Capítulo 5

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O caminho seguiu no mais absoluto silêncio. Nós paramos em frente ao pequeno bistrô de comida francesa que costumávamos ir quando ainda estávamos casados. Bem, nós continuamos casados, mas quando o tempo entre nós era mais do que uma carona formal para um dia de trabalho repleta de rancor e cercada de uma atmosfera pesada . Ao entrar e escutar o soar leve do sino da porta meu coração apertou-se ao lembrar de todas as cenas que vivi com Poncho ali. As risadas, os cafés da manhã, as conversas por horas.

Eu fechei os olhos por um segundo e então senti a mão de Poncho apoiar-se no final de minhas costas para guiar-me até uma mesa. Eu sempre amei essa sua atitude possessiva dele. Meu corpo arrepiava com cada toque seu, e por mais difícil que estivesse nossa relação naquele momento, isso não poderia ser diferente.

Logo tivemos que nos sentar e eu me senti sozinha novamente ao ter que me desfazer do calor de sua mão que chegava a penetrar o tecido de minha blusa. De frente um pro outro, eu evitei olhar em seus olhos, ajeitando minha bolsa e a pendurando na cadeira.

- E então, posso saber o motivo do convite pro café da manhã? - eu pigarreie levemente e então o encarei.

- Sim, mas antes...vamos aos pedidos. Você está atrasada, lembra? - eu revirei os olhos e Poncho fez um sinal com a cabeça para logo em seguida a atendente extremamente simpática, para o meu gosto, vir com um sorriso de orelha à orelha até nós. 

- Bom dia, senhor Herrera..no que posso servi-lo hoje? - bem, “até nós” me pareceu errado. Até Alfonso, como sempre. Eu ainda tinha que lidar com isso. Era demais.

- Bom dia. Um café simples e puro para mim e um cappuccino para minha..- ele pigarreou e me encarou rapidamente. Eu tratei de desviar o meu olhar do dele, fingindo que não havia percebido o que ele estava prestes a falar - para Anahí. - a atendente me olhou e seu sorriso se desfez na hora.

- Bom dia, Monique. Como está, querida? - eu sorri sinicamente 

- Bem, obrigada senhora Herrera...- seu mau humor era visível. Monique era uma jovem muito bonitinha em seus 18 anos, mas seu atrevimento para cima de Alfonso sempre me deixou louca, ainda mais quando ela forçava aquele sotaque francês fajuto dela. Só ela não percebia o quanto soava ridícula e  confesso que naquele momento não me senti nem um pouco incomodada, em meses, por ser chamada por meu nome de casamento, afinal. - mas alguma coisa, senhor? - ela voltou-se para Alfonso novamente com aquele ar falsamente angelical que me perturbava.

- Pode trazer macarrons e croissants de chocolate também...

- Eu estou de dieta. Para mim, só o café.

- Traga o que pedi, por favor Monique. - ele passou por cima da minha palavra e sorriu para a atendente que sentiu-se nas nuvens e saiu dali saltitando. Eu bufei.

- Eu odeio quando faz isso... 

- Isso o que, querida? - eu fechei os olhos por dois segundos antes de falar entre dentes. 

- Já disse para não me chamar assim. E eu odeio quando toma as decisões por mim..não posso me dar ao luxo de escolher o que quero, Alfonso? 

- Por favor, não comece com seu drama. Você sempre toma cappuccino, Anahí... - ele revirou os olhos

- Mas eu não quero comer, oras ! E você passou por cima da minha palavra diante daquela mocinha que te idolatra. - eu fechei a expressão e o vi abrir um leve sorriso.

- E isso te incomoda? 

- Muito..- eu bufei.

- Hum...te incomoda eu passar por cima da sua palavra ou a mocinha que me idolatra? - seu sorriso cafajeste se abriu ainda mais e a raiva tomou conta de mim.

- Alfonso, por favor ! Você sabe do que estou falando...não vou te responder isso. - eu cruzei os braços - agora anda, me fala porque precisa falar comigo. - ele então desfez o sorriso e suspirou.

- Nós temos algumas pendências a resolver...

