Quando A Vida Acontece - Vol 3

By MariMonteiro1

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Crescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Ella e Allison estão de volta, a primeira tentando resg... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40

Capítulo 5

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By MariMonteiro1

Pec-pec-pec, pec-pec-pec

O fato de Zach ter intercedido, ter puxado os cordões certos para conquistar a boa vontade de Baby não fazia dele um cara feliz, muito pelo contrário. Ele conseguia pensar em vários usos para aquele martelo, e nenhum deles era muito cristão.

O Theo não o incomodava. Era impossível não amar aquela massaroca de pelo e baba. Mas o martelo era diferente. Zach precisava de paz para trabalhar. Precisava de concentração. E o pec-pec-pec da irmã era o oposto de tudo isso.

Entretanto, havia uma regra não escrita. Um Collinsworth não deixava o outro na mão. E, apesar de já ter dito um milhão de vezes para a sua irmã arrumar um emprego regulamentar de nove às cinco enquanto sua arte não se tornava algo rentável, ela insistia em suas esculturas de madeira. E, como irmão e artista, ele não podia lhe virar as costas.

Mas era um saco, estava tirando tempo seu, da sua família, testando a paciência de todo mundo e o final de setembro nunca pareceu tão longe.

Aquela tarde, ele foi buscar Millie na creche e o trânsito de Londres nunca pareceu tão silencioso. Mil vezes o ruído de carros e buzinas ao martelo da irmã.

-É aniversário da Andy! Vai ter bolo! - Millie ia pulando pela rua, tentando não pisar nos riscos pretos da calçada.

-É? Sabe quem mais vai fazer aniversário? - Zach perguntou, de mãos dadas com ela.

-Eu!

-E vai ter bolo?

-Vai!

-E o que mais vai ter?

-Minnie Mouse!

-Você gostou da Disney, né? - Zach riu.

-Sorvete, papai! - Millie apontou.

-Putz, em uma terça-feira? Hoje não, Millie. Mas no domingo vai ser seu aniversário e você vai poder tomar sorvete até virar do avesso. Quem vai na sua festa?

-A Andy e o Oscar e a Julie...

Millie continuou fazendo a lista pela rua enquanto os dois se aproximavam do prédio. Ela havia trocado de creche recentemente para ficar mais perto de casa, o que não lhe causou o menor problema. Millie era muito extrovertida e desinibida. Havia crianças que estavam lá há um ano e não se sentiam tão à vontade quanto ela. Somando-se os amigos da outra creche, a sua festa de três anos tinha tudo para ser um sucesso.

À medida que se aproximavam da portaria, perceberam um homem sentado nas escadas. Zach não o reconheceu a princípio, até que ele começou a acenar para a Millie e, ela, a acenar de volta. Zach se aproximou, desconfiado, e então viu quem era.

-Oi, Victor. Por que não entrou?

-E aí, Zach! Oi, gatinha – Ele se abaixou para falar com Millie, que imediatamente escalou-o até o seu colo. Se aquela menina encontrasse um sequestrador na rua, ela seria presa fácil.

Victor se levantou com Millie no colo e explicou:

-Tem uma moça lá que não me deixou entrar. Ela disse que eu não tinha como provar que era quem eu dizia ser e que eu tinha que esperar você ou a Baby chegarem.

-Foi mal – Zach coçou a cabeça, sem graça. - É a minha irmã, ela está passando uns dias com a gente. Ela é meio... superprotetora.

-Tudo bem – Victor riu. - É a casa onde a minha filha mora, fico feliz que vocês não deixem qualquer um entrar.

Zach sorriu, ainda que estivesse um pouco irritado. Sabia que não havia sido a intenção do Victor jogar na cara a paternidade da Millie nem cobrar como eles criavam a menina. Todos sabiam que Zach daria a vida por Millie.

Zach abriu a porta de um dos apartamentos do primeiro andar e imediatamente um cão começou a latir.

-Vocês têm cachorro?

-Não, é da minha irmã.

-É o Theo! Olha, papai Victor! - Millie o puxou pela mão até o cachorro. Victor perguntou, antes de mexer com ele:

-É manso?

-Super manso – Uma mulher falou do corredor e estendeu a mão para o Victor: - Oi, eu sou a Grace. Desculpe por não te deixar entrar, mas eu não sabia quem você era.

-Sem ressentimentos – Victor ergueu as mãos com um sorriso.

-Vem ver meus brinquedos! - Mal ele teve tempo para o cachorro, Millie já saiu empurrando-o para o ponto turístico seguinte. Victor se sentou no chão do quarto dela e, com toda a sua experiência de pai, se mostrou bastante interessado e brincou com ela enquanto perguntava a Zach se a Baby não estava.

