Casa da Hiyori, 22h50...
Hiyori
Fiquei deitada na minha cama depois do banho, quando subi para o meu quarto. Eram quase 23h00 mas não tinha sono, não conseguia deixar de pensar no Yato e no nosso quase beijo. Sei perfeitamente que ele estava bêbedo, mas todas as imagens do momento continuavam a encher a minha cabeça.
Precisava de falar com ele e esclarecer tudo, para que mesmo que futuramente ele estivesse bêbedo não voltá-se a tentar beijar-me. Procurei o meu telemóvel na minha cama e por baixo do pijama (porque ainda estava em toalha de banho) e assim que o encontrei procurei o número do Yato no mesmo.
Assim que o encontrei demorei alguns segundos a ganhar coragem para lhe ligar, mas consegui clicar no botão de chamada. Fiquei a ouvir atentamente o "Pi" da chamada, até que ele atendeu. "Fala o Deus Yato, o Deus com IPhone!" Ele saudou e suspirei, agora vai andar sempre a gabar-se do IPhone?
"Yato, sou eu. A Hiyori..." Disse já nervosa, fazendo-se assim algum silêncio do outro lado. "Tudo bem?" Ele perguntou-me, reparei no nervosismo que preenchia a voz dele. "B-Bem... Precisamos de falar do... D-Do..." Tentei falar mas fui interrompida por uma aparição.
"De que precisas de falar?" Ele perguntou depois de se teletransportar até ao meu quarto. Corei de imediato por ele aparecer quando eu estava apenas em toalha de banho, por isso atirei-lhe o meu telemóvel à cara e ele bateu com a mesma no chão depois do impacto.
Enquanto ele estava meio inconsciente e ainda com a cara no chão vesti o meu pijama mesmo ali, à velocidade da luz, e quando ele se levantou eu já estava pronta. "Não apareças assim do nada quando não sabes se estou pronta para te receber." Dei-lhe um sermão e ele levantou-se lentamente, com o nariz vermelho.
"Tudo bem, mas olha que me magoas-te..." Ele choramingou baixo enquanto massajava o seu nariz dorido. "Bem, queria falar contigo sobre o que se passou esta tarde..." Ganhei coragem para continuar o assunto. "Eu não sei porque fiz aquilo, mas de certeza que foi por causa da bebida. Eu nem sequer me lembro do que estava a fazer antes, a única coisa de que me recordo é de ti, a empurrares-me para trás." Ele explicou e arqueei a sobrancelha.
"Antes disso estavas a perguntar-me de quem é que eu gostava. Eu comecei a dizer a minha lista de amigos e falei no Yukine, e tu começas-te a dizer que eu gostava de rapazes mais novos." Expliquei e ele deu-me um sorriso gozão. "E gostas?" Ele perguntou e bati-lhe no braço.
"Claro que não! Eu estava a gozar contigo, mas tu estavas tão bêbedo que nem percebes-te, e agora nem sequer te lembras disso..." Reclamei mas ele encolheu os ombros. "Só fugi porque... Me lembrei do Fujisaki..." Disse baixo e senti as minhas bochechas aquecerem.
O Yato prendeu o ar quando falei nele, é um bocado estranho ter sido beijada pelo pai de um amigo meu, ainda que ele tivesse a aparência de um rapaz normal, da mesma idade que eu. "Não gostei da experiencia..." Expliquei baixo e o Yato desviou o olhar. "Lamento que o meu pai te tenha feito isso..." Ele disse com as mãos nos bolsos do seu casaco.
"Não faz mal... Já passou." Tentei tranquilizar-nos a ambos, mas ele ficou em silêncio durante algum tempo. "Então... Está tudo bem entre nós?" Ele perguntou e acenti. "Acho que sim, mas se voltares a tentar fazer isso vou deixar de te falar, quer estejas bêbedo ou não." Informei e ele riu-se um pouco.
"Tudo bem, eu peço desculpa mais uma vez." Ele disse e acabei por sorrir. "O Yukine ficou bastante chateado comigo quando te foste embora, disse que eu estava sempre a afastar-te e a magoar-te." Ele comentou e desviou o olhar, o que me deixou com pena dele.
"Isso são pequenos acidentes, eu não me afasto assim tão facilmente das pessoas de quem gosto." Tentei tranquilizá-lo. "Dizes a toda a gente que te liga que tens um IPhone?" Mudei o tema de conversa e ele sorriu. "Claro que sim, faço questão que todos saibam." Ele deu-me um sorriso triunfante.
"Enfim..." Deixei escapar e suspirei, mas ele manteve o seu sorriso. "Obrigado por tudo, Hiyori." Ele disse e fiquei um pouco confusa. "Por tudo?" Repeti e ele acentiu. "Sim, já fizes-te muito por mim... Fizes-te-me um Santuário, deste-me um IPhone, ajudas-te-me com o Yukine nos piores e melhores momentos dele, já salvas-te a minha pele muitas vezes." Ele disse e acabei por me rir.
"Pareces um velho a contar as suas histórias de vida aos netos." Gozei e ele encolheu os ombros em resposta. "É bom rever as coisas, não achas?" Ele perguntou e acabei por concordar. "Já está a ficar tarde, acho que vou andando." Ele disse e acenti em confirmação.
"Tudo bem, o que vão fazer amanhã?" Perguntei-lhe antes que ele se fosse embora. "Ainda não sei, mas se calhar vou ajudar a Kofuku e o Daikoku com os preparativos para o Ano Novo. Afinal, já só faltam 5 dias." Ele disse e pensei no que iriamos fazer na passagem de ano.
"Tudo bem, então eu passo por casa dela de manhã para ajudar." Informei e ele acentiu. "Até amanhã." Ele acenou-me levemente e deu um passo atrás, desaparecendo logo a seguir. Atirei-me para a cama pela milionésima vez no mesmo dia e fiquei a olhar para o teto, apesar de todos os problemas que tive com o Yato o meu dia de Natal até foi bom.
Em 2 dias conseguimos chatear-nos duas vezes, uma em cada dia. A nossa relação acaba por ser estranha, mas a verdade é que nos damos bastante bem. Espero que agora que eu e o Yato já estamos bem outra vez o Yukine se acalme, não o quero ver triste quando estamos numa época festiva como esta.
E o Natal não correu lá muito bem, mas este Ano Novo vai ter que ser o melhor dos melhores, não vai haver nada que nos deixe chateados. O gatinho que o Yato me tinha dado no Natal apareceu debaixo de um monte de roupa que eu tinha junto à janela e correu até mim enquanto se abanava para ajeitar o pelo.
Ainda não conseguia acreditar que os meus pais me tinham mesmo deixado ter um gato, era uma decisão mesmo estranha e surpreendente da parte deles. Abri a cama e ajeitei os seus lençóis, entrando na mesma e deixando que o meu gatinho se enfiá-se debaixo da minha almofada.
Com os problemas com o Yato resolvidos consegui adormecer facilmente e sem problemas, tendo assim uma bela e boa noite de sono.