Eram três horas em ponto. Ella mexeu na bolsa, tirou um porta comprimidos e, deste, uma pequena pílula branca. Fechou a mão sobre ela e se levantou da cadeira em frente à poltrona horrorosa do pai.
-Está doente? – Joel perguntou.
-Estou com infecção urinária de novo.
-Isso é perigoso, Ella! Isso mata! O Brandon do 205 morreu disso.
Ella pensou em lhe dizer que o Brandon do 205 tinha uns cento e três anos, mas resolveu deixar para lá. Não queria chamar a atenção do pai para a idade média dos vizinhos para o caso de ele arrumar algo novo para implicar. Ella foi até a cozinha pegar água e engoliu o comprimido.
-Eu já tive antes, pai. Não é nada de mais, só tenho que ficar tomando antibiótico, o que é um saco, mas daqui a pouco vou estar nova.
-É que você faz coisas demais.
Ella olhou para ele, surpresa por ele se mostrar observador. Joel continuou.
-Você vive estressada, vive apressada, a imunidade baixa. Aí pega tudo. Bactéria, vírus, fungo, tudo.
-Caramba, pai, pode ser isso mesmo – Ella disse, fascinada. – Eu estou fazendo curso...
-Ackers não são bons com livros.
-Tentando levantar aquela agência no muque...
-Que agência?
-A agência de modelos que eu abri com uma amiga minha.
-Aquela que é um graveto como você?
-Essa.
-Ela não te ajuda, não?
-Não é assim, pai – Ella falou, incomodada. – Ninguém ajuda ninguém, nós complementamos uma à outra. Somos uma dupla, entende? Como ela é mais simpática, ela conversa com os clientes e eu fico nos bastidores.
-Tá, me conta isso com uma cerveja. Mas você não pode beber tomando remédio, pode?
-Eu tomo um suco.
A cerveja era sem álcool, mas Ella também queria guardar aquele segredo do pai.
Os dois saíram para o corredor do andar e uma porta estava aberta. Uma mulher de roupas brancas dizia para alguém dentro do apartamento:
-Só uma voltinha, vamos. A senhora vai ver como nada de ruim vai acontecer.
-Nada de ruim? Cada vez que você diz isso, um filho meu some!
Ella ficou curiosa e foi até lá.
-Posso ajudar? – Perguntou.
-Minha filha é muito intrometida – Joel explicou. – Infecção urinária não mata?
A mulher se apresentou como acompanhante da Nancy e disse que algumas vezes, se infecção urinária não fosse tratada, matava, sim. Também falou que estava tentando convencer a Nancy a dar uma volta, que ficar trancada o tempo inteiro não era saudável.
-Nancy – Ella disse. – Conte os seus filhos antes de sair e depois que voltar. Tenho certeza de que não vai sumir nenhum.
-Já tentei de tudo – A acompanhante falou.
-Vamos beber cerveja ou não vamos? – Joel insistiu.
-Já vou, pai.
-Então eu vou indo na frente – Ele deu as costas e se dirigiu ao elevador, nem um pouco tocado com o sumiço dos filhos da Nancy.
-São bonecas? – Ella perguntou.
-Não, menina, são esculturas de gesso. Pequenas, mas imagino que valham uma fortuna. A Nancy era uma artista muito famosa quando era mais jovem, aí teve um colapso mental e sumiu da mídia. Ela continua fazendo as esculturas e as chama de filhos, mas não as expõe mais. Aliás, elas nem saem do quarto. Acho que ninguém além de mim as viu. Agora olha o problema. Se elas estão sumindo mesmo, sobre quem vai cair a culpa?
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Quando A Vida Acontece - Vol 3
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Ella e Allison estão de volta, a primeira tentando resgatar o passado, a segunda procurando viver o presente depois que algo muito precioso lhe foi tirado. Baby tenta começar uma nova família, ma...