olhos com força, confesso que fiquei com bastante medo de morrer. Não tive medo pela dor ou por outra coisa qualquer, mas tive medo de morrer e de assim nunca mais poder ver o Yato, o Yukine, a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e todos os meus outros amigos, gostava demasiado deles para poder deixar de os ver.
Menos de 1 segundo depois de ter fechado os olhos com força e de ter finalizado os meus pensamentos senti algo atingir-me na barriga, o que me fez deixar escapar um pequeno grito. O mesmo grito foi interrompido por mim própria, porque a minha voz falhou, a minha visão começou a ficar turva e deixei de ouvir o que se passava ao meu redor.
A última coisa que vi foi o fantasma dos olhos e tentáculos à minha frente e alguns salpicos de tinta vermelha (provavelmente o sangue da minha ferida) viajarem pelo ar. Depois disso fechei os olhos e não ouvi mais nada.