-Ela ia ao hospital ver a sua mãe depois do trabalho. Imagino que seja por isso que você veio mais cedo, né?

-É, minha mãe dá esses sustos na gente de vez em quando.

Grace entrou no quarto e sentou-se na poltrona. Ela estava com as roupas surradas que usava para trabalhar, mas, ainda assim, sempre dava um jeito de ter uma certa elegância.

-E como ela está? - Zach perguntou, interessado.

-Está se recuperando. Deve ter alta em breve. Mas a gente só vai saber se ela teve ou não alguma sequela nos próximos dias.

-Que merda, cara. Melhoras para ela.

-Valeu.

Grace olhava, fascinada, aquela conversa tão civilizada entre os dois pais da Millie. Zach deixou Victor e Millie brincando no quarto e foi preparar o lanche dela. Grace se demorou alguns segundos e, em seguida, foi atrás.

-Você deixa os dois sozinhos? - Ela perguntou, enquanto Zach misturava melão e melancia em um pote com iogurte.

-Por que não? - Ele olhou para ela, espantado. - É o pai dela.

-Sim, biologicamente é o pai dela, mas na prática é um estranho. Na prática, o pai é você. E a biologia não vale de muita coisa porque ele conhece a Millie há quanto tempo? Um ano? E mesmo assim só vê duas vezes por semana através de uma tela de computador? A gente não desenvolve amor por alguém assim, principalmente se ele for algum pervertido. Acredite, Zach, há um monte de pervertidos no mundo.

Zach deu um meio-sorriso incrédulo.

-O Victor não é pervertido, cara. A Baby o conhece e conhece a família dele desde que nasceu, literalmente.

-Isso não quer dizer nada. Todo pervertido conhece alguém, a família de alguém, e com certeza tem algum amigo de infância.

Grace ficou em silêncio, vendo Zach encher o copinho de Millie de água. Por fim, falou, como se não conseguisse mais segurar:

-E perguntou se o Theo é manso? Como se você fosse colocar a vida da sua filha em risco? Dizendo que não guardava ressentimentos por eu não deixar um estranho entrar no apartamento, como se ele fosse o rei da cocada preta?

-Gracie, você está bem louca – Ele pegou o pote e o copo e foi levar para a Millie, mas Grace o segurou:

-E a festa de aniversário da Millie, por que vai ser na casa da mãe dele? Ela nem está em casa, está no hospital!

-Até lá ela vai ter alta – Zach disse, um pouco na dúvida.

-Não é muito mais fácil fazer na casa do seu sogro, que é sua família e está bem de saúde? Ele só está forçando a barra porque se acha o pai da Millie, Zach, mas o pai de verdade é você.

Era a segunda parada do Victor e ele ainda não havia chegado em casa. Seu pai o pegou no aeroporto e foi com ele ao hospital ver como a Malu estava. Depois, emprestou seu carro, visto que não era o único, para que o filho ficasse com mais liberdade na cidade. Os dois comeram um hambúrguer e, de lá, Victor visitou a Millie. Agora, ele finalmente tinha colocado as malas na casa da mãe. Pegou um dos quartos de hóspedes, já que Luca havia reabitado o loft.

-Então esse é o Noah Serovyh – Ele disse, com o bebê nos braços.

-Tecnicamente, ainda é Noah Smith – Luca respondeu desanimadamente, sentado em um dos almofadões.

-Haha não tem nada seu. E você não lembra dessa tal de Bobbie mesmo? Nem olhando pra ele?

Luca encolheu os ombros. Não, não lembrava.

-Você sempre fez tudo certo, né, Victor?

-Eu? - Victor deu um meio-sorriso. - Fiz nada.

-Você teve a sua família, se casou, montou sua produtora.

-Mas nada disso é linear, Luca. Acabei de visitar a filha que tive com a irmã dos meus melhores amigos porque transei com ela bêbado e sem camisinha. O caminho não é sempre reto, o que importa é o resultado.

Luca não respondeu e Victor se sentou na frente dele.

-O que foi?

-Cara, sabe como todo mundo diz que eu sou cachorro? Eu nunca me importei. Eu até concordava. Aí apareceu o Noah, virou tudo do avesso e, na primeira noite que eu saí em dois meses, aconteceu isso com a mamãe.

-Ei, para com isso. A mamãe tem surtos. Faz parte da doença dela.

-Que começou depois que eu nasci.

