Ruas da Cidade, 23h20...
Yato
A matança de fantasmas começava a ser complicada, de facto eram demasiados e muito fortes, por isso tinha-me de desviar de vários deles que me atacavam por todos os lados.
"Estás bem, Yato?" O Yukine quis confirmar. "Não te preocupes." Informei enquanto me desviava de uns fantasmas e matava outros. Acabei por me distrair um pouco e um fantasma com o tamanho de um feijão saltou para a minha mão, deixando assim uma pequena mancha na mesma.
"Maldição..." Deixei escapar e recuei daquele amontoado de fantasmas que se tinha formado à minha volta. "Yukine, estás bem?" Quis confirmar, uma vez que tinha sido corrompido ele também o podia ter sido por eu o estar a usar. "Sim, acho que sim." Ele confirmou e tirei o lenço verde que usava ao pescoço para envolver a minha mão corrompida, para não correr o risco de o corromper também a ele.
Continuamos a lutar e consegui matar mais alguns fantasmas, mas um outro deles acabou por me atingir no peito e enviou-me para trás, o que fez o Yukine voltar à sua forma humana depois de alcançar o chão. O mesmo ficou um pouco longe de mim e vi alguns fantasmas aproximarem-se dele, o que era estranho.
"Hey, quem tem o cheiro bom sou eu, não ele!" Chamei na esperança de o proteger deles. Talvez o Yukine tivesse algum do meu cheiro por eu ter segurado nele com o meu lenço (embora ele se queixe que eu estou sempre a soar das mãos...).
Mesmo comigo a chamar pelos fantasmas nenhum deles se dignou a olhar para mim. "He-..." Preparava-me para chamar por eles mais uma vez, quando uma voz baixinha e cansada chamou por mim. Olhei para trás e arregalei os olhos assim que vi a Hiyori: ela estava com um dos braços completamente roxo, assim como o seu pescoço.
Também já tinha uma parte daquela mancha horrível na sua barriga e no outro braço, assim como numa das bochechas, que estavam um pouco coradas enquanto ela respirava de forma ofegante. "Hi-... Yori...?" Nem sequer consegui dizer o nome dela todo de uma vez.
A mesma caminhou lentamente até mim e eu consegui reagir, levantando-me rapidamente e indo ao seu encontro. A mesma tropeçou na sua caminhada lenta mas cheguei a tempo de a segurar, acabando ambos por bater com os joelhos no chão.
"O-O que te aconteceu?" Perguntei preocupado mas ela continuou a respirar de forma ofegante. "Yato..." Ela chamou baixo e pousou uma das mãos no meu pescoço, corrompendo o mesmo de imediato através das suas mãos roxas, mas na altura estava demasiado preocupado para sentir alguma dor.
"Ajuda-me..." Ela pediu baixo e pousou a cabeça no meu peito, acho que tinha perdido a consciência. Fiquei a olhar para as suas bochechas vermelhas enquanto via a mancha avançar para uma parte da sua perna, mas exaltei-me quando ouvi gritos vindos de trás, do Yukine.
"Seki!" Chamei-o de imediato pelo seu nome de Regalia e o mesmo regressou às minhas mãos, o que fez todos os fantasmas que antes o rodeavam olharem para nós.
"Estás bem?" Perguntei preocupado. "Acho que sim... Mas o que aconteceu à Hiyori? Como é que ela ficou corrompida?" O loiro perguntou e olhei para a rapariga mais uma vez. "Não sei... Mas precisamos de nos pirar daqui e depressa." Informei e vi os fantasmas de à pouco aproximarem-se de nós.
Peguei rapidamente na Hiyori ao colo e por pouco não fomos os 3 atingidos pela investida dos fantasmas.
A mancha avançava rapidamente pelo meu corpo e começava a sentir dificuldades em estar de pé. "Yato..." A Hiyori chamou mais uma vez e olhei de imediato para ela. "Eu chamei... A Kofuku..." Ela disse e fiquei um pouco confuso. "Ahn?" Deixei escapar e lentamente ela tirou o seu telemóvel do bolso dos calções que usava, mostrando-me uma mensagem que tinha sido enviada à Kofuku à cerca de 15 minutos.
Provavelmente ela devia ter enviado a mensagem enquanto se dirigia para cá, talvez tenha visto a tempestade em que eu e o Yukine estavamos a lutar e previu que estivessemos em dificuldades. E a verdade é que o Daikoku e a Kofuku não são brincadeira quando se trata de lutar...
Ao fim de alguns segundos a segurar no telemóvel ela abaixou o braço rapidamente e fechou os olhos. Deixei-a encostada numa árvore e voltei ao campo de batalha com o Yukine, afinal, só precisava de me aguentar mais uns minutinhos até à Kofuku e o Daikoku nos encontrarem (porque não me conseguiam encontrar pelo cheiro, tal como a Hiyori faz).
E ao fim de uns 15 minutos vi uma rapariga de saia e cabelos cor-de-rosa passear aos saltinhos pelas ruas, até que me viu. "Olá, Yatinho!" A mesma saudou-me e acenou-me enquanto abanava um leque (ou seja, o Daikoku). Como consequência, acabou por criar uma grande ventania só com aquele aceno e quase me atingiu também a mim e ao Yukine, juntamente com os fantasmas, ainda que o tivesse feito sem querer.
Com mais alguns abanões ela deu cabo de todos os fantasmas e o fumo negro que criava a tempestade desapareceu aos poucos. "Obrigado, Kofuku." Agradeci à mesma. "Podes agradecer-me mais tarde, mas agora precisamos de ajudar a Hiyori." Fiquei um pouco surpreendido por ela não ter dito "Hiyorin", como ela costuma chamar à Hiyori, mas não perdi tempo a pensar nisso.
