Capítulo 4

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- Merda! - acordei em um pulo com o barulho do telefone que soava extremamente estridente aos meu ouvidos. Demorei alguns segundos para conseguir levantar do sofá. Minhas costas doíam assim como meu pescoço. Corri até o telefone e consegui atender no último toque. 

- Alô? 

- Anahí. - eu poderia reconhecer aquela voz mesmo se saísse como um sussurro em meio a uma multidão. Era uma voz extremamente máscula e rouca, especialmente pela manhã.

- Alfonso. - eu disse seu nome da mesma maneira ríspida que ele, mesmo que minha voz soasse um tanto estremecida por receber uma ligação do meu “excelentíssimo” ex-marido logo pela manhã. Não que isso me abalasse, claro que não...

- Você não foi trabalhar hoje? - e então eu cai em um choque de realidade.

- Que horas são? - eu perguntei mais pra mim mesma do que para Alfonso, caçando algum relógio.

- São 9:30 da manhã, Anahí. - meus olhos se arregalaram instantaneamente.

- Puta merda! Estou atrasada. Fala rápido, Alfonso. Não tenho tempo a perder...o que quer? - eu já corria afobada pelo apartamento,tentando me arrumar o mais rápido possível.

- Ótimo que esteja atrasada. Estou a caminho do seu apartamento. Preciso falar com você, te dou uma carona até o trabalho.

-Nem pensar! Você não..

- Em 15 minutos estou aí, esteja pronta. Você sabe o quanto odeio atrasos,docinho.- e desligou. Desgraçado. Eu olhei pro telefone em minha mão e o apertei. 

- Arrogante! Estúpido ! - eu gritei e taquei o telefone no sofá. Quem ele pensava que era para desligar o telefone na minha cara? Alfonso era um prepotente, cheio de si. Eu bufei e então parti para um banho rápido, já que não possuía muitas escolhas naquele momento. 

...

Consegui me arrumar em tempo recorde. Em menos de 15 minutos já estava pronta. Como não tive muito tempo para me arrumar, vesti uma saia lápis e uma blusa azul de seda combinando. Tive que fazer um rabo de cavalo em meus cabelos, mas pelo menos consegui me maquiar decentemente. Eu calçava um pé do sapato quando a campainha tocou, anunciando a chegada de Alfonso. Eu abri e me deparei com aquele homem de quase 1.90 em meio a seu blazer escuro e sua camisa social branca com alguns botões abertos. Eu não podia negar, apesar de odiar Alfonso, tinha que admitir que ele era incrivelmente lindo. E isso sempre me deu o maior trabalho. Todas as mulheres babavam por ele. Antes, apesar de enciumada, nunca tive motivos para me sentir insegura, mas o tempo passou e esse sentimento também mudou. 

- Ainda não está pronta, Anahí? - eu revirei os olhos.

- Não. Satisfeito com a resposta? - eu bufei - vou só pegar minha bolsa,senhor impaciente. - eu virei de costas e comecei a caminhar em direção ao quarto até que ouvi o barulho e me virei. - ei, quem deixou você entrar no meu apartamento? 

- Tenha dó, Anahí. Era só o que me faltava, eu ter que esperar do lado de fora. - ele fechou a porta atrás de si e foi em direção a minha sala de estar. 

- Insuportável...- eu resmunguei para mim mesma e segui para meu quarto. Coloquei um pouco de perfume, me olhei uma ultima vez no espelho e então peguei minha bolsa. Quando cheguei á sala, encontrei Alfonso encarando a grande janela de vidro que dava para a varanda. Suas costas eram largas e musculosas, por um segundo eu lembrei de minhas unhas percorrendo toda a sua extensão enquanto fazíamos amor. Não. Eu meneei a cabeça rapidamente.

- Estou pronta. Vamos? - ele se virou e me encarou. Seus olhos percorreram dos meus pés até o meu rosto demasiadamente devagar. Eu arqueei uma sobrancelha - O que foi, Alfonso? - ele balançou a cabeça como se tivesse despertado de algum transe, assim como eu fiz há poucos segundos atrás.

- Nada. Vamos. - ele disse ríspido e então passou por mim. O elevador já estava no andar e quando entramos o silêncio gritou entre nós. O silêncio e aquela mesma tensão que havia se instaurado no dia anterior enquanto íamos rumo a mais uma tentativa de conciliação. Alfonso estava parado em um lado do elevador com as mãos no bolso, enquanto eu encarava a porta de metal e segurava minha bolsa junto ao corpo. 

- Você...você está... - ele começou a falar e eu o encarei.

- Eu estou...? - o incentivei a continuar. Ele apertou os olhos e os abriu, parecia nervoso.

- Você conseguiu tomar café? Quer comer alguma coisa? - ele passou a mão pelos cabelos. suspeito que não era isso que ele iria falar. Ele estava tentando disfarçar. Eu estreitei os olhos. 

- Não tenho tempo para isso, Alfonso. Estou atrasada. 

- Vamos lá, Anahí. Max não irá se importar se sua “melhor publicitária” se atrasar um dia porque foi tomar uma xícara de café e comer algo. - o elevador chegou e nós saímos

- Primeiro, você está debochando de mim? E segundo, por que te importa se tomei café ou não? - eu sai andando apressadamente até seu carro sem olhar pra trás e ele me seguiu. 

- Não. Não estou debochando e ..Anahí, eu estou falando com você - ele então me puxou pelo braço e eu o encarei. - por que é difícil pra você me encarar quando estou falando com você,merda?! - eu pisquei. Sua mão permanecia em meu braço, não me deixando me mover. A resposta para a pergunta dele veio diretamente de meu corpo quando encarei seus lábios. Mas minha mente pensou mais rápido. 

- Desculpe, não havia percebido. - ele suspirou

- Eu me importo se você toma café ou não. Você sempre se alimentou mal e isso me incomoda. Te ver doente ou com algum mal estar, me incomoda. - eu pisquei algumas vezes diante de sua resposta. Fazia algum tempo que não via sinceridade em suas palavras, mas naquele momento eu podia sentir que era verdade. 

- E por que te incomoda? - minha voz ganhou um tom mais baixo e suave. 

- Porque... - ele encarava meus olhos - eu...quer dizer, você... - sua mão em meu braço se suavizou e ele acariciou o mesmo levemente. Sua voz era mais baixa e seus olhos pendiam sobre mim de uma forma mais intensa. Ele então pigarreou e seu afastou abruptamente - porque se você ficar doente não iremos resolver nossa situação nunca ! E foi pra isso que vim aqui hoje. Agora por favor, entre no carro. - ele então se afastou de mim e deu a volta em seu próprio carro apertando o alarme. Eu fechei os olhos por alguns segundos e meneei a cabeça incrédula. Por que era sempre assim? Eu sorri amargamente. O que eu queria também? Que ele falasse que se importava comigo? Era pedir demais. Eu soltei o ar dos meus pulmões e então entrei no carro. Antes de ligar o carro, ele suspirou.

- Desculpe pela maneira como falei. Eu só estou estressado com tudo... - eu não o encarei. Permaneci olhando para frente.

- Tudo bem. Eu entendo. Foi o que fiz nos últimos meses, não? Eu entendi... - eu falei de forma baixa. Após alguns segundos em silencio ele ligou o carro e deu partida. Talvez o silêncio fosse melhor do que escutar determinadas coisas. 

Até logo...Where stories live. Discover now