Victor riu:

-Luca, você não consegue fazer nada errado. Caraca, você nasceu numa piscina de plástico na sala, na frente da família estendida inteira, com os pais da tia Kate tocando pandeiro. A mamãe e o tio Eddie inventaram uma porra de um ritual pra te trazer pro mundo. Eles botaram uma estrela aí em cima da sua cabeça. É fácil? Não, nada é. Quando o George nasceu e eu era estudante, duro, não sabia de nada da vida e tinha de sustentar a mim, Julia e ele... Foi fácil? Foi difícil pra caralho. Quando a Jules morreu e a Bella nasceu, então, foi pior ainda. Você acha que foi fácil pra mamãe quando eu nasci, ela sozinha em Paris, sem um puto e tentando se manter longe da bebida e das drogas? Claro que não. E vai ser difícil pra você criar o Noah, Luca. Só que antes de eu ser Lewknor e antes de você ser Serovyh, nós somos Gonzaga, como a mamãe. Somos sobreviventes. E vamos ficar bem, nós três.

-Eu... - Luca começou e se interrompeu para firmar a voz: - Eu acho que não estou acostumado a ter medo.

Os olhos do Victor tinham a intensidade dos do pai dele, e foi com muita seriedade que ele disse:

-Não tenha. Vai dar tudo certo. Eu prometo.

Luca fungou e concordou com a cabeça no mesmo instante em que a porta do loft foi quase arrancada por Lily.

-Cheguei! Cadê meu novo sobrinho?

-Porra, Lily, você quase mata seu novo sobrinho de susto!

-Não me perturba, ferrugem, porque eu trouxe presentes! Esse menino vai me amar muito, tenho certeza. Ah, e vim do hospital. Mamãe está bem melhor. Eu disse para ela "Preparativos do casamento" e acho que ela vai ter alta amanhã.

-É sério, Lil? A parte da alta? Estive lá de manhã e não falaram nada – Victor comentou enquanto a irmã tirava o bebê do seu colo.

-É porque você esteve lá antes do médico. Eu estive depois. Encontrei a Baby, aliás, e agora está toda uma discussão sobre o aniversário da Millie, se eles mantêm a festa aqui ou se fazem na casa do tio Mick. Abre os pacotes e esteriliza, ferrugem.

-Não sou seu criado, cabeção.

-Mas é o pai do bebê, duh! Então, é óbvio que o melhor é manter aqui. É a empresa de festa que vai cuidar de tudo e a mamãe não vai precisar se deslocar, além de ela estar fazendo todo o escândalo do primeiro aniversário da Millie depois que ela soube que é neta dela.

-Mas a mamãe já sabia que era avó da Millie no aniversário do ano passado – Victor lembrou.

-Pois é! Mas não dava tempo de transferir a festa, logo ela deixou para fazer o escarcéu esse ano.

-Simples, então deixa a festa aqui – Luca disse, pegando os brinquedos que a irmã trouxe e levando para a pequena cozinha do loft para esterilizá-los.

-Foi o que eu falei,

Nem bem Lily concluiu a frase, o telefone de Victor tocou. Era a Baby. Luca e Lily, na falta do que fazer, acompanharam a conversa, interessados.

-Baby, a empresa vai cuidar de tudo. Na boa, não vou tirar a minha mãe de casa, levá-la até o tio Mick, para depois trazê-la de volta quando ela acabou de sair do hospital. Pois é, não tem cabimento mudar o lugar. Que bom que você concorda. Ok.

Quando ele desligou, Lily comentou:

-Pelo menos ela se convenceu que a gente não ia tirar a mamãe de casa.

-Mas por que diabos passou pela cabeça dela mudar pro tio Mick, para início de conversa?

-x-x-x-

Baby desligou o telefone e se virou para Zach.

-Ele está certo. É muito sacrifício para a madrinha ser levada para um lado e para o outro. Melhor ficar na casa dela.

-É - Zach deu um sorriso sem-graça. - Achei que fosse facilitar para todo mundo, foi mal.

-Eu te perdoo porque... – Ela tirou uma entrada do bolso da calça.

-O que é isso? - Ele pegou a entrada, entre curioso e desconfiado.

-É uma entrada para a sua irmã ir ao teatro e nos deixar sozinhos pela primeira vez desde que a gente se mudou. Ia comprar duas, mas cachorro não entra. Mas se ela não gosta de ir sozinha, arranjo outra entrada e companhia em cinco minutos. O Tommy me deve um milhão, adora teatro, e não deve estar fazendo nada porque o namorado não comparece.

-Opa! Eu só tenho que convencê-la?

-Faça parecer que a ideia é sua.

