Capítulo 17

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Allison nunca pensou em se casar. Mas, se fosse como o casamento da Lily, ela reveria os seus conceitos. Seu pai não dava nem um inteiro para levá-la ao altar, muito menos dois. E é claro que ela falava um único idioma e, por isso, não poderia fazer os votos em inglês e português, como Lily e Mateus. Mas achava que todo o resto era bem possível, embora toda a sua história agisse contra ela.

Por exemplo, o nome Lily significava lírio, como os do buquê que a noiva carregava. Já o seu, segundo uma pesquisa que fez para a escola, era um nome germânico unissex que significava nobre. Era um conceito muito confuso. Nobre de espírito, de refinamento, de ideias? Achava muito difícil que qualquer coisa nela remetesse à nobreza e, de qualquer forma, não era algo que pudesse usar no seu casamento, a menos que realizasse a cerimônia na Abadia de Westminster.

Em segundo lugar, para casar ela tinha de acreditar no amor. Não era que fosse completamente contra o conceito nem que nunca houvesse tido suas paixonites. E acreditava, sim, em várias formas de amor. Em seu amor por sua avó; no amor pelos seus amigos; no amor que sentia pela carreira que havia escolhido... Esse tipo de sentimento muito dificilmente acabava. Ela não confiava era naquele amor doido que virava tudo do avesso, nos alçava às nuvens durante algumas semanas para nos fazer esborrachar pouco depois. Ou que então caía no tédio e no vazio.

Assistindo a Lily e Mateus trocarem alianças, Allison pensou que seus pais já foram assim algum dia. Já se amaram e pensaram que podiam ser felizes compartilhando uma vida e formando uma família. Não sabia nem quando o projeto começara a dar defeito, mas não tinha a menor lembrança de um lar que se parecesse remotamente com as palavras inspiradas do padre.

Em contrapartida, o que as pessoas ali tinham era tão enorme e poderoso que a fizeram lembrar das palavras do Luca, de que ele tinha medo de passar pela vida sem se apaixonar. Aliás, ela se lembrava disso com muita frequência. A vontade de se entregar a alguém era algo tão alienígena ao seu mundo que ela não conseguia superar o que ele dissera. Um cara bonito, que ficava com mil garotas diferentes, ao invés de querer viver assim até o fim dos seus dias optava por sofrer. Algumas noções eram bizarras demais.

A festa foi em um enorme salão, ao som de uma banda de rock dançante. Mandie, uma das gêmeas de Angie, era a mais animada e já estava sem sapatos no meio da pista de dança, se mexendo com uma graça que era até surpreendente. Enquanto a observava, Loly disse:

-Não quero estragar a festa com trabalho, mas você já comprou tudo para a prova amanhã?

-Não estraga, estou louca pra falar disso! - Allison respondeu, empolgada. - Já comprei e amanhã vou faltar à aula para fazer coisas como o meu próprio sorvete. Isso impressiona, não é?

-Eu estou impressionada – Loly respondeu. - Eu vou com você. O Tommy vai me cobrir e pensei que eu poderia ser a sua garçonete.

-Jura? - Allison pensou: "Viu? É esse tipo de amor que eu gosto".

-Vai ser muito legal! Você me explica direitinho o que eu preciso fazer, porque você tem experiência no bistrô em que você trabalha.

-Amiga, não vá por mim, porque eu faço tudo errado.

Loly riu.

-Passo na sua casa então por volta das dez, que tal? E aí vamos juntas.

-Loly! Vem dançar comigo! - Mandie falou e Allison deu uma gargalhada.

-Essa menina te ama. Fala para ela me recomendar para a mãe dela.

-Deixa comigo – Loly piscou e se levantou.

Ela e Mandie deram as mãos e começaram a dançar twist juntas. Allison sorriu assistindo, até que seu olhar escorregou para a direita e ela viu Daisy e Dylan. E os danados até que dançavam bem. Era duro admitir, mas eles formavam um casal bonito.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Where stories live. Discover now