-Eu posso ver os seus filhos? – Ella perguntou.
Nancy tinha enormes olhos castanhos. Muito, muito grandes. E extremamente bonitos. Eles a lembravam animais silvestres em um daqueles desenhos que o Tom adorava. Ella havia percebido que, nos desenhos que Tom assistia, os vilões tinham as írises pequenas e os animais bonzinhos tinham olhos que pareciam pires. Nancy era assim. Dava uma sensação de inocência.
-Mostra, Nancy – Disse a cuidadora. – Ella é filha do Joel, aquele senhor aqui ao lado. Ela só quer ver como seus filhos são bonitos.
-Não toca – Nancy falou.
-Não vou tocar. Prometo.
Nancy afastou a cortina que cobria a estante da sala e havia um mundo em miniatura ali atrás. Ella não entendia nada de arte, portanto não podia dizer nada além de que as figuras eram pequenas e delicadas e que a comoviam de alguma forma, mas diziam que esse era o papel da arte. Sua mão se esticou instintivamente em direção ao busto de uma mulher grávida que lhe pareceu contraditoriamente melancólica, mas lembrou-se a tempo da promessa e não a tocou.
-Que lindas, Nancy. Parabéns, são muito bonitas.
Nancy fechou a cortina rapidamente, como se Ella fosse roubar as estatuetas, e a cuidadora sorriu sem graça:
-Desculpe, ela está em um dia de péssimo humor. Vamos dar a nossa voltinha, Nancy? De repente você precisa é de vitamina D.
-Agora não – Nancy se sentou em frente ao seu equipamento para trabalhar em novas esculturas.
Ella se despediu e saiu, pois tinha pouco tempo para preparar o seu pai. Olhou no relógio, ainda no corredor, e possuía exatamente cinco minutos.
-Pai, eu convidei uma pessoa – Ela disse, quando entrou no apartamento dele e o viu, de cueca samba-canção, regata e meia, sentado no sofá, a calefação no máximo. Imediatamente ela tirou o casaco, mas se olhou no espelhinho da bolsa e viu que estava completamente vermelha por causa do calor.
-O marinheiro?
-Não, outra pessoa. A Robyn já vai passar aqui.
-Quem é Robyn?
-A filha da minha mãe. Ela gostaria de te conhecer, se você não se importar. Se tiver problema, eu aviso e a gente marca outro dia.
-Não tem problema – Ele falou, sem se mexer.
-Não é melhor você vestir uma roupa?
-Eu estou vestido.
-Com roupas de baixo, né, pai? Que tal se vestir com roupas de cima também?
Joel deu de ombros e Ella suspirou. Lidar com Joel era uma guerra diária e, pelo visto, a atual batalha era aquela. Sem falar nada, ela mudou a temperatura para alguns graus mais frio.
-Pai, você vai aparecer de cueca na frente de uma menina de vinte e dois anos?
-O que uma menina de vinte e dois anos faria aqui?
-Ela quer te conhecer.
-Se quer me conhecer, não vai ficar julgando. Não julgue um livro pela capa, Ella. Quem vê cara não vê coração. Cavalo dado não se olha os dentes.
-Ok, já foram ditados demais por um dia – Ella olhou o relógio mais uma vez. – Vou encontrar a Robyn na recepção e a trago aqui. Já volto.
Dizendo para si mesma que já havia passado por constrangimentos maiores na vida que seu pai de cueca e meia na frente de uma visita, Ella desceu até o térreo. Robyn estava inexplicavelmente nervosa com o encontro com Joel, portanto ela achou que seria mais delicado encontrar a irmã lá embaixo.
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Quando A Vida Acontece - Vol 3
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Ella e Allison estão de volta, a primeira tentando resgatar o passado, a segunda procurando viver o presente depois que algo muito precioso lhe foi tirado. Baby tenta começar uma nova família, ma...