-Vai deixando o Tommy de sobreaviso que eu vou lá - Zach atravessou o apartamento em aproximadamente duas passadas, do quarto até a sala, onde Grace prendia a coleira no cachorro para levá-lo para passear.

Tommy ficou revoltado com o pedido de Baby.

-Eu tenho mais o que fazer, Baby. Minha mãe tá saindo do hospital e o Louis comparece!

-Argh, você vai depois de ver a madrinha e deixa o boy esperando um pouco para ele aprender a comparecer.

-Ele comparece!

-Porra, Tommy, pense desespero! Eu preciso tirar essa mulher daqui. Ela é do mal.

-Você se livra da bruxa jogando-a nas minhas costas?

-É uma peça de teatro. Compre umas pipocas para ela ficar com a boca cheia e não conseguir falar. Eu pago tudo, bicha pão-dura.

-Hummm... É?

-Você é inacreditável, Tommy.

-Paga ou não paga?

-Pago.

-Um jantarzinho depois também?

-Filho da puta.

-Paga?

-Vocês vão amanhã, às oito horas. Agora dá licença que tenho que conseguir a sua entrada.

-x-x-x-

Malu teve seu primeiro surto há vinte e dois anos, quando Luca era ainda mais novo que Noah hoje. Eles se repetiram ao longo dos anos, mas algo nunca mudava. Quando ela saía do hospital, todos se reuniam na sua casa, para celebrar a vida. Transformavam sua recuperação em mais uma vez em que ela havia driblado a doença. Malu era Gonzaga, era sobrevivente, como Victor havia dito. E ela sempre estava bem-humorada, por mais que tivesse sequelas que às vezes desapareciam contra o tempo, às vezes não.

Não dessa vez. Ela estava séria, pessimista, sorrindo por educação. Sem seus saltos e sua maquiagem, parecia incrivelmente pequena. E muito mais velha.

Ela estava com cinquenta e sete anos e, por mais que alguém dessa idade parecesse jurássica para uma pessoa tão jovem quanto o Luca, ele nunca teve tão claramente a sensação de que ela iria partir em breve. Então fez força para arrancar o pensamento da sua mente e se juntou aos outros.

-Ouvi dizer que você está um exemplo, Luca! - Tia Kate dizia. - Virou pai do ano, quem diria!

-É? - Ele deu seu sorriso irresistível, mas puramente por força do hábito.

-E quer saber, melhor que aquela vaca esteja na Suécia. Você não vai vir com "não chame a mãe do meu filho de vaca" não, né?

-Não, pode chamar de vaca. Ela está na Suécia.

Sua mãe dificilmente veria o Noah crescer. Era uma tremenda sujeira que seu filho fosse privado de crescer com a melhor avó do mundo. E então percebeu que era a primeira vez que não pensava no Noah como aquele garoto que era uma figura, como aquele bebê para quem desejava tudo de bom, e sim como em seu filho.

-... o processo? - A voz da tia Kate chegou aos seus ouvidos.

-Hã?

-Como anda o processo?

-É demorado pra caramba! Eu consegui uma liminar me dando a guarda temporária do Noah e pedi reconhecimento da paternidade, mas sei lá quando isso vai se resolver. A advogada que meu pai arrumou disse que é assim mesmo.

-Se houver alguma coisa que eu possa fazer, avisa, tá?

-Obrigado, tia Kate.

-Quer que eu bata na vadia?

-Não, obrigado, tia Kate – Ele riu.

Sua mãe estava sentada em uma cadeira de rodas, no centro da sala e de um mar de gente. Tommy a abraçou e lhe deu um beijo no rosto e por fim se aproximou:

-Tchau, Luca – E balançou a mão do Noah, que estava no colo do irmão: - Tchau, carinha!

-Já vai?

-Já, tenho um encontro com a irmã do mal do Zach.

-Oi?

-Baby me pediu pra sair com a bruxa pra ela dar umazinha. A Baby, não a bruxa. Vamos ao teatro. A bruxa, não a Baby. Depois conto os detalhes.

Allison tocou a campainha, se sentindo intrusa. A princípio, ela não iria, mesmo que Loly a tivesse convidado. Mas achou que seria um evento família demais e que ficar apertada no banco traseiro do carro do Jake com o casal do século era um pouco demais para ela. Mas, enquanto assistia à TV em casa, a consciência começou a pesar e pensou que não custava nada fazer uma visitinha rápida, mesmo que precisasse de um metrô, um trem e quinze minutos de caminhada para isso. Comprou um vasinho de narcisos e foi para lá.

É claro que torcia para conseguir uma carona de volta, de preferência com uma das irmãs do Luca.