Eu e o Yukine (que já estava no seu modo humano) corremos até à rapariga em causa e assim que alcancamos a árvore na qual eu a tinha deixado vi que a mancha que a consumia já tinha chegado ao seu joelho e também já tomava conta de todo o seu outro braço.
"Temos de a levar para casa imediatamente, no estado em que está só vamos conseguir regredir a situação se ela tomar um banho de água benta. Não dá para molharmos simplesmente a zona manchada. É tudo ou nada." O Daikoku aproximou-se com a Kofuku, já na sua forma humana.
Acenti em confirmação e peguei na Hiyori às cavalitas, teletransportando-me juntamente com o Yukine, a Kofuku e o Daikoku até casa dos mesmos.
Depois deixei a Hiyori no quarto-de-banho com a Kofuku e a rapariga manchada acordou do seu desmaio, um pouco sonolenta. Voltei para a sala com os 3 rapazes restantes, deixando as raparigas no quarto-de-banho. O pior foi quando ouvi alguns gritos vindos da divisão, poucos minutos depois de abandonar a mesma.
Apertei as minhas mãos enquanto ouvia mais alguns gemidos baixos, a culpa disto era toda minha. Saí de casa para não ter de ouvir mais aquilo e fui cuidar das minhas manchas à mesma fonte onde tinha ido esta tarde com a Hiyori, ficando lá por uma hora ou duas, para ter a certeza de que quando voltasse a casa já não ouviria os gritos da Hiyori.
E de facto, ao final desse tempo voltei para casa e encontrei a Hiyori deitada no chão da sala, já completamente limpa, coberta por algumas mantas e com a cabeça no colo da Kofuku enquanto a mesma lhe fazia festas na cabeça com um sorriso amoroso e limpava os seus olhos. Os mesmo estavam quase fechados, mostrando assim apenas uma parte do seu tom cor-de-rosa e que na altura estava marejado.
Fiquei parado à porta de casa enquanto tentava ignorar aquela imagem, mas foi bastante difícil. Lá consegui ganhar forças para continuar a andar, mas fui direto para a cozinha ter com o Daikoku e o Yukine, que estavam os 2 a beber um refrigerante.
"Foi muito mau?" Perguntei baixo e o Daikoku desviou o olhar. "Ela ainda deixou escapar alguns gritos, mas foi bastante forte." O mesmo respondeu e desviei o olhar. "A culpa é toda minha... Se eu não tivesse manchado o Yato..." O Yukine disse e apertou as suas mãos. "Não, a culpa foi minha. Devia ter confirmado se ela estava mesmo limpa, esta tarde. Descuidei-me..." Contrariei e ele ficou a olhar para o chão.
"De qualquer forma, precisamos todos de descansar, tivemos um longo dia... Acho que ela aguenta ficar durante a noite sem estar no seu verdadeiro corpo, por isso vamos aproveitar isso para tomar conta dela e ver se não volta a ser manchada. Acho que desta vez o assunto está encerrado." O Daikoku disse e acenti.
"Eu vou ficar com ela na sala." Informei e o Yukine deu-me um pequeno sorriso. "Ora, Yato, seu pervertido..." Ele disse baixo para melhorar o clima e acabamos por nos rir um pouco, o que foi bom para descontrair.
Voltamos todos para a sala e a Hiyori já dormia, ainda com a cabeça no colo da Kofuku enquanto a mesma cantava umas coisas baixinho e com uma voz suave, fazendo festas na cabeça da Hiyori como se estivesse a cuidar de um bebé. Bem, pelo menos parecia estar a resultar.
"Foi bastante difícil tirar-lhe a mancha, ela sofreu muito..." A rapariga dos cabelos cor-de-rosa disse assim que terminou a sua canção de embalar e desviei o olhar. "Precisamos de cortar os laços com ela." Acabei por dizer e todos arregalaram os olhos.
"O quê? Não podes fazer isso! A Hiyori vai odiar-te para sempre se o fizeres!" O Yukine gritou de imediato. "Não, não vai porque não se vai lembrar de mim..." Corrigi baixo e ele bateu com as mãos nos chão. "Eu não vou cortar laços nenhuns! O que aconteceu hoje foi só um acidente e não vai voltar a acontecer!" O loiro disse alto e de forma irritada.
"Começo a achar que não sou capaz de a proteger, já deixei que a magoássem demasiadas vezes, e não tenho esse direito." Disse e o Yukine grunhiu de novo. "Não, eu não vou fazer isso! Em vez de estares aí a choramingar como uma menina, fica mais forte!" O rapaz gritou e arregalei os olhos com aquelas palavras.
"Não quero perder mais pessoas por fraqueza, em vez disso quero tornar-me mais forte. Fiquei mais forte do que a Nora para que me escolhesses a mim em vez dela, para deixar de ser a tua segunda opção! Por isso também tens de te tornar mais forte, em vez de fugires dos problemas. Torna-te mais forte pela Hiyori!" O loiro continuou a gritar e confesso que nem o reconhecia, mas a verdade é que ele tinha razão.
Não posso passar a vida a esconder-me e a fugir dos meus problemas por ser fraco, em vez disso tenho que crescer, e tornar-me mais forte. Tenho de ser forte o suficiente para poder proteger a Hiyori!
"Tens razão... Os laços vão ter que esperar mais algum tempo, porque não os vou cortar quando tenho a opção de ficar mais forte." Acabei por dizer e o Yukine acalmou-se, dando-me um sorriso triunfante.
"Só vou cortar os laços quando não tiver mais nenhuma opção." Informei e a Kofuku corou. "Oh, Yatinho, tu és tão fofo!" A mesma disse e ouvi a Hiyori gemer baixinho, pelos vistos estavamos a falar demasiado alto.