Capítulo 18

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Em seu estágio, Luca elaborava artes para mídias sociais, algo no qual ele era muito bom, não por ter algum talento em especial, mas porque fazia isso desde criança. Todos os aspectos da sua vida sempre foram extremamente visuais. Ele era incapaz de aprender as matérias da escola, mesmo matemática, se não pudesse anotar, desenhar ou visualizar. Gostava de tirar fotos, de fazer vídeos, de testar cores e fontes diferentes e, desde pequeno, suas redes eram coloridas, ricas e interessantes. Escolher uma carreira foi muito fácil, pois não havia mais nada que ele gostasse de fazer no mundo.

Menos naquele dia. Naquela tarde, não lhe vinha uma única ideia.

-Está tudo bem? - Max perguntou, vendo que ele estava há um bom tempo encarando o computador.

-Tudo – Luca respondeu distraidamente, mordendo a tampa de uma caneta.

-Sem querer ser um idiota e tal, preciso do projeto até o final do dia.

-Ok – Luca falou, distante.

Max não era um idiota. Aliás, ele era um chefe tão bom que, se seu jogo não o tornasse rico até dali a um ano, quando terminasse a faculdade, a expectativa e esperança de Luca era que aquela empresa lhe oferecesse uma vaga permanente. Se bem que, independentemente do que acontecesse com o jogo, ele gostaria muito de trabalhar ali por algumas razões, e Max era uma delas. Ele era exigente sem ser autoritário, ensinava sem parecer paternalista e sem nunca perder a paciência. Tinha cerca de quarenta anos e um interesse real na vida de quem trabalhava para ele, sem ser intrometido.

Ele certamente compreenderia que Luca não tirasse da cabeça a audiência pela guarda do Noah. O comunicado da justiça ainda não havia chegado e provavelmente demoraria mais um pouco, mas todos os dias, Luca, que estava acostumado a não ter a menor preocupação na vida, acordava com medo.

-Você tem filhos, Max? – Ele perguntou, girando de um lado para outro na cadeira.

-Tenho dois – Max, que estava a caminho da própria sala, parou para responder. - Um casal. Moram com a mãe.

-É? - Luca pareceu focar o olhar pela primeira vez. Como ele parecesse interessado, Max se sentiu um pouco na obrigação de acrescentar:

-Eles passam um final de semana comigo de quinze em quinze dias.

Luca imediatamente pensou que, há quase quatro meses, Noah passava praticamente todas as horas do dia com ele. À princípio como uma obrigação que virara a sua vida de pernas para o ar, e então a palavra "filho" fez um clique na sua cabeça e, apesar de continuar tendo de cuidar dele e prover por ele, Noah havia se tornado o centro da sua vida.

Até que Bobbie apareceu, e como seria se ela carregasse o garoto e Luca só pudesse vê-lo quinzenalmente e aos finais de semana? E mesmo se dividissem o tempo por igual, em uma guarda alternada, isso não fazia o menor sentido.

Luca estava com um sentimento que nunca tivera em seus vinte e dois anos de vida. O de injustiça.

Max viu que as perguntas haviam terminado e foi para a sua sala, e Luca voltou a encarar o monitor do computador, inteiramente sem inspiração.

A pessoa que conhecia com mais exemplos de pais separados era seu irmão Victor. Na noite anterior, havia conversado com ele.

-Meu pai adotivo era um superpai durante um tempo e depois se revelou ser um babaca – Ele havia dito. - Encheu o saco da mamãe para conseguir a minha guarda por um tempo, a mamãe perdeu a primeira vez, recorreu, ganhou, ele passou alguns anos vindo me visitar, eu ia visitá-lo na França, até que ele sumiu. Pense nisso, Luca. É muito fodido quando um pai some da sua vida. Claro que tem vezes que não tem jeito e aí a família tem de segurar a barra, mas isso pira a cabeça de uma criança. Eu achava que a culpa era minha.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora