Capítulo 40

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A madrinha tinha uma superstição de que deveria se usar branco no réveillon para trazer sorte para o ano novo. Na verdade, ela possuía uma enciclopédia de crenças, e aquela era apenas mais uma. Baby não as levava a sério, mas, já que não tinha preferência por cores, não custava usar um vestido off-white para ajudar. Ele estava pendurado em um cabide na porta do seu guarda-roupa, a encarando, zombeteiro, pois ela deveria usá-lo na Costa Rica com Zach.

Havia pensado em ir para lá sozinha já que mal se lembrava da última vez que havia tirado férias, mas concluiu que seria ridiculamente solitário e deprimente. Melhor encher a cara com o Tommy, pagar mico na frente da família, acordar no dia seguinte cheia de ressaca física e moral. Andava precisando de algo assim. O constrangimento a faria esquecer, nem que fosse por um ou dois dias, o quanto havia arruinado a sua própria vida.

A campainha tocou, o que era estranho, pois o interfone não soou. Vestiu o roupão por cima da calcinha e do sutiã e perguntou, colocando-se atrás da porta:

-Quem é?

-Sou eu, Zach.

-Mas que porr... – Ela resmungou para si mesma e abriu a porta. – Por que você não usou a sua chave?

-Porque você podia estar... – Ele apontou para o roupão dela – trocando a roupa, por exemplo.

Baby deu espaço para que ele entrasse. A saudade que sentia dele era uma dolorosa ausência, uma impotência, uma proibição, uma inatividade enlouquecedora. Não encostar, não beijar, não demonstrar qualquer intimidade no falar.

Ele passou por ela e ficou parado no meio da sala. Ao mesmo tempo em que pertencia completamente àquele cômodo, parecia estranhamente fora de lugar.

-Você resolveu terminar sua mudança no dia de ano novo? Aliás, na noite de réveillon? – Ela se sentou no braço do sofá.

-Te atrapalha?

-Não, eu já vou sair. Só é bizarro.

Mas Baby não se levantou e nem foi para o quarto terminar de se arrumar. E Zach não se moveu do centro da sala. Por fim, ele disse:

-Para falar a verdade, eu não sei o que eu vim fazer aqui.

O que era algo bom, né? Talvez ele tivesse gravitado até ali porque sentisse falta dela.

-Eu sinto que, apesar de todas as nossas conversas, faltou um desfecho, sabe? Como se a gente tivesse saído de campo antes do juiz apitar o final da partida.

-Metáforas de futebol não funcionam comigo, Zach – Ela falou, com o pulso acelerado, pois, apesar do que dissera, a comparação havia sido bastante óbvia. – Eu vou só colocar uma roupa. Pode pegar uma cerveja na geladeira, se quiser.

Baby correu para o quarto. Olhou o vestido pendurado, uma peça de tecido encorpado, todo drapeado a partir do quadril, repuxando desde a barra até o meio da coxa esquerda, definindo uma senhora fenda. As costas nuas exibiam mínimas fitas que compunham as alças e sustentavam a frente de corte assimétrico, que tinha no decote o mesmo caimento despojado, de um leve drapeado. Ela o havia desenhado e tinha muito orgulho dele, mas talvez estivesse um pouco exagerado para qualquer que fosse o rumo que sua conversa com Zach tomasse. Vestiu uma roupa de ficar em casa, uma calça de moletom e um cropped, muito simples, muito confortável, mas que já era bem melhor que um roupão.

Zach a esperava na sala com uma cerveja para ele e outra para ela.

-Então... – Baby disse, pegando sua long neck. – Você não vai mesmo a uma festa de réveillon?

-A Alicia vai dar uma festa no apartamento dela.

-Quem?

-Minha amiga Alicia? A morena que muda a cor do cabelo toda semana?

Quando A Vida Acontece - Vol 3Where stories live. Discover now