- Podemos resolver isso na próxima audiência, quando entrarmos em um acordo e finalmente assinarmos o divórcio - ele bufou impaciente

- Não se trata disso, Anahí. Nós precisamos conversar sobre o casamento de Maite e Christian, somos os padrinhos e precisamos nos acertar. - eu então descruzei os braços e relaxei um pouco os ombros. Ele estava certo. Nossos amigos não poderiam ser mais afetados do que já foram por conta de nossos problemas. 

- Tudo bem... Nós temos que nos acertar em relação a isso.- ele assentiu

- Precisamos pensar em alguns detalhes. Precisamos comprar os presentes e organizar uma festa de despedida de solteiro para os dois. - eu assenti escutando o que ele tinha pra dizer - você sabe que não sou muito bom nisso...e - ele suspirou alto - preciso da sua ajuda... - e então foi a minha vez de sorrir vitoriosa.

- Você precisa da minha ajuda, querido? - ele me encarou e seus olhos estavam raivosos. Meu sorriso se alargou - não tem problema. Se você precisa da minha ajuda, é isso que vou fazer...mas antes..

- Antes o que, Anahí? - eu então aproximei meu corpo da mesa, e me debrucei sobre ela para chegar mais perto de Alfonso. 

- Bom, antes você precisa me pedir... - minha voz saiu mais baixa e rouca. Alfonso me implorando ajuda. O homem mais independente e auto confiante do mundo...eu não perderia essa chance. 

- Você está sendo infantil.. - ele esbravejou e eu fiz a minha encenação dramática.

- Bom, se não quer pedir..tudo bem. - dei de ombros e então eu me levantei da mesa e peguei minha bolsa - eu vou indo..sabe onde me encontrar se mudar de idéia. - eu pisquei para ele e comecei a andar,mas logo fui interrompida, como eu já esperava. Alfonso levantou e agarrou meu pulso me fazendo parar. Eu estava de costas quando senti seu corpo aproximar-se do meu e sua respiração tocar meu ouvido.

- Você pode parar com a encenação, por favor? - eu sorri

- Você sabe o que dizer...vamos lá, não vai ser difícil...- seu corpo encostou-se no meu e por um instante eu vacilei. Sua mão passou a agarrar meu braço e eu tive que agradecer por ela não me deixar cair. O poder que Alfonso exercia sobre meu corpo era gigantesco. Após alguns segundos sua voz soou em meu ouvido.

- Anahí, você poderia me ajudar? Eu preciso de você... - eu fechei os olhos. Escutar aquela ultima frase não estava em meus planos. Seu nariz roçou em minha orelha e eu me arrepiei por completo - por favor... - seu sussurro foi quase inaudível.

Eu então me virei e encarei seus olhos. Nossos corpos estavam perto demais. Sua mão me tocava e mais do que isso, apertava meu braço de uma maneira possessiva. Eu passei a língua em meu próprios lábios, encarando o rosto de Alfonso tão próximo do meu. Se eu chegasse alguns centímetros minha boca para frente, talvez eu pudesse apenas tocar seu lábios com os meus e sentir seu gosto novamente...

- Senhor e senhora Herrera, com licença. Os pedidos estão prontos. - e não era pra odiar essa atendentezinha de quinta? Puta que pariu. Eu praguejei mentalmente e então senti Alfonso se afastar de mim e me encarar. Ele pigarreou - e então, Anahí? - sua voz voltou a sair firme e fria como sempre. Eu suspirei

- Eu vou te ajudar, Alfonso. - ele assentiu ao ouvir minhas palavras. O sabor de vitória já não me dominava mais diante daquela situação. O desapontamento tinha ganhado. 

- Vamos tomar nosso café então... - ele fez menção para que eu passasse e voltasse a me sentar. Eu continuei em pé no mesmo lugar olhando pra ele e pensando em tudo o que havia acontecido,ou o que poderia ter acontecido, alguns segundos atrás.

Acabei me dando por vencida e voltando ao meu lugar, sem antes deixar de fuzilar a doce Monique com o meu pior olhar e que fez com que ela prontamente desfizesse o sorriso vitorioso e saísse correndo depois de deixar nossos pedidos na mesa. 

Até logo...Where stories live. Discover now