Capítulo 5

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Pec-pec-pec, pec-pec-pec

O fato de Zach ter intercedido, ter puxado os cordões certos para conquistar a boa vontade de Baby não fazia dele um cara feliz, muito pelo contrário. Ele conseguia pensar em vários usos para aquele martelo, e nenhum deles era muito cristão.

O Theo não o incomodava. Era impossível não amar aquela massaroca de pelo e baba. Mas o martelo era diferente. Zach precisava de paz para trabalhar. Precisava de concentração. E o pec-pec-pec da irmã era o oposto de tudo isso.

Entretanto, havia uma regra não escrita. Um Collinsworth não deixava o outro na mão. E, apesar de já ter dito um milhão de vezes para a sua irmã arrumar um emprego regulamentar de nove às cinco enquanto sua arte não se tornava algo rentável, ela insistia em suas esculturas de madeira. E, como irmão e artista, ele não podia lhe virar as costas.

Mas era um saco, estava tirando tempo seu, da sua família, testando a paciência de todo mundo e o final de setembro nunca pareceu tão longe.

Aquela tarde, ele foi buscar Millie na creche e o trânsito de Londres nunca pareceu tão silencioso. Mil vezes o ruído de carros e buzinas ao martelo da irmã.

-É aniversário da Andy! Vai ter bolo! - Millie ia pulando pela rua, tentando não pisar nos riscos pretos da calçada.

-É? Sabe quem mais vai fazer aniversário? - Zach perguntou, de mãos dadas com ela.

-Eu!

-E vai ter bolo?

-Vai!

-E o que mais vai ter?

-Minnie Mouse!

-Você gostou da Disney, né? - Zach riu.

-Sorvete, papai! - Millie apontou.

-Putz, em uma terça-feira? Hoje não, Millie. Mas no domingo vai ser seu aniversário e você vai poder tomar sorvete até virar do avesso. Quem vai na sua festa?

-A Andy e o Oscar e a Julie...

Millie continuou fazendo a lista pela rua enquanto os dois se aproximavam do prédio. Ela havia trocado de creche recentemente para ficar mais perto de casa, o que não lhe causou o menor problema. Millie era muito extrovertida e desinibida. Havia crianças que estavam lá há um ano e não se sentiam tão à vontade quanto ela. Somando-se os amigos da outra creche, a sua festa de três anos tinha tudo para ser um sucesso.

À medida que se aproximavam da portaria, perceberam um homem sentado nas escadas. Zach não o reconheceu a princípio, até que ele começou a acenar para a Millie e, ela, a acenar de volta. Zach se aproximou, desconfiado, e então viu quem era.

-Oi, Victor. Por que não entrou?

-E aí, Zach! Oi, gatinha – Ele se abaixou para falar com Millie, que imediatamente escalou-o até o seu colo. Se aquela menina encontrasse um sequestrador na rua, ela seria presa fácil.

Victor se levantou com Millie no colo e explicou:

-Tem uma moça lá que não me deixou entrar. Ela disse que eu não tinha como provar que era quem eu dizia ser e que eu tinha que esperar você ou a Baby chegarem.

-Foi mal – Zach coçou a cabeça, sem graça. - É a minha irmã, ela está passando uns dias com a gente. Ela é meio... superprotetora.

-Tudo bem – Victor riu. - É a casa onde a minha filha mora, fico feliz que vocês não deixem qualquer um entrar.

Zach sorriu, ainda que estivesse um pouco irritado. Sabia que não havia sido a intenção do Victor jogar na cara a paternidade da Millie nem cobrar como eles criavam a menina. Todos sabiam que Zach daria a vida por Millie.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz