O quarto estava de cabeça para baixo, algumas coisas eu tinha quebrado ou rasgado. Até pensei em tocar fogo, mas reavaliei ao imaginar a casa inteira pegando fogo e eu só para apagar. Não sei a quanto tempo eu estava sentada no meio de toda essa bagunça com algumas coisas para bebê ali nas minhas pernas. Eu já tinha chorado e gritado, mas ainda não me senti pronta para sair apesar da dor e do leite vazando a algum tempo. Justin não tinha vindo e eu aproveitei esse tempo a sós.
Me sentia cansada, desidratada e com uma enorme dor de cabeça de tanto chorar.
Ela comprou um urso para a filha, roupinhas e até uma chupeta. Mas também tinha achado uma carta dela para a Charlotte, tinha um bilhete para mim.
"Não sei se você um dia vai contar para ela a verdade, mas caso decida contar, aqui está minha versão para ela."
Eu não tive coragem de abrir a carta, mas isso martelava em minha cabeça. Como eu iria contar a ela a verdade? Era tudo que eu pensava desde que Charlotte nasceu, mas não acho que ela entenderia tudo o que aconteceu.
Gemi com a dor do seio, começava a pingar, o absorvente já estava transbordando. Juntei tudo aquilo e sai do meu mundo. Deixei tudo na cômoda indo até o quarto dos bebês. Quando entrei vi Astra, minha mãe e Justin conversando, cada um segurava um bebê.
—Oi. — falei os assustando. Escutei Justin suspirar, parecia aliviado. — Qual deles esta com mais fome? — perguntei indo me sentar, minha mãe veio com Harry.
—Como você está? — ela perguntou e eu apenas sorri levemente para ela.
—Vou sobreviver, mas agora é hora de alimentá-los. — ela assentiu.
—Já passou da hora. — minha mãe falou rindo.
Tirei a blusa enquanto conversávamos e desabotoei o sutiã colocando Harry para mamar. Afaguei sua cabeça, ele mamava desesperado e doia, mas eu não me importei, quer dizer, eu tentei.
—Qual a outra? — questionei olhando para Astra e Justin. Astra trouxe a Charlotte e eu a coloquei no outro peito. — Pega algo para eu comer, por favor. — pedi para Astra que assentiu. Minha mãe saiu com ela me deixando só com Justin que se sentou em uma poltrona ao meu lado. Ele tentava enganar Hanna com uma chupeta. —Não lembro de ter concordado em dar chupeta para eles. — disse e ele me olhou.
—Eles estavam com fome, as mamadeiras não deram para matar a fome deles. — Justin deu de ombros. — E você? — ele perguntou me olhando atentamente.
—Não sei. Eu preciso dormir e comer. Tomar um banho também, o leite vazou demais em mim.
—Deu para ver na sua blusa. Kylie, como você realmente está se sentindo? — ele perguntou esticando a mão para encostar na minha.
—Acabada. Eu não sei como me sentir. Encontrei uma carta dela para Charlotte, caso decidimos contarmos para ela a verdade. Eu ainda não li, isso é tão complicado. Eu não a vejo entendendo o que passamos. Ninguém entende o que aconteceu.
—Tudo bem. Quando a hora chegar vamos pensar nisso. — assenti lentamente.
—É a única coisa que eu penso desde que ela nasceu, Justin. Tenho medo de falhar com ela, por não ser nossa. — olhei para a menina. — Quando eu acordei, era só que eu pensava. Em como você reagiria a ela, como todos reagiriam a ela.
—Todos amamos a Charlotte, Kylie. Você não tem que preocupar com isso. Ela é nossa. Nos vamos cria-la do mesmo jeito que iriamos fazer com os gêmeos. Ela não ter sido gerado por nos, não vai mudar isso. Agora ela é nossa filha. Nos a adotamos. —ele riu e balançou a cabeça, eu o olhei confusa. — Não foi de uma maneira normal, mas a adotamos. Apesar de tudo, ela é biologicamente nossa.
—Você promete? — perguntei deixando-o confuso.
—Não sei o que, mas eu prometo, tudo o que quiser e mais um pouco. — ri fraco e sorri para ele.
—Ama-la independente de quem ela veio. Principalmente nunca usar isso em uma briga. — Justin arregalou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
—Não, nunca! Meu Deus! Não, Kylie. Ela veio de nós, eu e você a fizemos e demos para Addison gerar. Você lembra dessa parte, não é? Enfim, ela é nossa filha e fim de discursão.
—É bom ouvir isso. — sorri aliviada relaxando na poltrona. — Eu me sinto um pouco melhor, em vê-la uma última vez. Só preciso que limpe o quarto que ela usava, eu o destruí.
—E quando você não destrói algo? — ele riu balançando a cabeça. — é seu jeito, desde que você quebrou aquele espelho por causa do Brian, eu comecei a notar.
—Isso é verdade. Ela tinha comprado ou roubado, algumas coisas para a Charlotte. Está tudo no nosso quarto. — Harry soltou meu peito e eu tentei colocá-lo de volta, mas ele não queria, então olhei para o Justin, que se levantou me entregando Hanna e pegou Harry colocando-o pra arrotar. — Eu sinto muito por ter acabado com sua alegria pela festa. — Justin se virou estreitando os olhos.
—Você não acabou com minha alegria, a festa ainda vai acontecer, mas eu estou esperando você se animar também para isso, nem que só aconteça quando eles fizerem 2 meses, mas ela vai acontecer. —me segurei para não ri e assusta-los.
Justin terminou de colocar Harry para dormir e o deitou em seu berço, então ele se ajoelhou na minha frente, apenas me olhando. Abaixei a cabeça envergonhada de tanto que ele me olhava.
—O que você quer? — perguntei e ele riu.
—Nada, apenas te ver. — fitei ele de volta o deixando tão envergonhado quanto eu, ate que Charlotte quebrou o clima, soltando um peito. Rimos e isso fez as duas soltarem meus seios. Astra entrou no quarto confusa com nossa risada.
—Eu trouxe a comida. — ela falou e eu assenti. — O que aconteceu?
—Ela peidou. — Justin falou deitado no chão. Astra me olhou confusa.
—A Charlotte. — disse esclarecendo. — Olha se ela não precisa trocar a fralda, por favor. — Astra sorriu pegando a menina no colo e indo ate o trocador. Troquei a Hanna de seio, pois ele estava vazio. Justin ajeitou a bandeja e eu peguei a água tomando todinha. Respirei fundo me sentindo um pouco melhor, por ter bebido água.
[..]
Um novo dia tinha começado de maneira conturbada, eu dormia na poltrona com Hanna no meu colo, ela tinha resolvido chorar durante toda a noite e por isso tinha ficado aqui me balançando com ela.
—Bom dia! — minha mãe falou, abri meus olhos vendo a se aproximar. — Eu fico com ela, para você ir comer, tomar um banho. — sorri levemente, mas não me mexi.
—Sinceramente, eu não quero sair daqui. Ela parou de chorar agora. — disse sem nem me mexer. — Se ela acordar agora, não sei se tenho saúde mental para mais choro. — ela riu fraco vindo afagar meu cabelo.
—Você quer comer algo? Água? — ela perguntou preocupada.
—Água, eu quero. — ela sorriu beijando minha testa e se afastou saindo do quarto.
Justin tinha ido dormir a pouco tempo, ele ficou comigo durante parte da noite, ate queria ficar no meu lugar, mas Hanna não se acalmou com ele. Ela segurava meu dedo a um bom tempo.
—Aqui está. — ela me entregou a água e eu sorri bebendo.
—Eu ainda não desci para ver o que o Justin fez. — disse a olhando. — Ficou bonito?
—Sim, ele fez uma decoração bonita. Com bexigas, enfeites no teto, ajeitou a mesa. Ficou muito fofo.
—Deveríamos aproveitar. — falei suspirando. — Ele se esforçou. — disse voltando a olhar para Hanna.
—Sim, mas só se você quiser. Você precisa se recuperar primeiro antes de darmos mais um passo. — neguei levemente, com receio de qualquer movimento acordasse a menina.
—Ele precisa disso, desse momento de pai. Não vou tirar isso dele. — falei fechando os olhos. — Termina de arrumar as coisas, por favor. Quando ele acordar comemoramos.
[..]
Eu usava um vestido branco solto, os trigêmeos usavam macacões verdes com coroas estampadas. Faltava apenas o Justin, ele tomava banho. A mesa estava toda enfeita, com doces e 3 bolos. Todos pareciam animados para esse momento, cuidando dos trigêmeos. Inclusive isso me deixava aliviada por estar quieta em meu lugar.
Vi ele aparecer na sala e me ajeitei, já que estava praticamente deitada no sofá, tirando alguns cochilos.
—Vamos fazer umas fotos. — Justin falou mostrando a câmera. Eles pareceram ainda mais animados por isso, afinal ninguém tinha foto com eles.
Por isso eu apenas observei, Patricia e Jazmyn tirando foto com eles. Em seguida, meus pais e Nicolas que tinha chegado a pouco tempo para esse evento. Então, foi a vez de Astra, Giovanna, Chaz e Ryan tirar fotos com eles. Eu ainda não sabia quem seria os padrinhos de Charlotte.
—Só falta vocês. — Patricia falou animada, me olhando. Me levantei perdida em pensamentos e sorri para eles.
—Eu não estava preparada para isso, mas vamos. — falei indo me ajoelhar ao lado deles, Justin fez o mesmo do outro lado e sorrimos para a foto que Ryan tirou. — Deveriamos tirar todos. — disse olhando para o loiro que correu ajeitando a máquina enquanto todos se posicionavam atrás dos carrinhos. Continuei ali ajoelhada esperando por Justin, que correu para o meu lado, mas tropeçou no tapete e acabou indo de cara no chão.
—Justin. — Patricia exclamou e eu me sentei no chão tentado segurar o riso, mas não aguentei caindo na gargalhada deitada no chão. Algo mudou durante a risada e eu comecei a chorar com as mãos no rosto. Não conseguia escutar o que acontecia na sala, só podia ouvir meus batimentos e meu próprio choro.
Ate que eu consegui parar de chorar e apenas fiquei soluçando, me sentei observando todos ali, que me olhavam. Senti a vergonha me dominar e enxuguei minhas lagrimas.
—Está tudo bem. — disse me levantando e saindo para ir na cozinha beber água. Justin estava la encostado no balcão com um saco de gelo na testa.
Nos olhamos por alguns segundos, até eu abraça-lo, ele passou seus braços a minha volta. Podia escutar seus batimentos, apesar dos meus soluços. Fechei os olhos recuperando minha respiração e então o olhei.
—Onde doi? — perguntei fazendo ele me olhar confuso.
—A cabeça, nada que não passe com gelo. — ele riu de lado. — Você está bem? — respirei fundo e assenti.
—Vou ficar. Uma hora eu fico. — disse selando nossos labios. Tirei sua mão dali com o gelo para ver, coloquei minha mão em sua cabeça e o curei. Juntei nossos labios em um beijo lento, sem lingua.
Peguei um copo com água e o bebi tudo rapidamente. Indo com Justin para a sala.
—Vamos tentar de novo. — Justin falou indo ajeitar a câmera, nos posicionamos novamente e dessa vez ele não caiu ao correr para se ajeitar.
—Tem que cantar os parabéns? — perguntei confusa quanto a festa.
—Não. —minha mãe falou e riu, tocando meu ombro. — Você se acostuma.
—Tudo bem. — disse indo me sentar, meus olhos estavam pesados. Eu ainda não tinha dormido, depois da longa noite com a Hanna.
—Quer ir se deitar? — Justin perguntou e eu neguei. Observava todos ali, comendo, conversando ou apreciando os trigêmeos que dormiam. — Você deveria ir, eu fico com eles. — sorri para ele e segurei sua mão.
—Eu aguento. È um momento importante para você. — falei sorrindo largo, Justin se sentou ao meu lado puxando minha cabeça para o seu peitoral, enquanto afagava meu cabelo.
Meus olhos foram caindo e eu me afastei do Justin.
—Não. — falei me levantando. — Eu não vou dormir. Vou comer aquele cupcake.
—Você não pode comer isso. É muito doce para os trigêmeos. — Giovanna falou e eu a fuzilei com o olhar, ela levantou as mãos e os meninos riram.
—Você não quer irrita-la, ela ainda não dormiu. — Astra falou, fazendo Giovanna se afastar, ri do seu jeito e peguei um cupcake.
—Quando eu volto a dormir? — perguntei olhando para as mulheres ali. Elas se entreolharam.
—De três? Não sei. — patrícia falou e eu suspirei. — Eu voltei a dormir depois do Justin ter uns 7 meses. — fitei os trigêmeos e balancei a cabeça negando.
—Só vou dormir quando eles tiverem 3 anos. Não vai ser fácil cuidar de dois países sem dormir. Falando nisso como está? — perguntei olhando para o Nicolas.
—Estamos bem. — ele sorriu, olhei para ele e então para Astra.
—Estamos bem, também. — ela falou antes que eu falasse algo.
—Olha, só porque eu ainda não dormi, vou fingir que não vi a cara de vocês de que tão me escondendo algo.