Capítulo 3

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Baby colocou Millie no chão para achar a chave dentro da bolsa. Imediatamente, a filha começou a dançar, enquanto cantava:

-Pec-pec-pec, pec-pec-pec.

-Então é daí que vem minha dor de cabeça - Baby resmungou. Não era da cantoria da Millie, e sim o que ela imitava: o som de Grace fazendo sua "arte" dentro do apartamento.

Para acompanhar, o cachorro começou a latir, aquele latido forte de cães de grande porte. Baby ficou com a chave na mão, olhando para a fechadura e considerando dar meia-volta e ir para um hotel. Em seguida, pensou em todo o desaforo daquela mulher a expulsar de sua própria casa e abriu a porta.

-Theo! - Millie agarrou o pescoço do cachorro. Não sabia o que era pior. Se era ter um cão daquele tamanho no seu apartamento novo, sujando sua mobília nova, ou se era a sua filha se apegar a ele. Como iria explicar (muito em breve, por favor) onde o cão havia ido parar?

-Pec-pec-pec, pec-pec-pec.

Largou a bolsa em cima do sofá, viu que ele estava com manchas de patas e foi até o escritório, onde sua cunhada estava sentada no chão, esculpindo algo totalmente aleatório e com várias lascas de madeira em volta.

-Onde está o Zach? - Baby perguntou.

-Ele saiu. A gente está se alternando, acho que o barulho do meu trabalho o incomoda.

"Não diga", Baby pensou.

-Acho que ele está escrevendo na Starbucks da rua – Grace continuou. - Já estou acabando aqui. Mando uma mensagem e ele volta.

Perfeito. Uma visita incômoda, que a odiava e a havia deixado sem casa e sem namorado.

-O Theo está sujando o meu sofá, Grace. Você não pode ensiná-lo a não subir nele?

-Ele é velho, já tem os hábitos dele. Mas quando a gente for embora, eu pago a limpeza.

-É? E quando você vai embora?

Grace levantou os olhos da escultura como se tivesse escutado uma ofensa:

-No final do mês. Não é quando o apartamento do Zach vai estar vago?

-E o seu amigo da galeria? Deu algum sinal de vida?

-Ele disse que terá alguma coisa para mim em breve.

Baby resmungou qualquer coisa e foi pegar uma banana para a Millie. Não era sempre que era tão sem educação, mas...

Hum... Era sem educação, sim. Nada comparado à Grace, mas era, sim.

Millie tirava os seus brinquedos do baú no seu quarto e, com uma das mãos, pegou distraidamente a banana que sua mãe lhe estendeu no momento em que tocou a campainha.

-E essa agora, garota? - Baby resmungou.

-É o Tommy! - Millie disse.

-Verdade, é sempre o Tommy.

Era o Tommy.

Aquartelados no quarto da Millie, Tommy dizia:

-Então você ganhou um cachorro que suja seu sofá, uma cunhada que te odeia e fica martelando pedaços de madeira dentro da sua casa nova, um namorado desaparecido por causa do barulho dela...

-Basicamente – Ela respondeu, arrumando cavalinhos de plástico na fazenda de brinquedo da filha.

-Que derrota, amiga.

-Não é?

-Ela é espaçosa?

-Ela faz esculturas e tem um labrador. É claro que é espaçosa. Além daquela energia ruim. É muito desaforo ter que conviver com ódio alheio na minha casa.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Where stories live. Discover now