Era como um almoço de domingo, mas no fim da tarde e com a anfitriã bem detonada. A Malu estava sentada em uma cadeira de rodas, o que por si só já era estranho e errado, mas além disso ela parecia ter envelhecido uns dez anos.

-Que narcisos lindos, Allie! - Ela sorriu, encantada. - Vou plantá-los no jardim assim que der. Você é muito delicada.

-Imagina, você me atura tanto! E... tá melhor? - Ela ia perguntar se ela estava bem, mas concluiu que já sabia a resposta.

-Estou melhorando. É assim mesmo, é aos poucos.

Allison sorriu e Malu percebeu que ela estava tentando uma forma educada de ir atrás dos amigos, portanto disse:

-A Loly está por aí, o Dylan e o Luca. Passe na cozinha para pegar alguma coisa para beber e depois encontre-os. Eles vão adorar saber que você está aqui.

Ela fez exatamente o que lhe foi ordenado. Passou na cozinha, pegou uma Coca-Cola, viu ao longe Dylan conversando com Luca, por isso foi para o outro lado em busca de Loly.

-Não deu certo entre você e a Allie, né? - Luca falou, olhando para ela.

Dylan se virou espantado para o primo, e este explicou:

-No meu aniversário, lá na Suíça, você perguntou se eu não me importava se você chegasse na Allie.

-Ah, não deu certo – Dylan respondeu.

-Que pena. Menina super gente boa.

-É - Ele concordou.

-E tipo, é impressão ou está o maior clima estranho entre vocês?

Dylan riu. Seu primo sempre havia sido a pessoa mais aérea, espírito livre e desapegada do universo. De repente ele apareceu com um filho e passou a lembrar conversas passadas e reparar no clima entre os seus amigos.

-Nunca deixe romance se meter no meio da amizade – Luca falou, com jeito de quem era muito entendido. - Ainda que o romance e a amizade sejam com a mesma pessoa.

-É isso! - Dylan exclamou. - Você é um gênio!

Luca deu um enorme sorriso, mesmo que não fizesse muita ideia do que Dylan estava falando.

-Porque pode estragar, sabe? O romance e a amizade. Mas também pode ser incrível. Só que se você tem medo de se jogar de cabeça, fica sem os dois, e é isso que me deixa puto. Não ficar sem a namorada. Ou sem a amiga. Mas sem as duas.

-Ok. Não que você esteja sem a namorada. Sem uma namorada, pelo menos.

-É - Dylan sorriu. Um sorriso franco. - Eu gosto da Daisy.

E gostava. Não como ele tinha potencial para gostar da Allie. Mas gostava.

-Então pronto – Luca concluiu.

É. Então pronto. Mas ele ainda estava sem a amiga, então não havia nada pronto. A vida não podia ser perfeita.

Malu se cansou e foi dormir, o que foi a deixa para que todos voltassem para casa. No terraço do loft, os irmãos Gonzaga ficaram para trás. No lugar do baseado, uma babá eletrônica. O sinal dos tempos.

-Cadê o Tommy? - Angie perguntou, como se só então desse por falta do irmão.

-Ele tinha um encontro com a cunhada da Baby – Luca explicou.

-Oi? - Lily quis saber, sentada atrás de Angie e trançando o seu cabelo.

-A Baby queria dar uma.

-Vocês apostam quanto que essa mulher não vai sair da casa da Baby?

-Que horror, Lil! - Angie falou. - A Baby e o Zach acabaram de se mudar para o apartamento novo, eles precisam ficar sozinhos.

-Mas não vão, acredite. Conheço uma mente maligna porque sou uma.

-Sou uma mente totalmente do bem e concordo com a Lily – Victor falou, bebendo uma cerveja.

-Não é? Ela vai passar despercebida porque vai ser um mês e meio cheio até o tampo. Não sei se vocês se deram conta, mas a essa altura do mês que vem eu serei uma senhora casada, muito obrigada, e depois vem o Halloween, e quando a gente se der conta ela vai estar ajudando a mamãe com alguma ideia destrambelhada para a festa de Natal – Lily disse.

-Mas ela não fez nada de ruim, fez? - Angie, sempre buscando o lado bom até da Grace, perguntou.

-Não, ela é só sem noção - Victor respondeu. - Me deixou uma hora e meia sentado na calçada, mas tudo bem.

Uma luz se acendeu no quintal e os irmãos ficaram em silêncio, olhando. Eddie entrou, colocou uma playlist no celular, vestiu as luvas e começou a socar um saco de areia.

E todos sentiram uma tristeza sem fim.

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